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Moody’s antecipa crescimento mais moderado e subida do défice em 2018
A agência de notação financeira está mais pessimista do que o Governo em relação ao crescimento da economia e à evolução do défice, mas admite que uma consolidação orçamental e redução da dívida mais rápidas podem beneficiar o rating.
A agência Moody’s elogia a evolução da economia portuguesa este ano, mas acredita que as perspectivas a mais longo prazo continuam "moderadas". Porém, se Portugal surpreender ao nível da consolidação orçamental e da redução da dívida, isso poderá ter um efeito positivo no rating atribuído pela agência, que coloca neste momento a dívida portuguesa num nível abaixo do patamar de investimento.
Num relatório divulgado esta sexta-feira, 19 de Maio, a agência de notação financeira antecipa que a subida do PIB deverá abrandar de 1,7% este ano para 1,4%, em 2018, abaixo das estimativas do Governo que apontam para um crescimento da economia de 1,9% no próximo ano. Já o défice deverá deteriorar-se para 2% do PIB em 2018, o que compara com os 1% previstos pelo Executivo de António Costa.
A classificação da dívida portuguesa poderá ser aumentada se a consolidação orçamental e a redução da dívida acelerarem significativamente em comparação com as expectativas. "Um crescimento económico mais forte também seria benéfico para a notação", destaca a Moody’s.
Pelo contrário, o rating poderia ser penalizado se houvesse sinais de que o compromisso do Governo com a consolidação orçamental e com a redução da dívida diminuiu, ou se não houvesse apoio político para "políticas orçamentais prudentes". "Isto colocaria em risco a sustentabilidade da tendência da dívida pública", acrescenta a agência de notação financeira.
Redução da dívida "gradual"
Para a Moody’s, o elevado nível de dívida pública continua a ser uma preocupação, com a agência a estimar que esta cairá gradualmente, ainda que se deva fixar em torno de 125% do PIB em 2020.
"O perfil de crédito de Portugal é sustentado pela recuperação económica, pelo seu regresso aos mercados de capitais privados, pela diversificação da economia e pelos níveis relativamente elevados de riqueza média", afirma Evan Wohlmann, vice-presidente da Moody's e co-autor do relatório. "A principal restrição de crédito em Portugal está relacionada com a sua elevada dívida pública. Embora esperemos que a dívida comece a diminuir em percentagem do PIB este ano, qualquer redução da dívida só será gradual".
No relatório, a Moody’s salienta ainda que, apesar dos desenvolvimentos positivos em 2017 terem ajudado a estabilizar o sector bancário, a susceptibilidade a riscos continua a existir.
A agência concretiza que o elevado nível de crédito malparado continua a ser uma preocupação, perpetuando o ciclo negativo entre bancos fracos, investimento moderado e baixo crescimento económico.
Este relatório anual da Moody’s para Portugal surge depois de a 5 de Maio a agência não ter alterado a notação financeira, que se manteve assim em Ba1, o primeiro nível da categoria de investimento especulativo, ou lixo. O "outlook", que é a perspectiva para a evolução da qualidade da dívida, continua a ser "estável". 1 de Setembro é próxima data no calendário para a agência se pronunciar sobre o "rating" de Portugal.
Depois de ter elevado o rating de Portugal para o actual patamar, a 25 de Julho de 2014, a Moody's já teve agendadas várias revisões mas tem decidido não proceder a qualquer mexida. Entre as restantes grandes agências, também a Fitch e a Standard & Poor’s colocam Portugal neste patamar e com perspectiva "estável". Apenas a canadiana DBRS tem a dívida soberana do país fora de "lixo", no último grau da categoria de investimento de qualidade – sendo que o "outlook" é "estável".