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Paulo Raimundo: "Há quem salive e desespere pelo fim do PCP"

O novo secretário-geral do PCP fez o primeiro discurso como líder, durante a Conferência Nacional do PCP. Resolução política aprovada com uma abstenção.

Jerónimo de Sousa passa o testemunho a Paulo Raimundo na Conferência Nacional do PCP António Pedro Santos/ Lusa
13 de Novembro de 2022 às 13:35
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O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, agradeceu este domingo a Jerónimo de Sousa o seu "empenho e contributo" e dirigiu-lhe um "até já", alertando os militantes que "há quem salive e desespere pelo fim do PCP".

"Porque não esquecemos o papel de cada um no coletivo partidário, em nome do Comité Central, em nome da Conferência Nacional e certamente que em nome de todo o partido, gostaria de dirigir uma palavra ao camarada Jerónimo de Sousa", afirmou Paulo Raimundo no encerramento da quarta Conferência Nacional do PCP, agradeceu ao secretário-geral cessante o seu "empenho, contributo" e "papel".

"A alteração das tuas responsabilidades não significa um adeus, é um até já camarada", disse, num momento em que os delegados e militantes presentes se levantaram para aplaudir Jerónimo de Sousa e entoar "Assim se vê a força do PC".

Dirigindo-se para 'dentro', Paulo Raimundo avisou que "há quem salive e desespere pelo fim do PCP". "Pois daqui fica o conselho, esperem sentados, porque um partido ligado aos trabalhadores, às populações, aos seus problemas e anseios, determinado em lhes dar esperança, um partido assim e como aqui se reafirmou na Conferência, a única coisa a que está condenado é a crescer e a alargar a sua influência", defendeu, num dos momentos altos do seu discurso em que foi mais aplaudido.

Com uma camisa azul clara, um 'blazer' escuro e calças beges, o novo secretário-geral do PCP deixou apelos "ao coletivo partidário". "Em todas as frentes de luta e intervenção seja como eleitos nas autarquias, na Assembleia da República, nas assembleias legislativas regionais, no Parlamento Europeu, seja nos sindicatos e outras estruturas dos trabalhadores, seja na frente de intervenção de organizações de massas das mais diversas áreas, seja na ação de todos os dias, do contributo mais modesto ao mais qualificado, aqui fica o apelo, que todos e cada um dê mais um pouco, faça mais um esforço, ganhe mais confiança nesta luta que travamos pelos trabalhadores, o povo e o País, por uma sociedade e um mundo mais justos", vincou.

No final da sua intervenção, Paulo Raimundo e Jerónimo de Sousa deram as mãos em conjunto e deram um novo abraço perante uma plateia de punhos erguidos e bandeiras no ar.

O novo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, sustentou ainda que o partido tem "uma enorme responsabilidade" e a conferência dos últimos dois dias demonstrou que está "à altura".

"Temos uma enorme responsabilidade, mas, como a nossa conferência nacional demonstrou estamos à altura dessa responsabilidade", disse Paulo Raimundo, o quarto secretário-geral do PCP em democracia, no início da intervenção de encerramento da Conferência Nacional do PCP, em Corroios, concelho do Seixal.

E mesmo no início, um improviso: "Que grande é o nosso partido. Com esta força é muito mais fácil levar por diante as tarefas do partido, sejam elas quais forem".

PS responsabilizado por injustiças disfarçadas de crise

Paulo Raimundo criticou também as opções políticas do PS que provocam a "injustiça" da degradação das condições de vida e que, afirmou, surgem disfarçadas de uma crise socioeconómica.

"A isto não se chama crise, isto tem outro nome: injustiça", alertou Paulo Raimundo na primeira intervenção que fez como secretário-geral comunista, recusando que o país seja pobre.

Em pouco mais de 30 minutos, o novo secretário-geral do PCP, que foi eleito na noite de sábado por unanimidade (mas não participou na própria eleição), rejeitou que haja uma crise socioeconómica quando há "um punhado" que está a "lucrar enquanto a fatura sobre sempre para os mesmos".

A "injustiça", reforçou o secretário-geral do PCP, "tem responsáveis", que estão sempre a apelar "à compreensão: 'isto está difícil para todos', 'mais vale pouco do que nada', 'não se pode ter tudo de uma vez', 'a culpa é da guerra'".

Para Paulo Raimundo, o aumento dos preços, os baixos salários, as rendas altas e os "juros proibitivos" resultam de opções políticas e não são uma inevitabilidade. Raimundo alertou para "mentiras" que são propagadas "para que os poucos do costume arrecadem muito e tudo de uma só vez".

As "injustiças", continuou, são resultado da "opção política do Governo PS, bem evidente no Orçamento do Estado, e é, com mais ou menos berraria e aparente discordância, a opção de fundo de PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal".

O país não pode aceitar "que para muitos sobrem os sacrifícios e para poucos os lucros", a "brutal pressão, chantagem e ataque aos salários, ao mesmo tempo que o Governo, por via do Orçamento do Estado, assegura lucros milionários aos grupos económicos", sustentou.

E questionou o 'mantra' de António Costa: "Contas certas para quem e com quem?"

