Notícia
Vaca portuguesa no hambúrguer McDonald's e no prato angolano
Num sector pouco propício à internacionalização, a Campicarn montou uma empresa em África e já vende 15% da carne para fora
Vocação "afiada" | Os perto de 200 trabalhadores da Campicarn SGPS têm um patrão com o 9.º ano, que "nunca" teve "dificuldades em gerir" as várias empresas do grupo.
Não cresceu como herdeiro, mas vai deixar herança aos dois filhos, sócios da Campicarn SGPS. Aos 22 anos, Manuel Martins deixou a "costela" do pai, que também "trabalhava nas carnes", e estabeleceu-se em nome individual, agarrando "com os dois braços e as duas pernas a primeira oportunidade". Em 1988, um ano após começar, já facturava um milhão de contos. No ano seguinte constituiu a Campicarn. "Fomos subindo de ano para ano até aos actuais 44 milhões de euros. E não queremos ficar por aqui", resumiu o empresário. Espanhóis e angolanos são os comensais estrangeiros da carne de bovino desmanchada, processada e embalada na unidade industrial de Famalicão, em que 110 trabalhadores movimentam 400 toneladas todas as semanas.
A fábrica está a beneficiar da terceira ampliação, a concluir no início de 2013, que permitirá aumentar a capacidade produtiva que está "no limite". O investimento superior a 2,5 milhões de euros vai "quase triplicar" a produção de processados à base de carne de bovino, como rolo de carne, salsicha fresca ou fiambre. Bens de maior valor acrescentado, por incorporarem ingredientes além da carne, em que consegue uma "margem mais confortável" e para os quais tem "mercado nacional e na exportação para poder crescer 20% a 30% nas vendas nos próximos dois anos".
Angola "mima" carne portuguesa
Se no segmento suíno há "belíssimas indústrias", no bovino a Campicarn assume-se como "a maior empresa nacional". Portugal não é, por tradição, exportador desta carne. Pelo contrário: 60% do que consume é importado, pelo que "não faz sentido pensar em exportar para França ou Alemanha", frisou o presidente. A internacionalização, crescente e que vale já 15% das vendas, é um processo muito seleccionado. O primeiro passo surgiu a convite da AICEP para visitar uma feira alimentar em Luanda. Em 2007 abriu a Campicarn África, através da qual chega a "um mercado que consome, com algum dinheiro e que trabalha com margens diferentes das praticadas" no mercado interno. Brasil e Paraguai são os maiores concorrentes. O angolano "defende as marcas portuguesas", acrescentou Martins.
Já no mercado espanhol, que vale dois terços da exportação e tem uma logística "mais pacífica" do que em Angola, o maior cliente é a McDonald's. Os hambúrgueres que a multinacional vende nos restaurantes da Península Ibérica são "um bom cartão de visita para que a marca tenha presença". "Ao contrário do que se possa pensar, é um cliente extremamente difícil e rigoroso ao nível de qualidade e do serviço. Estamos com eles há três anos, foi muito difícil no início, mas agora funciona lindamente", resumiu o industrial famalicense.
Perguntas a Manuel Ferreira Martins, Presidente da Campicarn
"Logo no primeiro minuto do campeonato de futebol, ligaram-me de França e Bélgica"
Qual o potencial das empresas agro-alimentares portuguesas lá fora?
Há aí belíssimas empresas a exportar bolachas, tomates ou carne de aves para a Ásia, que tem um peso enorme nos bens alimentares. Não acontecerá no bovino porque teríamos de concorrer com a América do Sul, o que não é muito fácil. As empresas agro-alimentares com um bom suporte financeiro e uma visão de se internacionalizarem têm bons mercados para explorar fora da Europa. Não é fácil, mas vale a pena.
O patrocínio nas camisolas do Gil Vicente já trouxe resultados na notoriedade?
