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Retoma na Zona Euro conta com gastos de aforradores mais velhos
Para a Zona Euro acelerar o crescimento económico com a subida do consumo, uma geração inteira que costuma poupar em vez de gastar teria de esbanjar um pouco.
Isto porque grande parte do dinheiro poupado por famílias mais ricas presas em casa, sem frequentar restaurantes ou tirar férias durante a crise de coronavírus, está concentrada entre europeus com mais idade, que são menos propensos a colocar a mão no bolso do que os mais jovens.
Se esse grupo de consumidores vai remar contra a maré e usar a sua liberdade para sair e gastar quando a pandemia estiver controlada, é crucial para medir a recuperação da maioria das economias avançadas. No entanto, é mais importante na Europa, que tem a idade média mais alta de todas as regiões do mundo.
O montante que poderia ser libertado é grande: o Barclays estima o excedente de poupanças em 600 mil milhões de euros. Mas o banco está entre os que estão preocupados com o facto de a concentração dessa riqueza entre cidadãos tradicionalmente conservadores na hora de gastar poder limitar quaisquer benefícios.
"Devemos ter uma libertação gradual da poupança", disse Davide Oneglia, economista da TS Lombard. "Talvez menos forte do que muitos esperam, porque muitas dessas poupanças fazem parte de um setor onde as famílias são particularmente ricas e menos inclinadas a consumir."
O Deutsche Bank estima que a procura reprimida possa acrescentar cerca de 1 ponto percentual ao crescimento do PIB de 2021 - uma fatia considerável para uma economia que, segundo o Fundo Monetário Internacional, deverá crescer 4,4%. Dean Turner, economista do UBS, acredita que os recursos poupados representarão uma "proporção significativa" da recuperação pós-pandemia, com um crescimento dos gastos dos consumidores de 2,9% este ano.
Esse aumento seria fundamental para impulsionar um boom na Zona Euro, até porque a região precisa de fatores de crescimento adicionais, já que a sua recuperação, prejudicada pela lenta vacinação, está aquém da retoma dos EUA e da China. Os confinamentos prolongados da Alemanha levaram institutos de pesquisa do país a cortarem a sua previsão de crescimento conjunta para 2021 em um ponto percentual, para 3,7%, na quinta-feira.
Os dados das vendas a retalho da Zona Euro mostram que os gastos com bens em geral resistiram, mesmo durante restrições posteriores. Mas é menos claro o nível de recuperação em serviços ao consumidor quando as empresas forem reabertas.
Dados do Banco Central Europeu mostram o dinheiro extra poupado principalmente entre pessoas com mais de 50 anos ao longo dos últimos 12 meses, enquanto indivíduos entre 16 e 49 anos, com maior propensão para gastar e maior risco de desemprego, enfrentam uma deterioração da situação financeira.
Para Gloria Sattél e Alfons Pribek, um casal austríaco cujos hábitos pré-crise incluíam refeições frequentes em restaurantes, idas regulares à ópera e ao teatro, estadias de uma semana em spas duas vezes por ano e também viagens à Grécia, Alemanha e França, o fim dos confinamentos pode não trazer os velhos hábitos de consumo de volta tão cedo.
"Vamos ao spa assim que abrir, mas, além disso, estamos a evitar fazer planos", disse Sattél, de 78 anos, que mora com o marido de 81 anos no centro de Viena. "Fomos generosos connosco no último ano, mas sobra dinheiro e simplesmente não haverá tantas oportunidades de o gastar".