Paulo Raimundo advertiu o primeiro-ministro que o Governo "não ficou totalmente de mãos livres" com a maioria absoluta. O descontentamento da população e a "intervenção do PCP" são forças que "lhe fazem frente".

Em relação à guerra da Ucrânia, afirmou que o partido tem a "autoridade de quem sempre se opôs" à guerra na Ucrânia e alertou que o "fogo não se apaga com gasolina". "Fogo não se apaga com gasolina, tomamos a iniciativa pela paz", considerou.

Resolução política aprovada com uma abstenção

A resolução política da Conferência Nacional do PCP foi aprovada este domingo com uma abstenção, pelos delegados presentes, que aplaudiram de pé. O texto preconiza a intensificação da oposição ao PS, e aos partidos de direita, e prioriza a formação de novos quadros.

Na nova versão agora aprovada, é também acrescentado um ponto sobre a situação internacional, que considera "urgente a exigência do fim da instigação da guerra na Ucrânia por parte dos EUA, da NATO e da União Europeia" e a "abertura de vias de negociação com os demais intervenientes, nomeadamente a Federação Russa, visando uma solução política para o conflito".

O partido identifica no texto como "problemas e exigências à intervenção do PCP" a "alteração da correlação de forças no plano político e institucional com a obtenção de uma maioria absoluta do PS — acompanhada da diminuição da expressão eleitoral com incidência na redução da representação parlamentar do PCP — alcançada na base da chantagem e mistificação que visou criar as condições para romper com um percurso, ainda que limitado" de reposição de direitos, escrevem.

PSD, Iniciativa Liberal, Chega e CDS são caracterizados como forças com "agendas de natureza retrógrada, demagógica, neoliberal ou fascizante" que constituem "uma ameaça" aos trabalhadores e à democracia. Os comunistas acusam o PS de "encenar e empolar" uma confrontação com estas forças mas de na verdade terem "uma ação convergente".

Ao nível da organização interna, o PCP assume o objetivo de reforçar a sua estrutura com "1.000 novos quadros, com destaque para operários e outros trabalhadores, jovens e mulheres, por tarefas regulares e organizações do partido" nos próximos dois anos. O recrutamento de mais militantes é outro dos objetivos que faz parte de um esforço para reestruturar o PCP e contrariar a "ofensiva antidemocrática, com forte pendor anticomunista" — uma das justificações apontadas para o declínio eleitoral do partido que foi amplamente verbalizada por dirigentes nos últimos anos.

Apesar daquilo que considerou ser uma "extraordinária resposta dada pelo coletivo partidário nos últimos anos que assegurou não apenas o funcionamento da organização no seu todo, mas também a intervenção política", o PCP perdeu praticamente metade dos deputados em dois anos (elegeu dez nas legislativas de 2019, mas ficou reduzido a seis nas eleições antecipadas de janeiro deste ano).

O desenvolvimento e intensificação da "luta dos trabalhadores e das massas populares", através do trabalho de proximidade com as estruturas sindicais, nomeadamente a CGTP, também faz parte do objetivo de alcançar a "política alternativa, patriótica e de esquerda" — expressão quase sempre presente nas intervenções do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa — que o partido preconiza.

Ao longo das 16 páginas que compõem o projeto de resolução da conferência, o PCP enaltece a importância de dinamizar os jornais de propaganda do partido — o "Avante!" e "O Militante" — assim como a necessidade de assegurar a independência financeira.

À resolução inicialmente distribuída pelos delegados foram acrescentados dois novos pontos, um sobre juventude e um outro sobre a situação internacional e a guerra na Ucrânia.

No tópico sobre juventude, o PCP pretende tomar iniciativa "junto dos jovens trabalhadores, promovendo a sua mobilização em torno do aumento dos salários, do combate à precariedade".

"Uma ação que, valorizando a juventude como importante força social, se articule com a iniciativa da Juventude Comunista Português (JCP) e dos jovens comunistas, na sua diversificada intervenção nas escolas e locais de trabalho, no movimento juvenil e estudantil", lê-se no texto.

No texto inicial o conflito na Ucrânia já era referido nalgumas partes, mas na resolução final acrescenta-se um ponto novo sobre a situação internacional, intitulado "Tomar a iniciativa pela paz e a solidariedade com os povos". O PCP posiciona-se contra "o militarismo e a corrida armamentista", o "alargamento da NATO e pela sua dissolução", contra a militarização da União Europeia e defendem "acordos de controlo, limitação e redução de armamentos e a abolição das armas nucleares".

"É urgente a exigência do fim da instigação da guerra na Ucrânia por parte dos EUA, da NATO e da União Europeia e a abertura de vias de negociação com os demais intervenientes, nomeadamente a Federação Russa, visando uma solução política para o conflito, a resposta aos problemas de segurança coletiva e do desarmamento na Europa, o cumprimento dos princípios da Carta da ONU e da Ata Final de Helsínquia", é acrescentado no texto.

De fora do texto, rejeitadas pela direção, ficaram propostas de alteração apresentadas por militantes que relacionavam o voto do partido contra o Orçamento do Estado para 2022 com quebras eleitorais e as que "refaziam uma avaliação da situação internacional, desvalorizando o papel do imperialismo americano enquanto principal fator do seu agravamento".

Notícia atualizada às 15:05
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