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Inspetor-geral de Finanças pediu para sair do cargo

Vítor Braz solicitou ao ministro das Finanças para não renovar a sua comissão de serviço, que termina no final do ano. Decisão surge numa altura em que ainda não se sabem os resultados das investigações do Ministério Público ao principal organismo inspetivo do Estado.

Nuno Ferreira Santos/Público
João D'Espiney joaodespiney@negocios.pt 26 de Novembro de 2019 às 12:01

Vítor Braz vai deixar de ser inspetor-geral de Finanças (IGF), depois de ter pedido ao ministro das Finanças para não renovar a sua comissão de serviço, que termina no final do ano.

"Considerando o pedido apresentado pelo inspetor-geral de Finanças de não renovação da respetiva comissão de serviço, com termo a 31 de dezembro de 2019 (...) determino a não renovação das comissões de serviço dos dirigentes superiores de 1.º e 2.º graus da IGF" e "a abertura de procedimentos concursais para recrutamento dos titulares dos cargos dirigentes superiores de 1.º e 2.º graus da IGF", lê-se no despacho assinado no dia 2 de novembro por Mário Centeno e publicado esta terça-feira, 26 de novembro, em Diário da República.

No preâmbulo do diploma, o ministro das Finanças afirma que regista "com agrado, o desempenho e os resultados alcançados" pela equipa liderada por Vítor Braz - que assumiu funções em 2015 depois de ter sido nomeada pela então ministra Maria Luís Albuquerque - mas defende que "considerando que o dever de transparência e de rigor de análise que pautam o funcionamento desta entidade, atentas as suas especiais e fundamentais atribuições, tornam imperativo que se proceda a uma periódica reavaliação da sua missão, sendo imprescindível que os respetivos dirigentes superiores vejam a respetiva legitimidade de atuação reforçada na sequência de um processo de seleção exigente, rigoroso, isento e imparcial".

Mário Centeno determina ainda "a manutenção no exercício de funções, em regime de gestão corrente, dos atuais titulares dos cargos de direção superior de 1.º e 2.º graus da IGF após o fim das respetivas comissões de serviço e até ao provimento a realizar em sequência dos procedimentos concursais" que irão ser abertos.

O Negócios tentou saber as razões invocadas por Vítor Braz para sair, mas o gabinete do ministro das Finanças remeteu o esclarecimento para a IGF. O Negócios questionou a IGF que, entretanto, divulgou um comunicado que pouco ou nada esclarece. "A IGF definiu, nos últimos 5 anos, uma nova visão dirigida aos desafios atuais e viu ampliadas as suas atribuições nos diferentes domínios da administração pública, as quais extravasam muito as funções de controlo financeiro e de legalidade (...) No contexto dos resultados alcançados e da evolução da IGF, a reflexão realizada pela tutela e pelo Inspetor-Geral, aconselha que a futura missão seja acompanhada de uma legitimidade de atuação reforçada por parte dos dirigentes responsáveis pelos resultados alcançados e pela concretização dessa missão, em contexto de maior incerteza".

Esta decisão surge numa altura em que ainda não se sabe o resultado das investigações do Ministério Público ao principal organismo inspetivo do Estado por suspeitas de "corrupção passiva, peculato e abuso de poder".

Tal como o Negócios noticiou a 30 de setembro de 2018, a IGF já estava a viver momentos conturbados com inspetores acusados de vender informação privilegiada, processos-crime e investigações judiciais em curso e acusações de conflitos de interesses de alguns responsáveis do organismo, incluindo do próprio inspector-geral, que também acumula o cargo (remunerado) de presidente do conselho de auditoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por escolha de Mário Centeno.

A 11 de dezembro de 2018, foi noticiado que a 
Polícia Judiciária estava a realizar buscas no organismo de topo do Ministério das Finanças a quem cabe o controlo estratégico financeiro do Estado. Os inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ estiveram também na Cruz Vermelha Portuguesa (CVP).

A nota publicada nesse dia no site da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa revelava que no inquérito estavam a ser investigados crimes de "corrupção passiva, peculato e abuso de poder", dos quais são suspeitos "altos responsáveis de serviços centrais da Administração Pública do Estado".

A investigação procura apurar as "responsabilidades individuais" dos dirigentes da administração pública "da área de serviços com a missão designadamente do controlo financeiro e fiscal do Estado, da área ministerial, incluindo uma Instituição humanitária de utilidade pública e uma empresa privada", refere o comunicado da Procuradoria-Geral Distrital.

Há indícios da prática de "actos ilícitos em procedimentos concursais, em ações de fiscalização que lesaram gravemente o Estado nos seus interesses financeiros -, tendo como contrapartidas benefícios individuais dos visados."

(Notícia atualizada às 16:28)

 

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