Notícia
Stiglitz tem “esperança considerável” no governo do PS
O prémio Nobel faz um balanço muito negativo da Zona Euro, das políticas de austeridade, e da situação em Portugal. “Estive cá há 15 anos e as coisas só ficaram piores”, avaliou. Diz no entanto ter confiança no novo Governo.
"Estive cá há 15 anos e as coisas só ficaram piores", afirmou Joseph Stiglitz, na abertura da sua intervenção na conferência organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian sobre desigualdade de rendimentos, na qual expressou também a sua confiança no esforço que entende estar a ser feito pelo novo Governo para estimular o crescimento.
Para o economista, os problemas na Zona Euro não se devem tanto à saúde das suas economias consideradas individualmente, mas mais à própria estrutura da união monetária que institucionalizou a austeridade. É isto que explica em boa parte o baixo crescimento e o elevado desemprego da região. Sem surpresa, a sua avaliação sobre a economia portuguesa está longe de ser positiva: pior que quando a experiência monetária começou no viragem do século.
O Nobel deposita no entanto "esperança considerável" no novo Governo de António Costa para melhorar a situação. "Penso que está a tentar perceber como consegue gerar mais rendimento dentro das restrições da Zona Euro", respondeu aos jornalistas no final da conferência que durou cerca de hora e meia perante um auditório cheio, e que foi televisionada para outros dois auditórios e três salas nas instalações da Fundação em Lisboa, chegando a mais de 1.500 pessoas.
Embora se tenha dedicado essencialmente à situação norte-americana – a economia campeã a gerar a desigualdades –, diz o prémio Nobel não escondeu o seu cepticismo quanto à arquitectura Zona Euro e às políticas dos últimos anos.
"A austeridade não funciona", como se prova pela actual situação da economia da Zona Euro defendeu, criticando pelo caminho o discurso "usado pela chanceler Angela Merkel" de que só se pode gastar o que se tem, para dessa forma justificar políticas de austeridade como instrumentos de pagamento de dívidas.
Para Stiglitz a saída para a crise passa antes por políticas que promovam o crescimento económico: só assim será possível pagar as dívidas acumuladas. E é por isso que defende investimentos em infraestruturas necessárias e em educação, por exemplo. "Nós sabemos que a austeridade leva a menor crescimento económico" e a mais desigualdade. "A questão não é por isso económica, mas sim política", defendeu.
Mas vai mais longe. Mesmo dentro das regras de austeridade ditadas pela Zona Euro "seria possível fazer melhor", afirmou, criticando por exemplo uma das bandeiras do último governo: a descida do IRC.
"Não há nenhuma evidência que baixar os impostos sobre as empresas gere mais crescimento", afirmou, contrapondo que o que pode "pode fazer sentido é baixar impostos para as empresas que investem no país", afirmou. Defendeu ainda impostos mais progressivos sobre o património, como forma de gerar receitas sem aumentar a desigualdade ou prejudicar o crescimento.
O economista também não alinha nos que vêm demasiados riscos em impostos altos. Aliás, defendeu, mais impostos a financiarem despesa produtiva teriam mais sucesso a aumentar o potencial a resolver a crise, do que medidas de austeridade que reduzam o défice na mesma dimensão, mas prejudiquem o crescimento, acabando por dificultar o pagamento das dívidas.
Sobre desigualdade, o prémio Nobel defendeu ser urgente mudar as actuais regras de mercado para reduzir os níveis de desigualdade que se verificam em muitas economias desenvolvidas, com os Estados Unidos à cabeça. A desigualdade é uma escolha política que prejudica o crescimento e a democracia, sustentou, argumentando que a crescente desigualdade resulta da forma como nas últimas décadas se escreveram as regras laborais, de impostos ou a política monetária.
Para o economista, os problemas na Zona Euro não se devem tanto à saúde das suas economias consideradas individualmente, mas mais à própria estrutura da união monetária que institucionalizou a austeridade. É isto que explica em boa parte o baixo crescimento e o elevado desemprego da região. Sem surpresa, a sua avaliação sobre a economia portuguesa está longe de ser positiva: pior que quando a experiência monetária começou no viragem do século.
Penso que
[António Costa] está
a tentar perceber como consegue gerar mais rendimento
dentro das restrições
da Zona Euro.
[António Costa] está
a tentar perceber como consegue gerar mais rendimento
dentro das restrições
da Zona Euro.
Joseph Stiglitz
Economista, prémio Nobel
da Economia 2001
Economista, prémio Nobel
da Economia 2001
"A austeridade não funciona", como se prova pela actual situação da economia da Zona Euro defendeu, criticando pelo caminho o discurso "usado pela chanceler Angela Merkel" de que só se pode gastar o que se tem, para dessa forma justificar políticas de austeridade como instrumentos de pagamento de dívidas.
Para Stiglitz a saída para a crise passa antes por políticas que promovam o crescimento económico: só assim será possível pagar as dívidas acumuladas. E é por isso que defende investimentos em infraestruturas necessárias e em educação, por exemplo. "Nós sabemos que a austeridade leva a menor crescimento económico" e a mais desigualdade. "A questão não é por isso económica, mas sim política", defendeu.
Mas vai mais longe. Mesmo dentro das regras de austeridade ditadas pela Zona Euro "seria possível fazer melhor", afirmou, criticando por exemplo uma das bandeiras do último governo: a descida do IRC.
"Não há nenhuma evidência que baixar os impostos sobre as empresas gere mais crescimento", afirmou, contrapondo que o que pode "pode fazer sentido é baixar impostos para as empresas que investem no país", afirmou. Defendeu ainda impostos mais progressivos sobre o património, como forma de gerar receitas sem aumentar a desigualdade ou prejudicar o crescimento.
O economista também não alinha nos que vêm demasiados riscos em impostos altos. Aliás, defendeu, mais impostos a financiarem despesa produtiva teriam mais sucesso a aumentar o potencial a resolver a crise, do que medidas de austeridade que reduzam o défice na mesma dimensão, mas prejudiquem o crescimento, acabando por dificultar o pagamento das dívidas.
Sobre desigualdade, o prémio Nobel defendeu ser urgente mudar as actuais regras de mercado para reduzir os níveis de desigualdade que se verificam em muitas economias desenvolvidas, com os Estados Unidos à cabeça. A desigualdade é uma escolha política que prejudica o crescimento e a democracia, sustentou, argumentando que a crescente desigualdade resulta da forma como nas últimas décadas se escreveram as regras laborais, de impostos ou a política monetária.