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Durão Barroso rejeita que Europa esteja "em declínio"
O ex-presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, rejeitou hoje que o projecto da Europa esteja em declínio, contrapondo que quem está em declínio são os "os políticos e os intelectuais que perderam a esperança".
"Há europeístas hoje em Bruxelas que dizem que antes é que era a idade de ouro na Europa: a pequena europa dos seis países fundadores, que era mais confortável. Mas essa Europa era mais importante do que a de hoje? Nem pensar", disse Durão Barroso no discurso de aceitação do Doutoramento Honoris Causa que recebeu da Universidade Europeia de Madrid.
Em 1992, acrescentou o ex-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, na Europa pontificavam políticos como Jacques Delors, François Mitterrand, Felipe González ou Helmut Kohl.
"Mas éramos apenas 12, já com Espanha e Portugal desde 1986. E alguém pensa que a Europa a 12 tinha mais influência no Mundo do que a actual Europa dos 28? Hoje temos uma representação continental", disse Durão Barroso perante um auditório cheio de professores e alunos da universidade madrilena.
Nos anos 1980, afirmou, metade da Europa estava sob o totalitarismo comunista e alguns países Bálticos eram uma pequena parte da União Soviética, que hoje são países livres e partilham os mesmos valores da Europa.
E nos anos 1970, "Espanha e Portugal eram ditaduras que nem sequer poderiam fazer parte da União".
"Por isso como se pode dizer que a Europa está hoje em declínio? Em declínio estão os políticos e os intelectuais que perderam a esperança. Em declínio estão alguns que seguem políticas nacionalistas, no mau sentido da palavra", afirmou Durão Barroso.
Durão Barroso, que esteve na presidência da Comissão Europeia entre 2004 e 2014, fez uma resenha dos "tempos difíceis" com que teve de lidar, sobretudo os anos de crise.
"Hoje é comum a palavra crise. É a primeira palavra que encontram quando buscam no Google por União Europeia. Uma crise financeira e de valores, que começou noutras partes do mundo, mas que teve graves implicações na construção europeia", disse.
Mas, para Durão Barroso, a Europa mostrou resiliência e os países mais afectados, entre os quais Portugal e Espanha, conseguiram "recuperar a confiança perdida, graças ao compromisso com as reformas necessárias".
"A Europa mostrou a sua extraordinária resiliência, uma qualidade importante. É uma palavra que vem da Física: é a capacidade dos materiais recuperarem a sua forma original após um grande stress. E da psicologia: quando uma pessoa acaba por recuperar a sua capacidade e a sua vida a seguir a um grande trauma. A Europa mostrou a sua resiliência contra os profetas do pessimismo, o Glamour Intelectual do Pessimismo", disse Barroso.
O ex-presidente da Comissão Europeia recebeu hoje um doutoramento 'honoris causa' da Universidade Europeia de Madrid, "pela liderança e intenso trabalho" do português em Bruxelas.
"Considerado um dos principais políticos da história recente, Durão Barroso trabalhou a favor da cidadania no processo de integração europeia e exerceu um importante papel mediador a favor da paz e da conciliação dos povos", indicou a instituição.