Notícia
Só um terço são trabalhadores por conta própria de livre vontade
Dados do INE mostram que há quase 800 mil trabalhadores por conta própria no país, mas que destes só cerca de um terço o é por livre escolha. E há mesmo 16,4% que têm o são por necessidade e esses têm projectos mais pequenos e criam menos emprego.
Em Portugal o número de trabalhadores por conta própria (TCP) tem vindo a diminuir nos últimos anos e apenas um terço está nessa situação por livre escolha, sendo que há mesmo 16,9% que foram obrigados a isso, mostra um inquérito feito pelo INE e cujos resultados foram publicados a 15 de Janeiro.
Segundo o instituto, o número de trabalhadores por conta própria no segundo trimestre de 2017 representava cerca de 16,9% da população empregada (20,9% em 2011), o equivalente a 806 mil trabalhadores. O valor compara com 14,6% na média da União Europeia. Neste grupo há, contudo, uma grande heterogeneidade de situações. Por exemplo, explica o INE, só 36% (290,4 mil indivíduos) o são por escolha própria, isto é, optaram por essa via à procura das vantagens que lhe são associadas, como ser dono do negócio, ter autonomia para tomar decisões sobre o desenvolvimento do projecto, ou decidir o próprio horário; enquanto 16,4% (ou 132,4 mil pessoas) viram-se forçados a trabalhar por conta própria devido às adversidades da economia.
Os autores notam que "do ponto de vista das políticas de emprego, o trabalho por conta própria é encarado como um motor de empreendedorismo, conduzindo à criação de postos de trabalho e de inovação", para evidenciar que, no entanto, os dados agora analisados revelam a importância de ter em conta diferentes situações, como a razão pela qual se é TCP, ou se, de facto, alguns deles são ‘falsos" trabalhadores por conta própria.
Nesta dimensão, a análise aponta para resultados pouco claros. Por um lado, os autores escrevem que entre os trabalhadores por conta própria sem pessoas ao seu serviço (72,5% do total ou 585 mil) "quase todos (98,2%) podem ser classificados como economicamente não dependentes, isto é, referiram que têm mais do que um cliente e nenhum em posição dominante [responsável por mais de 75% das receitas] e que não são os clientes (nem outra parte ou circunstância) quem determina o horário de trabalho". Mas por outro lado, só 42% destes TCP isolados é que afirma ter tido 10 ou mais clientes e nenhum com posição dominante (contra 82% nos que têm pessoas ao serviço) e só 55,9% é que diz decidir o seu horário de trabalho (contra 84% nos que têm pessoas ao serviço).
Mais autónomos mas menos satisfeitos
O Instituto Nacional de Estatística inquiriu os trabalhadores por conta própria (TPC) para conhecer a sua realidade. Eis alguns dados.
• Dos 806 mil TCP no segundo trimestre de 2017, 27,5% exerciam a sua actividade com pessoas ao serviço, enquanto 72,5% o faziam como isolados (585 mil).
• A prevalência de TCP aumenta com a idade e é particularmente elevada na agricultura que emprega 29,4% dos TCP do país.
• Mais de metade dos TCP (53%) dizem não estarão dependentes de clientes (ou seja, têm 10 ou mais clientes e nenhum delas assegura 75% ou mais do rendimento); e este valor sobe para 82,1% quando se consideram apenas os TCP com pessoas ao serviço.
• As principais dificuldades são períodos sem trabalho (15,7%), clientes que pagam tardo ou não pagam (13,8%). Quase 20% (19,1%) diz não ter qualquer dificuldade, um valor que no caso do TCP sem pessoas ao serviço sobe para 25,1%.
• 54,5% dos trabalhadores por conta de outrem diz estar razoavelmente satisfeita em termos profissionais ou até totalmente satisfeita (33%), o que é significativamente mais que os 40,6% e 22,1% registados entre os TCP.
• Ainda assim, só 2,4% dos TCP gostariam se de trabalhar por conta de outrem, o que leva o INE a considerar que "os benefícios percepcionados sobre a maior autonomia profissional no trabalho por conta própria parecem sobrepor-se à menos satisfação profissional revelada".
• 17,2% dos trabalhadores por contra de outrem gostariam de trabalhar por conta própria, e desses a maioria não o fez pela insegurança financeira associada (43,4%) e por dificuldade em obter financiamento (31,8%).