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Stiglitz: "A desigualdade é uma escolha dos nossos sistemas políticos"

Os elevados e crescentes níveis de desigualdade nos EUA e em muitas outras economias desenvolvidas são um resultado directo das regras de mercado. É possível e urgente fazer melhor, defende o Nobel da Economia.

Bruno Simão
01 de Dezembro de 2015 às 22:08
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É urgente mudar as actuais regras de mercado para reduzir os elevados níveis de desigualdade em muitas economias desenvolvidas, com os Estados Unidos à cabeça, defendeu em Lisboa Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia, para quem a desigualdade é, na verdade, uma escolha política.

 

"A desigualdade é uma escolha, não dos mais pobres, mas dos nossos sistemas políticos (...) da forma como estruturámos a economia, os sistemas de impostos, as leis laborais, a forma como conduzimos a política monetária", afirmou. Estas escolhas influenciam "o poder de mercado, o poder de negociação dos diferentes grupos", justificando as desigualdades de rendimentos  e oportunidades.

 

Na conferência, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, o prémio Nobel defendeu que os elevados níveis de desigualdade estão a prejudicar o crescimento e os fundamentos das democracias nas economias avançadas.

 

A sessão decorreu durante cerca de hora e meia num auditório cheio, e foi televisionada para outros dois auditórios e três salas nas instalações da Fundação em Lisboa, chegando a um total de mais de 1500 pessoas

 

O economista foi apresentando dados e gráficos sobre evolução de rendimentos, principalmente dos EUA, para fundamentar que os mais ricos dos mais ricos foram os únicos a beneficiar do crescimento económico das últimas três décadas.  Nesse período, o rendimento mediano estagnou e o rendimento dos mais pobres até caiu, depois de descontado o efeito da inflação – é hoje menor que há 60 anos.

 

Stiglitz não tem dúvidas: o problema nos Estados Unidos começou com a Administração Reagan nos anos 1970. Foi por aí que ganhou terreno a ideia de que políticas a favor das empresas, do capital e dos mais ricos iriam acabar por beneficiar todos, mesmo que numa primeira fase pudessem aumentar a desigualdade. Mas 25 anos depois os resultados da experiência estão à vista: os salários estagnaram, "o crescimento abrandou e o único grupo que beneficiou do crescimento foram os 10% mais ricos, e ainda mais os 1% mais ricos, e ainda mais os 10% mais ricos entre os 1% mais riscos", afirmou.

 

"O resultado foi um desastre para a economia. Não percebo como tantos países estão a tentar replicar a experiência", defende, propondo o exacto caminho inverso. "A nossa agenda tem de ser a de reescrever as leis da economia de mercado", contrariando as forças que vêm gerando mais desigualdade.

 

Stiglitz discorda de Picketty

 

Sem surpresa entre economistas, Joseph Stiglitz discorda de Thomas Picketty, o economista francês que saltou para o estrelato nos últimos anos com o seu livro "Capital no Século XXI" e a tese de que o aumento da desigualdade se deve a uma inevitabilidade da mecânica do sistema capitalista, em que o capital cresce mais rapidamente que a economia, gerando desigualdades. Já para o norte-americano o problema está na forma concreta como se desenharam as regras da actual economia de mercado.  E urge mudá-las, defende.

 

"Não chegam mudanças gradualistas, é precisa uma agenda abrangente" que altere as leis do trabalho, de impostos, a política monetária, e outras defendeu, colocando urgência na mudança: "lidar com a desigualdade é um elemento vital para voltar a devolver saúde à economia global", defendeu, lembrando que "as decisões de hoje afectarão a desigualdade dentro de décadas". 

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