Notícia
O telefonema que tramou Berlusconi
"Numa noite fria de Outubro, na sua austera chancelaria, Angela Merkel, fez uma chamada confidencial para Roma". Objectivo: Salvar o euro, afastando do poder o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
11 de Janeiro de 2012 às 16:34
Esta é a principal conclusão de uma longa investigação realizada pelo "Wall Street Journal", com base em dezenas de entrevistas a políticos e na análise de documentos, sobre a queda de Berlusconi, no início de Novembro. Poucos meses antes, a crise da dívida tinha saído, pela primeira vez, da periferia e começava a atingir uma das maiores economias do euro e um dos membros fundadores da Europa.
"Até à altura, a Europa seguiu uma fórmula simples para preservar o euro: os países mais fortes, financeiramente, salvavam os mais fracos. Mas a Itália, com cerca de 2,6 biliões de euros de dívida, era, simplesmente demasiado grande para salvar", escreve o "Wall Street Journal".
Sem capacidade para resgatar um país como a Itália, restava aos líderes europeus duas hipóteses: "ou a Itália mudava o primeiro-ministro ou Berlusconi mudava a Itália". Como se sabe a primeira hipótese venceu e Berlusconi anunciou, a 8 de Novembro, que abandonaria o cargo.
O que não se conhecia, até agora, era o papel de Angela Merkel na saída de cena do "Il Cavalieri". Segundo o "Wall Street Journal", naquela noite fria de Outubro, Merkel ligou para o presidente italiano, Giorgio Napolitano, e "pediu-lhe gentilmente para mudar o seu primeiro-ministro, se este – Silvio Berlusconi – não conseguisse mudar a Itália".
Merkel quebrava assim a regra tácita dos líderes europeus de não intervirem nos assuntos internos dos outros países.
Os últimos dias de Berlusconi no poder
A 3 de Agosto de 2011, já depois dos mercados terem começado a pressionar o país, Berlusconi garante, no parlamento, que as suas políticas agradaram à Europa. É desmentido dois dias mais tarde pelo Banco Central Europeu, que numa carta secreta, sublinha que o plano de redução do défice "não é suficiente".
A carta detalha uma série de medidas que a Itália deveria adoptar no sentido de melhorar a concorrência, flexibilizar o mercado laboral, reduzir a burocracia e aumentar os cortes dos gastos públicos, recorda o "Wall Street Journal". "A mensagem implícita era: estas reformas são a condição para que o BCE intervenha no mercado da dívida".
"Roma ficou furiosa. Giulio Tremonti [antigo ministro das Finanças] disse mais tarde a alguns ministros das Finanças da Europa que, em Agosto, o seu governo recebeu duas cartas ameaçadoras: uma de um grupo terrorista e outra do BCE. 'A do BCE foi a pior', disse".
A 7 de Agosto, Berlusconi respondeu ao BCE, comprometendo-se a avançar com reformas mais profundas e maiores cortes de dívida. No dia seguinte o banco central começou a comprar dívida italiana no mercado secundário e os juros baixaram.
Mas era, internamente, que Berlusconi enfrentava os maiores problemas. Os parceiros de coligação – a Liga Norte – recusaram-se a aceitar medidas como, por exemplo, o aumento da idade da reforma: uma das principais exigências do BCE.
Os juros voltaram a subir e desta vez o BCE não estava lá para "salvar" o país. "E a Europa ficou sem saber para onde se virar. (…) O fundo de resgate do euro – já comprometido com a Grécia, Irlanda e Portugal – não tinha dinheiro suficiente para salvar a Itália."
A 19 de Outubro, Sarkozy viajou para Frankfurt para dizer ao antigo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, que só uma acção forte por parte do banco central no mercado da dívida podia salvar a Zona Euro. "A tarefa do BCE não é financiar governos", respondeu Trichet.
É na sequência deste encontro, no qual também participou Angela Merkel, que surge o "tal" telefonema confidencial da chanceler para Roma. Merkel terá dito a Napolitano que a Europa "reconhecia" os esforços do país para baixar a dívida mas que eram necessárias mais medidas para impulsionar o crescimento económico.
Após a Cimeira Europeia de 26 de Outubro e o encontro do G20, a 3 de Novembro em Cannes, Berlusconi perdeu o apoio da coligação governamental que liderava e na votação das contas de 2010, a 8 de Novembro, foi incapaz de reunir uma maioria absoluta - o que confirmou votos dissidentes vindos do seio do arco político que sustenta o seu Executivo.
