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O bilionário que abandonou a Tencent para dar dinheiro aos professores

Em 2013, a empresa estava a crescer com extrema rapidez e eu ficava a imaginar o que tinha que fazer para saltar fora daquele veículo em alta velocidade", diz o fundador da Tencent.

Bloomberg
22 de Setembro de 2018 às 20:00
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Para um país que está a produzir bilionários a um ritmo alucinante, o campo da filantropia na China é surpreendentemente insignificante, em parte porque o Partido Comunista tem uma antiga desconfiança em relação a organizações não governamentais.

 

Esta tendência está a começar a mudar à medida que um grupo de bilionários chineses, incluindo Jack Ma, divulgam planos para projectos de caridade ambiciosos. Entre eles está Charles Chen Yidan, um dos cinco fundadores da maior empresa de internet do país, a Tencent Holdings. Yidan foi director administrativo da Tencent e ajudou a criar a sua instituição de caridade interna. Em 2013, reformou-se para dedicar mais tempo à filantropia, concentrando-se sobretudo na educação.

Em Hong Kong, no sábado, anunciou os vencedores deste ano do Yidan Prize, um prémio anual de 60 milhões dólares de Hong Kong (7,6 milhões de dólares) concedido a pessoas que estão a revolucionar a educação de forma sustentável. Os prémios recompensam um professor e um investigador e são a peça central da fundação beneficente de Yidan, cujo valor é de 2,5 mil milhões de dólares de Hong Kong.

Os vencedores deste ano foram Larry Hedges, professor da Universidade Northwestern, nos EUA, que estuda o uso de estatísticas na política educacional, e Anant Agarwal, fundador da plataforma de aprendizagem on-line edX.

Yidan falou com a Bloomberg News sobre filantropia e a importância dos colegas de escola.

Porquê educação?

O meu pai era de uma zona rural, foi a primeira pessoa da família a ir à universidade. A minha avó insistiu. A educação transformou a vida do meu pai, que, por sua vez, transformou a minha. A China tinha um exame universitário  nacional. Se não corresse bem, não entraria numa boa universidade. Havia uma pressão intangível da sociedade, da família e dos professores de que esse exame era vital. Agora, a oportunidade de entrar na universidade é muito mais acessível, mas naquela altura parecia o único caminho para ter uma boa vida. Se conseguisse uma formação numa boa instituição, o Estado dar-lhe-ia um emprego. Essa política de emprego garantido foi suspensa em 1993, ano em que eu me formei. Mas antes disso, se fosse de uma zona rural, a faculdade era a única maneira de mudar de vida.

Era um bom aluno?

Coloquei muita pressão em mim mesmo. As minhas matérias preferidas eram matemática e chinês. Inglês era a matéria em que eu era mais fraco. As minhas notas em inglês eram regulares, mas não era a minha matéria preferida. A escola não se resume ao que os professores ensinam. Também tem a ver com os colegas, as amizades. Eu montei a Tencent com os meus amigos da escola, eles foram meus colegas no ensino secundário e na universidade. Também foi na universidade que conheci a minha esposa.

O que o levou a dedicar-se à filantropia a tempo inteiro?

Não foi uma decisão fácil. Eu admito que o crescimento da empresa superou em muito as expectativas dos fundadores. No início, queríamos apenas ter uma presença na internet e fazer bem as nossas operações. Íamos sondando o caminho. Aquele era o meu segundo emprego. Mas foi um período em que a internet estava prestes a explodir na China. Em 2013, a empresa estava a crescer com extrema rapidez e eu ficava a imaginar o que tinha que fazer para saltar fora daquele veículo em alta velocidade. Sabia que teria um determinado número de anos antes de me reformar em que os meus níveis de energia ainda seriam bons e nos quais eu poderia dedicar tempo para o que era importante para mim – a minha família, a filantropia e a educação. A minha esposa disse-me para ouvir o meu coração. E eu segui o conselho dela. Ela trabalhou para sustentar a nossa família nos primeiros anos e foi ela quem me encorajou a participar na criação da Tencent.

 

Com tantas causas, como escolheu uma delas?

Senti que há duas coisas importantes quando estamos a dar. Uma é o mecanismo e outra é o tempo. O que faz uma boa educação? Pense nisso, a internet é uma plataforma, as redes sociais são uma plataforma. Não tenho uma ideia sobre que tipo de educação é a melhor, mas acredito nos mecanismos. O objectivo deste prémio é atrair pessoas e atenção. A recompensa é mais do que o prémio, é a plataforma e oferece muitas oportunidades de colaboração.  


Mais chineses vão seguir o seu exemplo com a filantropia?

Sim, penso que vai aumentar. A cultura tradicional chinesa dá muita importância à filantropia.


Texto original: The Billionaire Who Quit Tencent to Pledge His Money to Teachers

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