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Relatório interno russo alerta para danos a longo prazo à economia

Apesar de publicamente o Kremlin ter desvalorizado o impacto das sanções, um relatório do Governo russo consultado pela Bloomberg revela previsões de danos pelo menos até ao final da década.

O alívio da inflação foi a justificação do BCR para cortar taxas de juro.
Getty Images
06 de Setembro de 2022 às 20:13
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O impacto das sanções do Ocidente na economia russa pode ser bem mais profundo e duradouro do que o Kremlin tem dado a entender. De acordo com um relatório interno do Kremlin, a que a Bloomberg teve acesso, as sanções estão a fragilizar setores chave da economia, prevendo-se que só volte a níveis pré-guerra no final da década, ou até depois.

O documento, fruto de meses de trabalho de dirigentes do Kremlin e cuja autenticidade foi confirmada à agência por pessoas próximas do assunto, traça três cenários - em dois é revelada uma aceleração da contração económica no próximo ano, sendo que num deles a economia atinge o seu ponto mais crítico em 2024: 11,9% abaixo do nível de 2021. Um terceiro cenário, mais favorável, prevê que o pior momento será já em 2023, com um desempenho económico 8,3% abaixo do de 2021.

Em todos os cenários o efeito das sanções é agravado com o passar do tempo, aumentando também a probabilidade de mais países aderirem.

São números que contrastam com o que tem sido dito publicamente, com o Kremlin a assegurar que o impacto das sanções tem sido menor que o receado, apontando para uma contração inferior a 3% este ano e ainda menos em 2023.

Há também a questão do petróleo e do gás, com a Europa a reforçar os esforços para reduzir drasticamente a dependência, o que poderá afetar a capacidade de a Rússia abastecer o seu próprio mercado.

O relatório destaca também como Moscovo enfrenta agora um "bloqueio" que afetou praticamente todos os meios de transporte, isolando ainda mais a economia. No campo tecnológico, o documento estima que pelo menos 200 mil especialistas deixem o país até 2025 - a primeira previsão do impacto do chamado 'brain drain', 'fuga de cérebros'.

"Com acesso diminuido a tecnologias ocidentais, uma onda de desinvestimento empresarial estrangeiro e reveses demográficos pela frente, o potencial de crescimento do país está destinado a diminuir para 0,5% a 1% na próxima década. Depois disso, vai diminuir ainda mais, até quase ao zero até 2050. A Rússia vai também tornar-se cada vez mais vulnerável a uma descida dos preços globais das mercadorias, com as reservas internacionais a deixarem de servir de amortecedor", diz à Bloomberg Alexander Isakov, econoimista russo.

Nos próximos dois anos, o relatório alerta para "volumes de produção reduzidos em vários setores orientados para a exportação", incluindo petróleo, gás, metais e produtos químicos. Mesmo que haja alguma recuperação, "estes setores vão deixar de ser motores da economia".
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