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Sem eliminação rápida das energias fósseis, crise climática será irreversível, alertam cientistas

Os autores do relatório científico apresentado este domingo na cimeira das Nações Unidas, COP 28, no Dubai defendem que os esforços de descarbonização devem ser feitos pelas alternativas energéticas e não pelos emissores tradicionais de carbono.

Uma ativista protesta à porta da COP 28 a decorrer no Dubai
03 de Dezembro de 2023 às 12:00
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A "eliminação rápida e controlada dos combustíveis fósseis" é condição para que não seja ultrapassado o limiar de segurança do clima na Terra, segundo um relatório científico apresnetado este domingo no Dubai.

Segundo o relatório "Dez novas perspetivas científicas", elaborado por um painel global de cientistas com o apoio da Future Earth, Liga da Terra e o Programa Mundial de Investigação Climática e apresentado na 28.ª conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP28), o mundo não pode dirigir os seus esforços de descarbonização apenas para emissores tradicionais de carbono, mas sim para alternativas energéticas.

Este estudo tem sido atualizado todos os anos desde 2017 e apresentado nas cimeiras climáticas da ONU e inclui as conclusões mais recentes sobre o aquecimento global e os seus efeitos, resumindo as dez conclusões que consideram mais relevantes para informar os negociadores no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla original).

Trata-se, segundo o secretário executivo da UNFCCC, Simon Stiell, de "uma ferramenta essencial para os decisores" numa altura "crítica" do calendário político.

O documento apresentado este domingo alerta para a quase "inevitabilidade" de se ultrapassar o limiar de segurança estabelecido pelo grupo de especialistas em clima da ONU: um aquecimento global limitado a 1,5 ºC acima dos valores médios da temperatura da era pré-industrial.

O relatório destaca também outros impactos importantes que se agravaram nos últimos anos, como a perda acelerada de glaciares de montanha e a crescente imobilidade humana em áreas com elevados riscos climáticos.

São ainda analisadas algumas das estratégias que os países devem adotar para travar o aquecimento, começando por uma "eliminação rápida e controlada dos combustíveis fósseis" e uma reforma dos sistemas alimentares, propostas que devem ser apoiadas por "políticas sólidas" e um modelo de "governação conjunta" com novos instrumentos para tornar a justiça "operacional".

A "dependência excessiva" dos locais naturais que sequestram o carbono emitido - florestas tropicais, zonas húmidas, oceano e outros ecossistemas que podem remover as emissões da atmosfera - é, no entanto, segundo os cientistas, "uma estratégia arriscada" porque a sua contribuição futura é "incerta", já que as alterações climáticas irão criar danos também nessas zonas.

Com a crise climática, "todas as soluções são necessárias" e a capacidade de sequestro natural de carbono é limitada e está a degradar-se devido ao aquecimento, alerta o relatório.

Um dos autores do documento, Marcos Fernández, disse à agência espanhola EFE que, até agora, os pontos de sequestro de carbono terrestres e marinhos cresceram enquanto as emissões de dióxido de carbono (CO2) aumentaram, mas os especialistas alertam para o facto de, no futuro, estes ecossistemas poderem absorver menos CO2 do que o previsto com base nas avaliações existentes.

"Temos indicações de que a capacidade dos sumidouros, tanto terrestres como marinhos, está a diminuir", afirmou.

São necessárias "soluções baseadas na natureza para remover o CO2 da atmosfera através de métodos naturais, mas não podemos confiar demasiado neles porque podem falhar e porque as alterações climáticas estão a provocar essa falha".

"Qualquer mudança, qualquer perturbação propaga-se no futuro e está a provocar a desestabilização do ciclo do carbono em certas zonas, como o Mediterrâneo", explica o especialista.

O investigador, que critica as soluções "tecno-optimistas", é mais favorável à contenção económica para reduzir as emissões e, ao mesmo tempo, conservar os ecossistemas, sublinhando que "o bem-estar da humanidade não depende do crescimento económico ou da utilização de materiais", mas sim da natureza.
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