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Revolução surpreendeu menos na Simoldes do que a fábrica nova

Para 70 trabalhadores do grupo que é hoje o líder europeu de moldes para automóveis, o 25 de Abril de 1974 não surpreendeu tanto quanto as novas instalações que a Simoldes Aços passou a ocupar nesse dia.

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25 de Abril de 2014 às 13:00
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António Rodrigues é o presidente do Grupo Simoldes e o que mais recorda dessa data é que, pela manhã, o posto de transformação instalado nas traseiras da nova fábrica fez chegar pela primeira vez a electricidade a um edifício "muito maior" do que aquele que a empresa vinha ocupando desde 1959 no lugar da Espinheira, no centro de Oliveira de Azeméis.

 

"Eu vinha de casa e ouvi a rádio a dizer que havia uma revolução, mas, como nunca fui político, não sabia o que isso era e tudo continuou normal", contou à Lusa.

 

"Por volta das 10:00 da manhã, fomos ligar a luz e foi assim que começámos a trabalhar oficialmente aqui", acrescentou.

 

Carlos Seabra, director comercial da divisão de moldes do grupo, realça que não houve uma inauguração com pompa e circunstância: "Ligaram-se as máquinas e começou-se a trabalhar".

 

Se de moldes já todos percebiam, da democracia não sabiam bem o que esperar.

 

"Viam-se as pessoas a sorrir, a saltar e de mãos dadas", reconheceu António Xará, que trabalha na Simoldes Aços desde 1973 e é hoje o seu director de recursos humanos e aprovisionamento.

 

"Mas muitas dessas pessoas - e eu próprio - não entendiam muito bem o que estava em causa", admitiu.

 

A mudança fez-se a dois tempos: primeiro, explicou, deu-se o período "estranho" da transição de uma fábrica "cheia de condicionalismos para umas instalações em que era tudo novo, amplo, com luz". Depois, foi aguardar "o assentar da poeira e agarrar com toda a força o que apareceu".

 

A democracia trouxe sobretudo rigor. "Antes do 25 de Abril éramos empresários um pouco artesanais", explicou António Rodrigues.

 

"As empresas tinham nascido pequenas, nós íamos inventando as coisas e assim fomos andando. Depois, à medida que a empresa foi crescendo, fomo-nos profissionalizando e a situação tornou-se completamente diferente", garantiu.

 

Para a história da Simoldes Aços ficaram muitos marcos técnicos e financeiros, mas nenhuma greve.

 

"Nunca tivemos nenhum problema com a classe operária, nem antes nem depois da revolução", declarou à Lusa o presidente do grupo.

 

António Xará atribui essa estabilidade laboral à política remuneratória praticada na empresa, salientando que a "Simoldes tinha excelentes salários para a época".

 

"A minha mulher veio para cá ganhar três contos e 300 por mês [16,5 euros] e, para se ter noção, naqueles tempos um carro custava 40 a 60 contos [200 a 300 euros]", referiu.

 

Hoje, serão precisos mais salários para se adquirir um automóvel, mas António Xará assegurou: "Continuamos com práticas remuneratórias claramente acima da média e não temos cá ninguém a auferir menos de 600 euros".

 

Em 1974, a Simoldes Aços empregava 70 pessoas e fechava o ano com uma facturação de 13 milhões de escudos, o que equivaleria hoje a 61.500 euros.

 

"Fabricava sobretudo moldes para eletrodomésticos e utilidades, sendo que 90% da produção era exportada e os Estados Unidos, por si só, absorviam 70%", contou Carlos Seabra.

 

Actualmente, tem 207 postos de trabalho e 98% da sua actividade é para o sector automóvel.

 

O mercado externo passou a consumir "quase 100%" do que a fábrica produz, mas a exportação para os Estados Unidos "é agora zero", o que o director comercial da divisão de moldes atribui sobretudo à actual relação entre o dólar e o euro.

 

Os principais mercados da empresa são agora a Alemanha, que compra 35% da produção, seguindo-se a França com 25% e Espanha com 10%. Esses e outros países contribuíram em 2013 para um volume de negócios na ordem dos 20 milhões de euros.

 

Já na totalidade das 27 empresas que hoje constituem o Grupo Simoldes, a facturação foi de 500 milhões de euros.

 

O grupo tem um universo de 4.200 funcionários em fábricas em Portugal, Alemanha, Reino Unido e Brasil, e em vários escritórios noutros pontos do mundo.

 

"Mas vamos abrir mais unidades de produção", anunciou Carlos Seabra, especificando: "uma já está a ser criada na China e outra está em estudo para o México".

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