Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Um Presidente à procura do "equilíbrio", depois do "deslize" das pensões

À entrada para o sétimo ano em Belém, para os politólogos contactados pela Lusa, Cavaco Silva está agora à procura do equilíbrio da sua intervenção, num período que acabará também por ficar marcado pelo "deslize" com as pensões.

07 de Março de 2012 às 08:53
  • 3
  • ...
"Suspeito que ninguém esperava um ano tão fértil em mudanças e impactos políticos", começou por comentar o politólogo e professor da Universidade de Aveiro Carlos Jalali, contactado pela Lusa a propósito do aniversário da tomada de posse de Cavaco Silva como chefe de Estado, que se comemora na sexta-feira.

Mudanças e impactos que, para o politólogo, acabaram inevitavelmente por também ter consequências e efeitos na acção presidencial de Cavaco Silva, que à entrada para o sétimo ano em Belém "parece ainda não ter encontrado a intervenção certa neste contexto instável", depois de ter assumido no arranque do segundo mandato um tom "muito mais crítico e interventivo" em relação ao Governo então liderado por José Sócrates.

Admitindo que qualquer outro Presidente nas mesmas circunstâncias teria iguais dificuldades em enfrentar o desafio que tem em mãos, com o país obrigado a cumprir um rigoroso programa de ajustamento e já com um novo Governo em funções, Carlos Jalali apontou a polémica em volta das declarações de Cavaco Silva sobre as suas pensões como o momento em que a ausência desse "ponto de equilíbrio" da sua intervenção foi mais visível.

Em meados de Janeiro, Cavaco Silva foi questionado pelos jornalistas sobre o facto de poder receber subsídio de férias e de Natal pelo Banco de Portugal, tendo explicado que, "tudo somado" - o que vai receber do Fundo de Pensões do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Aposentações - "quase de certeza que não vai chegar para pagar" as despesas, recordando que não recebe "vencimento como Presidente da República".

Quatro dias depois, numa declaração escrita à Lusa o Presidente da República esclareceu que apenas quis ilustrar que acompanha a situação dos portugueses que atravessam dificuldades, não tendo sido seu propósito eximir-se dos sacrifícios.

Declarações que, para o professor da Universidade de Aveiro, o próprio Presidente da República não esperava que tivessem "o eco e consequências" que acabariam por ter.

Depois, continuou Carlos Jalali, veio a quebra "bastante acentuada" da popularidade do chefe de Estado, colocando-se agora duas interrogações importantes: "será esta inversão temporária" e "como conseguirá Cavaco Silva encontrar o ponto de equilíbrio entre articular a insatisfação, ansiedades e receios da sociedade, sem ao mesmo tempo entrar em choque com o Governo".

Para o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa António Costa Pinto, a interrogação sobre se a quebra de popularidade será ou não conjuntural é também uma das importantes questões a colocar neste momento.

“Tenderei a achar que sim, que é conjuntural", disse António Costa Pinto, lembrando que até agora Cavaco Silva recuperou sempre dos 'casos' porque passou, como a "espionite do Público" e a polémica em relação ao estatuto administrativo dos Açores.

Além disso, acrescentou, "existe também o esforço grande do PS de não isolar o Presidente" e nenhum dos partidos "explorou dramaticamente esse episódio".

Sobre o "impedimento" que levou o Presidente da República a cancelar em cima da hora a visita a uma escola de Lisboa cerca de três semanas depois do "episódio" das pensões, António Costa Pinto considerou que se tratou de um caso "que remete para a preocupação da instituição presidencial em se desligar de episódios de protesto".

"Quis evitar uma manifestação de desagrado", sublinhou, considerando que essa "prudência deve manter-se".

Para o também politólogo Manuel Meirinho, que foi eleito deputado pelo PSD nas últimas eleições legislativas, o último ano acabou por ser "globalmente positivo" para Cavaco Silva, que foi tendo "a preocupação em acomodar e partilhar o esforço do país e simultaneamente não deixar de alertar para aspectos que considera importantes".

"Houve uma duplicidade, um misto entre cooperação e intervenção", resumiu.

Contudo, e depois da polémica em torno das declarações sobre as pensões, Cavaco Silva terá agora de ultrapassar esse "deslize", que acabou por marcar pontualmente a avaliação dos portugueses sobre a sua actuação, "penalizando fortemente" os índices de popularidade presidencial.

Ver comentários
Saber mais Cavaco Silva
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio