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Portugueses valorizam mais a segurança laboral do que o salário

Embora no local de trabalho se mostrem mais insatisfeitos com a dimensão remuneratória, o tipo de contrato laboral é o aspecto mais valorizado pelos portugueses quando avaliam um emprego. São pistas para o primeiro-ministro que elegeu a qualidade do emprego como a prioridade de 2018.

Bruno Simão
14 de Janeiro de 2018 às 14:40
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A segurança laboral é a questão mais valorizada pelos portugueses quando olham para um emprego. Ao contrário do que se poderia esperar, o salário só aparece em segundo lugar.


Estas conclusões resultam de um inquérito feito pela Aximage para o Negócios e Correio da Manhã e são especialmente pertinentes depois do primeiro-ministro ter dito, na sua mensagem de Natal, que a qualidade do emprego seria a aposta do Governo para 2018. "Não [queremos] apenas mais, mas sobretudo melhor emprego. Essa é a prioridade que definimos para o ano de 2018". 

No seu discurso, António Costa não explicou, ao certo, o que é, para si, um emprego melhor, mas avançou com alguns critérios entre os quais não consta a segurança do vínculo laboral: "Emprego digno, salário justo, oportunidade de realização profissional são condições essenciais para os jovens perspectivarem o seu futuro aqui connosco, em Portugal", disse o primeiro-ministro no dia 25 de Dezembro.

Mas se o primeiro-ministro não clarifica o que é um emprego melhor, a sondagem da Aximage dá algumas pistas sobre isso: 35% dos portugueses dizem que o tipo de contrato laboral é "o aspecto mais importante num emprego". O salário só surge em segundo lugar, recolhendo a preferência de 31,5% dos inquiridos. Logo a seguir vem a realização profissional (27,2%). Quanto ao horário, apenas 2,9% o identificam como a questão mais importante num emprego.

O retrato muda quando a pergunta é sobre os empregos em concretos que as pessoas têm. Q
uase metade (47%) dos trabalhadores dizem que o salário é a questão que os deixa mais insatisfeito no trabalho. E aqui o tipo de contrato só surge em quarto lugar, sendo referido apenas por 7,7% dos empregados.

Parece contraditório, mas não é assim tanto. A explicação está em parte na amostra. Enquanto à primeira pergunta respondem não só trabalhadores, mas também desempregados, reformados e estudantes, já a segunda pergunta só pode ser respondida por quem tem um emprego. Quer isto dizer que a precariedade laboral preocupa mais quem não trabalha do que propriamente os empregados? Só em parte. É que, fazendo fé nas estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE), quase 80% dos trabalhadores por conta de outrem têm um contrato sem termo, ou seja estão no quadro da empresa. Significa isto que o problema da precariedade no trabalho coloca-se apenas a cerca de 20% dos empregados, ao passo que o salário é uma questão pertinente em todos os postos de trabalho.

Entre os empregados, o horário destaca-se também pela negativa: 21% dos trabalhadores dizem que esse é o principal factor de insatisfação. Segue-se a realização pessoal, neste caso a falta dela.

A importância da ideologia

A Aximage desagrega ainda as respostas dos inquiridos por preferências partidárias. E as conclusões são curiosas: quanto mais à esquerda mais os inquiridos se preocupam com a questão da precariedade laboral. Quanto mais à direita, maior a preocupação com a realização pessoal.

Enquanto apenas 24% dos eleitores do PSD e CDS indicam o contrato de trabalho como o aspecto mais importante num emprego, esta percentagem sobe para 36% entre os eleitores do PS, BE e PCP e escala para 44% quando se consideram apenas estes dois últimos partidos. Não espanta: são precisamente estes dois partidos os que mais batem na tecla da precariedade laboral.


Porém, ao nível da realização profissional, parece passar-se o oposto. Enquanto só 19% dos eleitores do Bloco e do PCP elegem esta questão como a mais importante quando se pensa num emprego, esta percentagem sobe para 28% quando se inclui o PS e para 36% quando apenas se consideram os eleitores do PSD e do CDS.



Estas tendências confundem-se quando se restringe o universo apenas aos trabalhadores e se fala do seu emprego em concreto. Ainda assim, o vínculo laboral continua a ser uma preocupação maior para os trabalhadores mais à esquerda do que para os restantes. 

Em 2018, espera-se que a discussão política em torno da legislação laboral suba de tom. Este é um domínio onde a geringonça não se tem entendido, com o PS a travar as ambições do Bloco de Esquerda e PCP. A mensagem de António Costa, a indisponibilidade do Governo em se comprometer com as confederações patronais no sentido de não mexer na legislação laboral e a crescente pressão do PCP e Bloco parecem indicar que haverá novidades em 2018. 

E se é verdade que os dois últimos anos apresentam resultados muito encorajadores ao nível da criação de emprego, com alguma recuperação das remunerações, o mesmo não se pode dizer sobre a precariedade laboral, que se mantém em níveis muito elevados.


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