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Livrarias de bairro desistem de vender manuais escolares por causa das regras da Porto Editora

Algumas livrarias de bairro vão desistir de vender manuais escolares e outras já pediram empréstimos bancários, uma vez que a Porto Editora que este ano exige um número mínimo de manuais.

03 de Agosto de 2018 às 18:10
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Algumas livrarias de bairro vão desistir de vender manuais escolares e outras já pediram empréstimos bancários para conseguir fazer encomendas à Porto Editora que este ano exige um número mínimo de manuais.

Mais de mil papelarias de todo o país já aderiram à plataforma criada pelo Ministério da Educação para distribuir manuais gratuitos aos alunos do 1.º ao 6. ano, mas algumas estão a ponderar desistir.

A Porto Editora decidiu este ano estabelecer quantidades mínimas, por título, para aceitar pedidos, sendo que os livreiros só conhecem as regras no ato da encomenda.

"Em alguns casos são quatro manuais, noutros são seis", contou à Lusa Paulo Monte, dono da papelaria Agrafe Azul, que fica em frente à Escola Básica de Miraflores, em Algés, concelho de Oeiras.

Para as livrarias mais pequenas a medida pode significar fechar as portas, alerta Paulo Monte.

No caso de se aplicar a regra de seis livros por título, uma livraria pode ser obrigada a encomendar 60 manuais para vender apenas dez livros que foram pedidos por um cliente, ficando com 50 livros em 'stock'.

Paulo Monte lembra que esta situação multiplicada pelas encomendas de apenas algumas famílias pode, rapidamente, traduzir-se em milhares de manuais em 'stock'.

"Nem sequer tenho espaço físico para guardar todos esses manuais", desabafou Paulo Monte que, ao saber da medida da Porto Editora, decidiu desistir de vender manuais escolares, apesar de se ter inscrito na plataforma do ME, a MEGA.

Paulo Monte diz que tal como ele existem muitos outros livreiros, com lojas pequenas, que estão a fazer o mesmo.

Ao deixar de vender manuais escolares, a sobrevivência das livrarias fica ameaçada, já que a venda de manuais é uma das principais fontes de receitas, lembrou.

A medida da Porto Editora obriga ainda a ter uma verba que a maioria das livrarias de bairro não possui, acrescentou Bernardino Aranda, da livraria Tigre de Papel, em Lisboa.

Bernardino Aranda recusa-se a baixar os braços e decidiu pedir dinheiro emprestado a familiares e ao banco: "Ou aceitava comprar os manuais ou tinha que mandar os clientes embora. Como não poderia fazer isso, decidi pedir dinheiro emprestado ao banco".

O dono da livraria que vende manuais novos e usados está à espera do empréstimo para fazer a encomenda, sabendo que só terá capacidade para pagar o empréstimo quando vender os livros.

Até lá, Bernardino Aranda vai pagar juros dos livros que vão ficar guardados no armazém até que chegue um novo ano letivo e novas encomendas.

Tanto Bernardino Aranda como Paulo Monte saudaram a decisão do Ministério da Educação de distribuir 'vouchers' aos pais para que pudessem escolher a livraria onde queriam adquirir os manuais.

"A plataforma foi uma excelente medida que permitia dinamizar o comércio de rua, mas esta decisão da Porto Editora vai prejudicar muitas livrarias mais pequenas", lamentou Paulo Monte.

No e-mail enviado para as livrarias, a que a Lusa teve acesso, a Porto Editora diz que a decisão de estabelecer quantidades mínimas de encomendas tem um "caráter provisório", que deverá vigorar até ao final do mês e que assim que haja "condições físicas e técnicas dos armazéns" esta regra é suspensa.

Reconhecendo que a medida poderá "causar dificuldades na gestão de 'stocks'" das livrarias "e resultar em excessos no final da época escolar", a Porto Editora refere estar recetiva "a analisar eventuais pedidos de devolução" de títulos que tenham sido, comprovadamente, adquiridos dentro destes condicionalismos.
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