Estamos desde 1994 no desporto automóvel, mas em 2011 quisemos levar a marca mais longe com a parceria com o Gil Vicente. Os minutos de televisão são imensos. Em termos de impacto do investimento, só neste segundo ano de contrato começaremos a recolher alguns frutos do que semeámos na época passada. Logo no primeiro minuto do campeonato [Gil vs. Benfica], que teve transmissão internacional, ligaram-me de França e Bélgica porque viram a marca além fronteiras. Mesmo em Angola têm acesso a canais e gostam de futebol português. O retorno paga o investimento.
O que responde a quem critica a falta de formação académica dos empresários?
Comecei a trabalhar desde muito novo nas carnes. Há 30 e tal anos, fiz o 9.º ano e dediquei-me à parte profissional. Julgo que sou uma pessoa mais ou menos formada. Sou director financeiro, além de acumular outros cargos. Tenho tempo para gerir as empresas desta forma e tem sido um sucesso. As pessoas têm de ter formação prática e alguma vocação porque há coisas que já nascem connosco. O negócio nasce para todos, mas nem todos nascem para os negócios. Nunca tive dificuldades em gerir as minhas empresas.
Ideias-chave
A campicarn ambiciona culminar os investimentos em curso com um aumento das vendas em 20% nos próximos dois anos
1 Uma empresa familiar do início à "Holding"
Empresa de cariz familiar fundada em 1989 em Famalicão, funcionou durante quatro anos em instalações alugadas. Em 2005 foi constituída a Campicarn SGPS, detida por Manuel Martins, esposa e filhos, que chegou a ter empresas ligadas à construção e imobiliário, hoje quase sem actividade. Restam as várias empresas no "core" da Campicarn.
2 Facturação anual de 44 milhões de euros
Martins lidera a "maior empresa nacional" de carne bovina - segmento menos industrializado que o suíno -, que facturou 44 milhões de euros em 2011. Somando as duas outras empresas do ramo (Modelcarn e a Celeirocarn) chega a quase 60 milhões. "Os momentos não são fáceis para ninguém, mas temos espaço ainda para crescer", garante.
3 Presença em África
A internacionalização apenas arrancou em 2007, mas a exportação representa já quase sete milhões de euros (15% das vendas). A tendência é crescer, sobretudo em África, através da empresa de direito angolano criada pela Campicarn.
4 Triplicar produção de valor acrescentado
Investimento de 2,5 milhões para ampliar instalações e comprar maquinaria estará concluído no início de 2013. Triplicará assim a produção de bens processados à base de carne bovina, que ajudarão à ambicionada subida de 20% das vendas no biénio.
Não cresceu como herdeiro, mas vai deixar herança aos dois filhos, sócios da Campicarn SGPS. Aos 22 anos, Manuel Martins deixou a "costela" do pai, que também "trabalhava nas carnes", e estabeleceu-se em nome individual, agarrando "com os dois braços e as duas pernas a primeira oportunidade". Em 1988, um ano após começar, já facturava um milhão de contos. No ano seguinte constituiu a Campicarn. "Fomos subindo de ano para ano até aos actuais 44 milhões de euros. E não queremos ficar por aqui", resumiu o empresário. Espanhóis e angolanos são os comensais estrangeiros da carne de bovino desmanchada, processada e embalada na unidade industrial de Famalicão, em que 110 trabalhadores movimentam 400 toneladas todas as semanas.
Angola "mima" carne portuguesa
Se no segmento suíno há "belíssimas indústrias", no bovino a Campicarn assume-se como "a maior empresa nacional". Portugal não é, por tradição, exportador desta carne. Pelo contrário: 60% do que consume é importado, pelo que "não faz sentido pensar em exportar para França ou Alemanha", frisou o presidente. A internacionalização, crescente e que vale já 15% das vendas, é um processo muito seleccionado. O primeiro passo surgiu a convite da AICEP para visitar uma feira alimentar em Luanda. Em 2007 abriu a Campicarn África, através da qual chega a "um mercado que consome, com algum dinheiro e que trabalha com margens diferentes das praticadas" no mercado interno. Brasil e Paraguai são os maiores concorrentes. O angolano "defende as marcas portuguesas", acrescentou Martins.
