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Di Maio: "eu primeiro-ministro ou ninguém". Salvini responde: "então ninguém"

A menos de uma semana de o presidente Mattarella iniciar o período de consultar aos partidos, são mais as dúvidas do que as certezas quanto à possibilidade de ser encontrado um candidato a primeiro-ministro capaz de recolher apoio maioritário. Hipótese de novas eleições ganha força.

Max Rossi/Reuters
28 de Março de 2018 às 14:32
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Quase um mês depois das eleições prevalece o bloqueio político em Itália, sem que surjam sinais de que poderá ser encontrada uma solução de governo. Como tal, o presidente Sergio Mattarella já está a considerar o que fazer face ao provável bloqueio aquando do momento de ouvir os partidos, avança esta quarta-feira, 28 de Março, o diário La Stampa.

Os sinais positivos do acordo entre o Movimento 5 Estrelas de Luigi Di Maio e a Liga de Matteo Salvini para a divisão das presidências das duas câmaras parlamentares (Câmara dos Deputados e Senado) continua sem correspondência num compromisso sobre quem deve liderar o governo.

Di Maio considera que é a ele que cabe ser primeiro-ministro depois de o 5 Estrelas ter sido o partido mais votado nas legislativas de 4 de Março. Por sua vez, Salvini defende que a coligação de direita (Liga, Força Itália de Silvio Berlusconi e Irmãos de Itália de Giorgia Meloni) foi a força mais votada pelo que deve ser esta a indicar um candidato à chefia do governo. Certo é que nenhum governo poderá ser formado sem os deputados do 5 Estrelas ou da Liga.

As posições entretanto extremaram-se. Primeiro foi Luigi Di Maio a garantir que "serei eu primeiro-ministro ou então ninguém", ao que Salvini reagiu garantindo que "então ninguém". Em declarações feitas no programa Porta a Porta da RAI, Salvini assumiu mesmo que, nesta altura, a probabilidade de novas eleições se fixa em 50%.

Relegado para uma posição secundária depois de o Força Itália ter ficado atrás da Liga, Berlusconi permanece, porém, no centro das atenções. O 5 Estrelas, criado por Beppe Grillo para combater e denunciar a corrupção ligada à governação do antigo primeiro-ministro, recusa integrar ministros do Força Itália num futuro governo. Porém, Salvini já avisou que Di Maio não pode continuar com uma postura inflexível e garante que se o partido anti-sistema insistir na exclusão do Força Itália não haverá possibilidade de um acordo de governo entre a direita e o 5 Estrelas.

Mattarella baralha possibilidades

Na semana passada, a rejeição do 5 Estrelas a Paolo Romani do Força Itália, por já ter sido condenado por corrupção, levou à eleição de uma segunda escolha dentro do partido de Berlusconi, que não queria abdicar de Romani. Acabou por ser Elisabetta Casellati, também do FI, a ficar com a presidência do Senado, enquanto a liderança da Câmara dos Deputados ficou para Roberto Fico, do 5 Estrelas.

Matteo Salvini mostrou de forma clara ser ele a figura prevalecente à direita, não aceitando inviabilizar o acordo de divisão das lideranças das câmaras parlamentares com o 5 Estrelas, levando Berlusconi a abdicar da sua escolha inicial para o Senado. Di Maio mostrou-se satisfeito com a "lealdade" demonstrada por Salvini, o que parecia indiciar boas perspectivas para um acordo de governo. No entanto, a inflexibilidade de Di Maio e Salvini sobre quem tem maior legitimidade eleitoral para ser primeiro-ministro mantém distante um cenário de novo governo em Itália.


Entretanto, Berlusconi já se mostrou a favor de um acordo governamental da direita com o 5 Estrelas, mas também o antigo primeiro-ministro quer Salvini como líder do executivo. Berlusconi não está disposto a abdicar de ministros do Força Itália, o que os "grillistas" rejeitam.

Uma sondagem do instituto Piepoli hoje publicada mostra que um em cada três italianos quer um governo 5 Estrelas com a Liga, com os italianos a preferirem Di Maio como primeiro-ministro do que Salvini.

O La Stampa escreve que Mattarella, que inicia na próxima terça-feira a primeira ronda de auscultação aos partidos, já terá decidido que fará uma segunda ronda. O presidente estará também inclinado a não propor nenhum candidato à liderança do governo até que surjam sinais claros de que existe uma solução capaz de obter apoio maioritário no parlamento.

Como alternativas surgem a hipótese de um governo de iniciativa presidencial, cenário que Mattarella coloca de parte, pelo menos no imediato, ou um eventual acordo do 5 Estrelas com o PD, possibilidade afastada pela ala mais ortodoxa do partido liderado por Di Maio. Como última alternativa, embora não improvável, surge a convocação de novas eleições. 

Os líderes europeus olham com apreensão para o que se passa em Itália. Apesar de não fazerem comentários às questões iminentemente internas da política transalpina, em Bruxelas receia-se que quando for altura do Conselho Europeu de Junho, que tem na agenda a discussão da reforma da Zona Euro, Roma continue sem ter um novo primeiro-ministro, o que poderá adiar a discussão ou fragilizar a posição italiana na mesma.

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