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Turismo ganha jovens à construção civil por ser “fixe” e valorizador

A restauração e a hotelaria estão a ganhar a corrida à construção civil em Portugal no mercado de trabalho juvenil, que olha para o sector do turismo como algo “fixe” e valorizador, explica o sociólogo João Teixeira Lopes.

Pedro Zenkl/Correio da Manhã
25 de Agosto de 2018 às 09:34
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Licenciado em Sociologia (1992), mestre em Ciências Sociais (1995), doutor em Sociologia (1999) e professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, João Teixeira Lopes falou à agência Lusa de uma geração "capaz de mudar o mapa do trabalho em Portugal".

 

Partindo do facto de o desemprego juvenil em Portugal "rondar os 20%", o sociólogo citou a "maior facilidade em emigrar" como um dos pontos de fuga a uma profissão, a construção civil, que representa uma "híper desvalorização social do trabalho no sector", pois é "um trabalho pesado, manual e precário".

 

"Se olharmos para o universo da construção civil em Portugal encontramos muitas empresas pequenas que operam no âmbito da subcontratação e que têm uma grande vantagem para as grandes obras, que é a flexibilidade, encontrando rapidamente mão-de-obra adequada, mas cuja angariação é feita pelo conhecimento, não por critérios impessoais", disse o académico.

 

Em contraponto, para os jovens, há o turismo e a restauração, que "oferecem hoje salários equivalentes, com uma valorização social diferente e que, apesar de ser também um trabalho duro e tendencialmente precário, está num ambiente cosmopolita", afirmou.

 

Enfatizando o contexto promotor do "conhecer pessoas de diferentes nacionalidades, com a possibilidade de receber gorjetas", João Teixeira Lopes acrescenta que os jovens gostam de "ser reconhecidos pelos seus pares como alguém que está num emprego 'fixe'".

 

E com o turismo como "um indicador de modernidade, de cosmopolitismo", o sociólogo concorda estar a emergir uma "geração capaz de mudar o mapa do trabalho em Portugal".

 

"Absolutamente! Em particular se continuarmos a ser um país em que as exportações crescem graças ao turismo, que já representa um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) e a tendência é para crescer", vincou.

 

Concordando com o recuperar da formação profissional em Portugal na área da construção para uma "qualificação que é essencial", numa profissão em que há uma "cultura de desvalorização do risco baseada numa certa ideia de masculinidade e do que é ser um trabalhador a sério na construção civil", o académico defende que também os empregadores terão de se "modernizar".

 

"Para haver essa qualificação, terá de haver do lado dos empregadores um compromisso, porque procuram mão-de-obra nómada, sem grande formação", disse.

 

E prosseguiu: "Isso exige uma mudança do paradigma da relação de trabalho e salarial, é uma revolução do que existe hoje, pois também os empregadores precisam de formação", sustentou.

 

Olhando para o futuro imediato, o sociólogo não vê, contudo, "como possível este caminho em Portugal", por força de uma "fortíssima bolha especulativa imobiliária que vai ter fim não se sabe quando, se para o ano, se daqui a dois ou três anos, com um impacto muito negativo na construção civil".

 

"A ideia de que este sector aguenta mal as crises afasta também as pessoas e lógicas de investimento, estabilização ou construção de um caminho diferente", concluiu João Teixeira Lopes.

 

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