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Obama diz que nem todos os problemas podem ser resolvidos com tanques de guerra
O anterior Presidente dos EUA, Barack Obama, advertiu esta quinta-feira que não é possível resolver "todos os problemas com tanques e aviões de guerra", em referência ao conflito com a Coreia do Norte, durante um fórum realizado em São Paulo.
"Não podemos resolver todos os problemas com tanques e aviões de guerra, tenho orgulho do poder militar dos Estados Unidos e isso é uma vantagem. A Coreia do Norte é um perigo e precisamos de fortes alianças para enfrentá-lo, mas a segurança não depende apenas da força militar, mas também de forte diplomacia", disse Obama numa alusão à política de seu sucessor, Donald Trump.
O ex-presidente dos Estados Unidos lembrou que, quando assumiu o cargo, o risco veio do Irão e ele formalizou um acordo nuclear que impediu que esse país se tornasse uma ameaça, como hoje é a Coreia do Norte.
"Um dos meus orgulhos é o acordo nuclear com o Irão, negociamos com o Irão, um país com grandes diferenças com os Estados Unidos e problemas exportados para outros países, um governo que era um adversário e, no entanto, acreditávamos que era necessário resolver um problema específico e garantir que não desenvolvessem armas nucleares ", disse ele.
"Isso demorou um pouco, mas conseguimos, e a consequência é que o Irão não foi pelo mesmo caminho que a Coreia do Norte. Temos grandes tensões, mas o problema foi resolvido sem qualquer disparo, e isso mostra que podemos ter resultados com uma forte diplomacia", acrescentou.
No fórum organizado pelo banco Santander e pelo jornal Valor Económico, Obama admitiu que uma das questões pendentes de seu mandato foi não conseguir reduzir as diferenças políticas na sociedade americana.
"A minha maior autocrítica é que eu não consegui reduzir as diferenças que já estavam a emergir na nossa política, parece que não contribuí muito com isso. Tentei ser uma pessoa calma, mas acho que quando entreguei o cargo, vi frustrada a esperança de reunir as pessoas acima das diferenças ", disse Obama.
Na sua opinião, a crise económica exacerbou as diferenças nos Estados Unidos, porque apesar de ter respondido "com sucesso" à recessão, "a recuperação foi lenta e deixou muitas pessoas frustradas, e a raiva na política parece ter aumentado".
Na sua palestra para uma audiência de empresários em São Paulo, Obama aludiu ao avanço do populismo e defendeu o reforço da democracia para deter esta tendência.
"Não é surpreendente que ao longo do tempo vejamos movimentos populistas e autoritários avançando e ameaçando. Estes perigos existem, mas o que deve ser reforçado é que a democracia é a melhor forma de governo projectada pelo homem", declarou.
Obama criticou veementemente Donald Trump elencando o ponto de vista nacionalista do seu sucessor, que culpa outros países pelas perdas de empregos, o fecho de fronteiras para imigrantes, apoio a sectores que negam os efeitos das mudanças climáticas e propostas para restringir a comunicação social.
Depois de admitir que os Estados Unidos têm sérios problemas de monopólio nos media e que a opinião pública é composta por apenas três redes de televisão, o ex-Presidente dos EUA considerou "mais perigoso para os governos começarem a censurar ou restringir o que circula nos media e na internet".
Obama vai encontrar-se hoje com um grupo de jovens brasileiros e viajará para a Argentina na sexta-feira.