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Leitores dão preferência marginal a um BCE que não financie governos

João Galamba e Adolfo Mesquita Nunes criaram o espaço para uma reflexão cativante sobre o papel do BCE. Leitores responderam com votos e argumentos

11 de Maio de 2012 às 00:01
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Os leitores que se opõem a que o BCE actue como credor de último recurso dos Estados acabaram por ganhar uma votação sempre renhida ao oitavo dia de debate, e que começou com uma ligeira vantagem para a posição de João Galamba que se manteve à frente até terça-feira, dia de primeiro balanço e de contra-argumentos.


Galamba partiu para o debate com quatro ideias fortes: 1) A crise da Zona Euro é essencialmente o resultado de uma falha institucional: em 2008 e 2009 os orçamentos nacionais tiveram de ser usados para evitar o colapso da região, mas depois não houve um banco central comum para garantir a solvabilidade dos países; 2) A proibição de financiamento monetário dos Governo resulta de um preconceito anti-Estado: o BCE pode ser credor de último recurso do sector financeiro, mas não dos Governos; 3) A estabilização da Zona Euro precisa de investimento público, o qual neste contexto só será possível com essa garantia do banco central; 4) Privar os Estados de financiamento mas emprestar dinheiro aos bancos para que o façam indirectamente é uma contradição: ficam pior os Estados e os bancos.

Adolfo Mesquita Nunes, contra o financiamento dos Estados pelo BCE, centrou os seus argumentos na importância de impedir que os Governos adiem as reformas, a redução do endividamento e a procura de situações orçamentais sustentáveis. Para Mesquita Nunes: 1) A crise evidencia o falhanço de um modelo "socialista" de crescimento baseado na despesa e no endividamento; 2) A transformação nesta fase do BCE em credor de último recurso dos Governos permitirá que se continue a alimentar um modelo que oferece apenas uma ilusão de crescimento, adiando as reformas; 3) Permitirá mais dívida que redundará em mais inflação e num enfraquecimento da capacidade de actuação do BCE.

Os ingredientes para o debate estavam lançados. Nos primeiros cinco dias mais de 1.600 leituras de argumentos e 560 votos complementavam a troca de argumentos dos leitores do massa monetária. Carlos Novais, por exemplo, assinava por baixo a opinião de Mesquita Nunes, opondo-se a um sistema baseado na criação de moeda para expansão de crédito que acaba por resultar em bolhas e colapsos. Pedro Pinto evidenciava que, na prática, o BCE já é indirectamente credor de último recurso; Tiago Mestre vincava a fragilidade crescente do balanço balanço do BCE e João Monteiro Rodrigues considerava que, dada a gravidade da situação, o BCE deve mesmo financiar os Estados.

Terça-feira chegaram os contra-argumentos. O deputado centrista respondeu a Galamba recusando ter qualquer preconceito anti-Estado, e reforçando que, sem responsabilidade orçamental e noção dos limites de endividamento, não há moeda única que resista. Mesquita Nunes admitiu que pudesse haver argumentos para alterações na arquitectura do euro, mas sublinhou que não pode apoiar essa mudança quando os seus proponentes pretendem, essencialmente, prolongar um modelo de endividamento público crescente.

Galamba, por seu lado, reforçou que esta não é uma crise de dívida pública. Se fosse, Irlanda e Espanha, não estariam com problemas. Da mesma forma, o Reino Unido e os EUA estariam bem pior do que estão. Realçou ainda que ao optar por ser credor de último recurso através dos bancos, o BCE só está a aumentar os riscos dos bancos e dos Governos.

Nos últimos três dias de debate, o leitor Carlos Novais voltou a argumentar contra Galamba, defendendo que a expansão do crédito tem ser acompanhada de poupança e não de mais moeda. Juntaram-se ao debate outros dois leitores, estes apoiando o papel do BCE enquanto credor de último recurso. Nuno Pereira criticou o facto dos bancos receberem dinheiro do BCE a 1% para o emprestarem aos governos a juros muito mais altos. Ricardo Cabral apresentou uma critica completa ao actual modelo institucional do euro argumentando, por exemplo, que os bancos centrais prestam um serviço público e que existem para servir os Estados, não podendo, portanto, ter uma relação de superioridade sobre eles; e também que sem a intervenção do BCE, Portugal e vários outros países entrarão em incumprimento.

O debate e a votação acabaram neste frente-a-frente, mas os argumentos ficam para uma reflexão que é essencial para o futuro da união monetária. O massa monetária agradece a todos.




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