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Porque são as elites económicas melhores que as políticas em Portugal?
Portugal surge a meio da tabela num estudo inédito sobre a qualidade das elites, que ao nível da criação de valor revela um desempenho muito superior na economia do que na política. Conheça o ranking liderado por Singapura.
O Índice da Qualidade das Elites (EQx), em que Portugal surge em 14.º lugar num total de 32 países, à frente de Espanha, Itália e França, mede em cada nação a capacidade de criarem ou extraírem valor da sociedade e, por outro lado, numa variável de poder, como fazem prevalecer as suas preferências e interesses por intermédio das instituições que dirigem ou que conseguem influenciar.
Na conferência de imprensa da apresentação da primeira edição deste estudo, que será atualizado anualmente e em janeiro alargado a mais de uma centena de países, a responsável pela análise portuguesa detalhou que este índice de economia política mostra "de forma agregada" o contributo indireto das elites, através das suas ações. "É impossivel identificar todas. E mesmo que o fizéssemos, no momento seguinte o conjunto já tinha mudado e voltávamos a ter o mesmo problema", explicou Cláudia Ribeiro.
Neste índice que cruza os indicadores de valor e de poder com as dimensões económica e política, o desempenho das elites económicas nacionais ao nível da criação de valor colocaria o país na 10.ª posição, enquanto as políticas, consideradas isoladamente, fariam cair o país para o fundo da classificação (25.º). "Os políticos portugueses não se podem queixar do poder que têm (11.º lugar). Nós é que nos podemos queixar do valor que a elite política cria", resumiu Óscar Afonso, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).
Ora, quais são os indicadores concretos, do total de 72 analisados para este ranking liderado por Singapura, que ajudam a explicar o melhor comportamento das elites económicas face às políticas em Portugal? Os corresponsáveis pela avaliação nacional, nesta parceria com a Universidade de St. Gallen, na Suíça, enfatizaram o bom desempenho ao nível da liberdade das trocas com o exterior (6.º lugar), das barreiras à entrada (7.º) ou da captação de investimento direto estrangeiro (7.º).
Óscar Afonso referiu que estes resultados "estão em linha com o esperado para uma pequena economia aberta ao exterior, com vantagens competitivas no turismo e que promoveu uma série de privatizações e os ‘vistos gold’ como forma de financiamento externo". E que, acrescentou, nos últimos anos tem conseguido atrair vários investimentos nas áreas tecnológicas "decorrente do valor competitivo da mão-de-obra qualificada" existente no país.
Mais poder do que valor
Ao invés, o professor universitário assinalou esta quarta-feira, 2 de setembro, que o pior desempenho ao nível do valor político decorre das significativas disparidades regionais, da baixa qualidade dos serviços públicos (especialmente fora de Lisboa e do Porto) e dos elevados encargos sobre as empresas – "completamente abafadas pelo Estado ao nível de impostos, contribuições e de tarefas que têm de cumprir", que levam à perda de competitividade e ao baixo nível de investimento. Outro destaque negativo é o "medíocre comportamento dos gastos públicos (29º), que representa uma forte extração de valor das gerações futuras de contribuintes".
Já nos chamados indicadores de poder, seja político ou económico, Portugal apresenta um desempenho superior à média dos países inquiridos. Na área da economia contribuem para isso o "bom dinamismo" na entrada e saída de empresas em alguns mercados ou o escasso número de grandes empresas, que faz com que o poder económico não esteja muito concentrado". Os resultados ao nível do poder político beneficiam da "partilha da soberania" pela pertença à União Europeia e com os municípios e as regiões autónomas, sendo também valorizada a imposição de quotas de género em cargos políticos e no setor empresarial do Estado.