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"Não vale a pena negar. O que está lá escrito aconteceu"

António Martins da Cruz não tem dúvidas quanto à veracidade do conteúdo dos documentos revelados pelo site WikiLeaks. Em entrevista ao "i", diz que "a procissão ainda só vai no adro".

16 de Dezembro de 2010 às 09:09
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O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Durão Barroso e antigo assessor diplomático do Presidente da República não tem dúvidas quanto à veracidade do conteúdo dos documentos revelados pelo site WikiLeaks. Em entrevista ao “i”, António Martins da Cruz diz “a procissão ainda só vai no adro”.

“Alguns portugueses apressaram-se a negar o conteúdo dos telegramas, mas fizeram mal. Não vale a pena negar. O que está lá escrito aconteceu mesmo e é verdade”. É de forma directa que o diplomata e antigo-MNE, Martins da Cruz, assume a veracidade do teor dos documentos da diplomacia norte-americana, que têm sido divulgados pela imprensa a partir do site WikiLeaks.

O ex-assessor diplomático de Cavaco Silva não tem dúvidas de que “os telegramas correspondem a conversas tidas em determinados momentos. Se dizem que houve conversas é porque houve mesmo. Este tipo de mensagens entre o embaixador e o governo não pode ter falhas. Pode haver um engano em cada 10 mil”, garante em entrevista ao “i”.

Para Martins da Cruz, “era preferível que os documentos não tivessem sido divulgados, porque é uma violação do segredo de Estado. Mas já que foram não se deve impedir a imprensa de os analisar”. E deixa um aviso: parece-me que a procissão ainda só vai no adro. Pelo que sei, ainda só foram divulgados 10% dos documentos”.

O diplomata recomenda ainda aos governos norte-americano e português que tirem a lição do caso WikiLeaks que, na sua opinião, “põe em causa a qualidade de informação que o embaixador transmite ao seu governo”. “Esse tipo de informação tem de ficar exclusivamente entre os dois. O Departamento de Estado norte-americano e também o Ministério dos Negócios Estrangeiros português devem rever os seus processos de comunicação cifrados. Se julian Assange conseguiu aceder aos documentos, quem sabe se russos, chineses ou até norte-coreanos não conseguem também”.
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