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Preços da energia na Europa disparam com chegada de inverno rigoroso
A subida dos preços da energia tem alimentado a inflação, que é uma dor de cabeça para os decisores políticos – que já se debatem com o problema da propagação da variante ómicon do coronavírus.
A Europa está a braços com uma escassez de energia, numa altura em que o tempo mais frio está a fazer-se sentir, o que faz aumentar a procura e disparar os preços, sem qualquer alívio à vista.
Prevê-se que as temperaturas caiam para valores abaixo dos zero graus Celsius em várias capitais europeias, esta semana, "espremendo" as redes elétricas que já se debatem com as baixas velocidades do vento e a paragem de centrais nucleares em França.
Para piorar as coisas, a Rússia está hoje a limitar o fluxo de gás natural escoado através de uma importante rota de exportação para a Alemanha, depois de ter atingido o teto da oferta durante o fim de semana. Esta rota deverá ser usada de modo apenas parcial em janeiro.
Os preços da energia têm estado a escalar este ano, com o gás europeu a disparar em torno de 600%. O preço do contrato de referência do gás europeu galgou 8,8% nesta segunda-feira, ao passo que a eletricidade a 12 meses na Alemanha – "benchmark" no Velho Continente – pulou 3,1% para um novo recorde de 250 euros por megawatt/hora (MWh). O contrato da eletricidade em França disparou 9%, também para máximos de sempre.
O preço do contrato de curto prazo da eletricidade também encareceu, a par com o custo do uso de fontes energéticas mais "sujas" na Europa. Em França, a eletricidade para entrega a um dia disparou para 442,88 euros/MWh, o valor mais alto desde 2009, num leilão realizado hoje. Já o contrato na Alemanha subiu para o valor mais alto de sempre.
As licenças de carbono, por seu lado, escalaram 6,2% para 77,84 euros por tonelada.
A subida dos preços da energia tem alimentado a inflação, que é uma dor de cabeça para os decisores políticos – que já se debatem com o problema da propagação da variante ómicon do coronavírus.
As tensões geopolíticas entre a Rússia e a Ucrânia também poderão piorar as coisas, com uma potencial invasão a poder fazer subir ainda mais os preços.
Jeremy Weir, CEO da operadora de matérias-primas Trafigura, advertiu no mês passado para a possibilidade de a Europa poder experienciar apagões frequentes no caso de um Inverno rigoroso. Isso foi antes de a Electricité de France ter dito que iria proceder à paragem de reatores – que representam 10% da capacidade nuclear do país –, deixando a região à mercê do tempo, no pico do inverno em janeiro e fevereiro.
Os preços de referência do gás nos Países Baixos aumentaram para perto de 149 euros/MWh, o valor mais elevado de um contrato desde 6 de outubro. Os futuros travaram parte da subida depois de a Gazprom PJSC ter reservado cerca de 21% do gasoduto Yamal-Europa para janeiro num leilão esta segunda-feira para capacidade a um mês. Embora limitado, já é uma mudança face aos menos previsíveis leilões diários que aquela exportadora optou por usar para dezembro.
Mas os resultados do leilão "não diminuirão o risco de um aperto da oferta, atendendo às limitadas reservas até agora", comentou Ole Hansen, diretor de estratégia para "commodities" no Saxo Bank. "No entanto, com um mercado que desespera por soluções, qualquer pequena coisa ajuda", acrescentou.
Com as interrupções de energia nuclear, os produtores de eletricidade terão de usar mais gás para manterem as luzes acesas. No que toca à exportação de gás para a Alemanha, através do gasoduto Yamal-Europa, a Rússia pretende manter limites, o que poderá obrigar a Europa a depender dos seus inventários já bastante esvaziados. Os locais de armazenamento estão apenas 60% cheios, um mínimo histórico para esta altura do ano.
Esta segunda-feira, apenas 4% da capacidade foi alocada para enviar gás através da estação alemã de Mallnow, onde termina o gasoduto que atravessa a Bielorrúsia e a Polónia. Este valor compara com cerca de 35% do espaço disponível que a Rússia reservou para a maioria dos dias do presente mês.
Não há alívio à vista para este aperto do mercado, uma vez que se prevê que as temperaturas permaneçam abaixo dos níveis normais no Reino Unido, Dinamarca e norte da Alemanha na próxima semana.
Embora os operadores esperem que o gás natural liquefeito possa de alguma forma ajudar, devido à menor procura na Ásia, o desvio dos cargueiros demorará tempo e não é previsível que o aumento de chegadas aos portos europeus ocorra antes de janeiro.
Enquanto isso, a energia eólica deve permanecer baixa na Alemanha até 23 de dezembro. Em França e no Reino Unido, estimam-se que a geração de energia eólica caia na terça-feira, provocando ainda mais problemas de abastecimento.