Notícia
Merkel faz volte-face no acordo UE-Mercosul face à ameaça ecológica na Amazónia
A chanceler alemã expressou hoje pela primeira vez "sérias dúvidas" sobre o futuro do acordo comercial entre a União Europeia e os países do Mercosul, face à ameaça ecológica que paira sobre a floresta amazónica no Brasil.
21 de Agosto de 2020 às 18:23
"Temos sérias dúvidas de que o acordo possa ser aplicado conforme o planeado quando vemos a situação" na Amazónia, afirmou o porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert.
Este acordo de livre comércio foi assinado no ano passado entre a UE e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), mas para ser validado definitivamente, ainda deve ser ratificado por todos os parlamentos nacionais, que não é o caso.
O Parlamento austríaco e, mais recentemente, o Parlamento holandês, rejeitaram o acordo na sua forma atual. Outros países como a Bélgica, França, Irlanda e Luxemburgo mostraram-se reticentes.
Até agora, a Alemanha tem sido um dos grandes promotores deste acordo. Os comentários feitos hoje pelo seu governo aumentaram a irritação do lado europeu, porque o texto concentra os ataques feitos pelos ecologistas, que temem o impacto do acordo no ambiente.
A grande preocupação dos ecologistas é uma maior abertura dos mercados europeus à carne sul-americana, enquanto a pecuária é responsável pela desflorestação na Amazónia, segunda a organização não-governamental World Wildlife Fund (WWF).
Em resposta a essas críticas, foi incluído no texto final um capítulo que vai cobrir a "conservação florestal".
Porém, a chanceler alemã tem agora "fortes preocupações" com a "desflorestação contínua" e os "incêndios", que aumentaram nas últimas semanas na Amazónia.
"Estamos céticos. Neste contexto, [Berlim] levanta sérias questões sobre a aplicação prevista" do acordo e, em particular, desta cláusula, afirmou Steffen Seibert, acrescentando que a "Amazónia diz respeito a todo o mundo".
No verão passado, a multiplicação dos incêndios na maior floresta tropical do mundo desperto a emoção da comunidade internacional.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, já havia ameaçado não ratificar o acordo, caso o governo brasileiro de Jair Bolsonaro não tomasse as medidas necessárias para proteger a floresta.
No entanto, os incêndios aumentaram 28% em julho, em comparação com mesmo mês do ano passado.
A posição de Angela Merkel surge no dia seguinte a um encontro entre a chanceler e responsáveis pelo movimento "Sextas-feiras pelo Futuro", em particular a jovem ativista Greta Thunberg, em Berlim.
"Angela Merkel aprovou as nossas críticas ao acordo com o Mercosul e não pretende assiná-lo", afirmou também na rede social Twitter Luisa Neubauer, importante figura do movimento na Alemanha, que também participou no encontro.
O acordo foi originalmente apoiado pela Alemanha e a poderosa indústria exportadora, principalmente a indústria automóvel, que o viu como uma oportunidade para novos mercados.
Reagindo às observações da chanceler, a Organização das Câmaras de Comércio e Indústria defendeu o acordo "que pode dar o impulso que a economia necessita urgentemente durante a atual crise".
Mas as preocupações ecológicas, amplamente partilhadas pela opinião alemã, estão a ganhar cada vez mais peso no país, onde as manifestações reúnem regularmente milhares de jovens ativistas.
AXYG // EL
Lusa/Fim
Este acordo de livre comércio foi assinado no ano passado entre a UE e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), mas para ser validado definitivamente, ainda deve ser ratificado por todos os parlamentos nacionais, que não é o caso.
Até agora, a Alemanha tem sido um dos grandes promotores deste acordo. Os comentários feitos hoje pelo seu governo aumentaram a irritação do lado europeu, porque o texto concentra os ataques feitos pelos ecologistas, que temem o impacto do acordo no ambiente.
A grande preocupação dos ecologistas é uma maior abertura dos mercados europeus à carne sul-americana, enquanto a pecuária é responsável pela desflorestação na Amazónia, segunda a organização não-governamental World Wildlife Fund (WWF).
Em resposta a essas críticas, foi incluído no texto final um capítulo que vai cobrir a "conservação florestal".
Porém, a chanceler alemã tem agora "fortes preocupações" com a "desflorestação contínua" e os "incêndios", que aumentaram nas últimas semanas na Amazónia.
"Estamos céticos. Neste contexto, [Berlim] levanta sérias questões sobre a aplicação prevista" do acordo e, em particular, desta cláusula, afirmou Steffen Seibert, acrescentando que a "Amazónia diz respeito a todo o mundo".
No verão passado, a multiplicação dos incêndios na maior floresta tropical do mundo desperto a emoção da comunidade internacional.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, já havia ameaçado não ratificar o acordo, caso o governo brasileiro de Jair Bolsonaro não tomasse as medidas necessárias para proteger a floresta.
No entanto, os incêndios aumentaram 28% em julho, em comparação com mesmo mês do ano passado.
A posição de Angela Merkel surge no dia seguinte a um encontro entre a chanceler e responsáveis pelo movimento "Sextas-feiras pelo Futuro", em particular a jovem ativista Greta Thunberg, em Berlim.
"Angela Merkel aprovou as nossas críticas ao acordo com o Mercosul e não pretende assiná-lo", afirmou também na rede social Twitter Luisa Neubauer, importante figura do movimento na Alemanha, que também participou no encontro.
O acordo foi originalmente apoiado pela Alemanha e a poderosa indústria exportadora, principalmente a indústria automóvel, que o viu como uma oportunidade para novos mercados.
Reagindo às observações da chanceler, a Organização das Câmaras de Comércio e Indústria defendeu o acordo "que pode dar o impulso que a economia necessita urgentemente durante a atual crise".
Mas as preocupações ecológicas, amplamente partilhadas pela opinião alemã, estão a ganhar cada vez mais peso no país, onde as manifestações reúnem regularmente milhares de jovens ativistas.
AXYG // EL
Lusa/Fim