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Merkel reafirma política alemã de abertura aos refugiados

Mesmo depois dos vários ataques dos últimos dias na Alemanha, a chanceler germânica recusa reverter a política alemã em relação à imigração e aos requerentes de asilo. Mas anunciou medidas para lidar com migrantes radicalizados.

Reuters
28 de Julho de 2016 às 16:38
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Angela Merkel não abdica da política implementada na Alemanha em resposta às crises migratória e dos refugiados. Depois dos vários ataques que ocorreram no país na última semana, a chanceler germânica viu-se obrigada a interromper as férias para realizar, mais cedo do que o habitual, a conferência de imprensa de Verão.

 

Em Berlim, Angela Merkel afirmou que os atacantes "quiseram minar o nosso sentido de comunidade, a nossa abertura e a nossa vontade de ajudar as pessoas necessitadas. Devemos rejeitar isso firmemente".

 

Nos últimos dias ocorreram pelo menos quatro ataques em solo alemão, causando 13 mortes e um clima de tensão e receio na sociedade germânica. Apesar dos relatos "chocantes", Merkel fez questão de frisar que estes ataques não significam que as autoridades alemãs tenham perdido o controlo da situação.

 

Fortemente criticada pela política de portas abertas relativamente aos refugiados, que fez da Alemanha o país europeu que, com larga diferença, mais requerentes de asilo recebeu em 2015 e 2016, Merkel admitiu, porém, que estão a ser preparadas medidas para responder ao problema.

 

A governante referiu-se a um plano que visa reduzir as barreiras à deportação de requerentes de asilo não aceites e ainda a criação de um "sistema de alerta prévio" com o objectivo de detectar atempadamente fenómenos de radicalização entre os migrantes. Dois dos ataques em questão, os que foram levados a cabo na Baviera, foram-no por requerentes de asilo. O ataque suicida à bomba de domingo em Ansbach foi perpetrado por um cidadão sírio a quem havia sido negado asilo apesar de ter sido aceite temporariamente no país.

 

Já o ataque num comboio em Wuerzburg, em 18 de Julho, com recurso a um machado foi executado por um requerente de asilo afegão. Três dos quatro ataques foram executados por requerentes de asilo, com dois deles a reclamarem fidelidade ao autoproclamado Estado Islâmico (EI). Merkel afiança que é preciso fazer todos os possíveis para "que tais ataques voltem a ocorrer".

 

No entanto, o ataque mais mortífero foi executado por um jovem alemão admirador do homicida norueguês Breivik. Para Merkel "os tabus da civilização estão a ser quebrados", referindo-se aos recentes ataques em França, Turquia, Estados Unidos e Bélgica.

 

Merkel cada vez mais isolada

 

A política flexível em matéria de refugiados adoptada pela chefe do governo alemão está a deixar Merkel cada vez mais pressionada quer pelos partidos da oposição quer pelo seu próprio partido. Esta quinta-feira o ministro do Interior da Baviera (membro do CSU, partido-irmão bávaro da CDU de Merkel), Joachim Herrmann, lamentava que "o terrorismo islâmico tenha desafortunadamente chegado à Baviera", o que o levou a pedir o reforço das restrições à política alemã de atribuição de asilo.

 

"Aguardamos por uma acção urgente do nosso governo federal e da Europa, é tempo de agir", concluiu Herrmann. Como escreve no Politico.eu o jornalista Konstantin Richter, o envelhecimento da população alemã explicou, para além do lado humanitário, as opções de Angela Merkel em matéria de refugiados, permitindo a entrada de mão-de-obra mais jovem no país.

"Merkel pensou que os alemães iriam entender. Mas não entenderam", resume Konstantin Richter que aponta ainda os sinais de alguma fragilidade económica do país – exemplificando com os casos da Volkswagen e do Deutsche Bank – associados ao medo da violência como factores que contribuem para o isolamento de Merkel.

 

Se a líder da CDU tem enfrentado crescente oposição no seio do seu próprio partido, uma vez que tendencialmente o eleitorado conservador se tem oposto à política da chanceler sobre refugiados, é também cada vez maior a influência do partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), que surge em crescendo nas sondagens tirando partido do descontentamento latente na sociedade alemã relativamente à crise dos refugiados.  

 

Depois do acordo alcançado entre Bruxelas e a Turquia para limitar a chegada de requerentes de asilo a solo europeu, mesmo o eleitorado de esquerda que apoiava a política de Merkel sobre refugiados se afastou da chanceler. É por isso que Merkel, segundo a interpretação de Richter, pareça agora "fraca e vulnerável", algo impensável tendo em conta os inéditos níveis de popularidade de há dois anos.

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