Segundo a Reuters, no rescaldo da votação a oposição reclamou, em bloco, a demissão de Berlusconi, considerando que a perda da maioria absoluta confirmava que este não tinha condições políticas para prosseguir à frente do Governo italiano.
Após a votação no parlamento, Giorgio Napolitano chamou Silvio Berlusconi e foi o próprio presidente italiano que anunciou que o primeiro-ministro se iria demitir. Dias mais tarde é anunciado o nome de Mario Monti para liderar o governo italiano.
"Até à altura, a Europa seguiu uma fórmula simples para preservar o euro: os países mais fortes, financeiramente, salvavam os mais fracos. Mas a Itália, com cerca de 2,6 biliões de euros de dívida, era, simplesmente demasiado grande para salvar", escreve o "Wall Street Journal".
O que não se conhecia, até agora, era o papel de Angela Merkel na saída de cena do "Il Cavalieri". Segundo o "Wall Street Journal", naquela noite fria de Outubro, Merkel ligou para o presidente italiano, Giorgio Napolitano, e "pediu-lhe gentilmente para mudar o seu primeiro-ministro, se este – Silvio Berlusconi – não conseguisse mudar a Itália".
Merkel quebrava assim a regra tácita dos líderes europeus de não intervirem nos assuntos internos dos outros países.
Os últimos dias de Berlusconi no poder
A 3 de Agosto de 2011, já depois dos mercados terem começado a pressionar o país, Berlusconi garante, no parlamento, que as suas políticas agradaram à Europa. É desmentido dois dias mais tarde pelo Banco Central Europeu, que numa carta secreta, sublinha que o plano de redução do défice "não é suficiente".
A carta detalha uma série de medidas que a Itália deveria adoptar no sentido de melhorar a concorrência, flexibilizar o mercado laboral, reduzir a burocracia e aumentar os cortes dos gastos públicos, recorda o "Wall Street Journal". "A mensagem implícita era: estas reformas são a condição para que o BCE intervenha no mercado da dívida".
"Roma ficou furiosa. Giulio Tremonti [antigo ministro das Finanças] disse mais tarde a alguns ministros das Finanças da Europa que, em Agosto, o seu governo recebeu duas cartas ameaçadoras: uma de um grupo terrorista e outra do BCE. 'A do BCE foi a pior', disse".
A 7 de Agosto, Berlusconi respondeu ao BCE, comprometendo-se a avançar com reformas mais profundas e maiores cortes de dívida. No dia seguinte o banco central começou a comprar dívida italiana no mercado secundário e os juros baixaram.
Mas era, internamente, que Berlusconi enfrentava os maiores problemas. Os parceiros de coligação – a Liga Norte – recusaram-se a aceitar medidas como, por exemplo, o aumento da idade da reforma: uma das principais exigências do BCE.
Os juros voltaram a subir e desta vez o BCE não estava lá para "salvar" o país. "E a Europa ficou sem saber para onde se virar. (…) O fundo de resgate do euro – já comprometido com a Grécia, Irlanda e Portugal – não tinha dinheiro suficiente para salvar a Itália."
A 19 de Outubro, Sarkozy viajou para Frankfurt para dizer ao antigo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, que só uma acção forte por parte do banco central no mercado da dívida podia salvar a Zona Euro. "A tarefa do BCE não é financiar governos", respondeu Trichet.
É na sequência deste encontro, no qual também participou Angela Merkel, que surge o "tal" telefonema confidencial da chanceler para Roma. Merkel terá dito a Napolitano que a Europa "reconhecia" os esforços do país para baixar a dívida mas que eram necessárias mais medidas para impulsionar o crescimento económico.
Após a Cimeira Europeia de 26 de Outubro e o encontro do G20, a 3 de Novembro em Cannes, Berlusconi perdeu o apoio da coligação governamental que liderava e na votação das contas de 2010, a 8 de Novembro, foi incapaz de reunir uma maioria absoluta - o que confirmou votos dissidentes vindos do seio do arco político que sustenta o seu Executivo.
Segundo a Reuters, no rescaldo da votação a oposição reclamou, em bloco, a demissão de Berlusconi, considerando que a perda da maioria absoluta confirmava que este não tinha condições políticas para prosseguir à frente do Governo italiano.
Após a votação no parlamento, Giorgio Napolitano chamou Silvio Berlusconi e foi o próprio presidente italiano que anunciou que o primeiro-ministro se iria demitir. Dias mais tarde é anunciado o nome de Mario Monti para liderar o governo italiano.