Já no mercado espanhol, que vale dois terços da exportação e tem uma logística "mais pacífica" do que em Angola, o maior cliente é a McDonald's. Os hambúrgueres que a multinacional vende nos restaurantes da Península Ibérica são "um bom cartão de visita para que a marca tenha presença". "Ao contrário do que se possa pensar, é um cliente extremamente difícil e rigoroso ao nível de qualidade e do serviço. Estamos com eles há três anos, foi muito difícil no início, mas agora funciona lindamente", resumiu o industrial famalicense.
Perguntas a Manuel Ferreira Martins, Presidente da Campicarn
"Logo no primeiro minuto do campeonato de futebol, ligaram-me de França e Bélgica"
Qual o potencial das empresas agro-alimentares portuguesas lá fora?
Há aí belíssimas empresas a exportar bolachas, tomates ou carne de aves para a Ásia, que tem um peso enorme nos bens alimentares. Não acontecerá no bovino porque teríamos de concorrer com a América do Sul, o que não é muito fácil. As empresas agro-alimentares com um bom suporte financeiro e uma visão de se internacionalizarem têm bons mercados para explorar fora da Europa. Não é fácil, mas vale a pena.
O patrocínio nas camisolas do Gil Vicente já trouxe resultados na notoriedade?
Estamos desde 1994 no desporto automóvel, mas em 2011 quisemos levar a marca mais longe com a parceria com o Gil Vicente. Os minutos de televisão são imensos. Em termos de impacto do investimento, só neste segundo ano de contrato começaremos a recolher alguns frutos do que semeámos na época passada. Logo no primeiro minuto do campeonato [Gil vs. Benfica], que teve transmissão internacional, ligaram-me de França e Bélgica porque viram a marca além fronteiras. Mesmo em Angola têm acesso a canais e gostam de futebol português. O retorno paga o investimento.
O que responde a quem critica a falta de formação académica dos empresários?
Comecei a trabalhar desde muito novo nas carnes. Há 30 e tal anos, fiz o 9.º ano e dediquei-me à parte profissional. Julgo que sou uma pessoa mais ou menos formada. Sou director financeiro, além de acumular outros cargos. Tenho tempo para gerir as empresas desta forma e tem sido um sucesso. As pessoas têm de ter formação prática e alguma vocação porque há coisas que já nascem connosco. O negócio nasce para todos, mas nem todos nascem para os negócios. Nunca tive dificuldades em gerir as minhas empresas.
Ideias-chave
A campicarn ambiciona culminar os investimentos em curso com um aumento das vendas em 20% nos próximos dois anos
1 Uma empresa familiar do início à "Holding"
Empresa de cariz familiar fundada em 1989 em Famalicão, funcionou durante quatro anos em instalações alugadas. Em 2005 foi constituída a Campicarn SGPS, detida por Manuel Martins, esposa e filhos, que chegou a ter empresas ligadas à construção e imobiliário, hoje quase sem actividade. Restam as várias empresas no "core" da Campicarn.
2 Facturação anual de 44 milhões de euros
Martins lidera a "maior empresa nacional" de carne bovina - segmento menos industrializado que o suíno -, que facturou 44 milhões de euros em 2011. Somando as duas outras empresas do ramo (Modelcarn e a Celeirocarn) chega a quase 60 milhões. "Os momentos não são fáceis para ninguém, mas temos espaço ainda para crescer", garante.
3 Presença em África
A internacionalização apenas arrancou em 2007, mas a exportação representa já quase sete milhões de euros (15% das vendas). A tendência é crescer, sobretudo em África, através da empresa de direito angolano criada pela Campicarn.
4 Triplicar produção de valor acrescentado
Investimento de 2,5 milhões para ampliar instalações e comprar maquinaria estará concluído no início de 2013. Triplicará assim a produção de bens processados à base de carne bovina, que ajudarão à ambicionada subida de 20% das vendas no biénio.