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Governo vê subida recorde da despesa, mais do dobro do que espera o FMI

Sem quaisquer novas medidas, o Programa de Estabilidade já entregue pelo ministro das Finanças pressupõe um aumento de gastos públicos de 9,6 mil milhões. Novas previsões do FMI, mas também do CFP, veem muito menos.

Sérgio Lemos
17 de Abril de 2024 às 21:46
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Sem somar medidas às que foram deixadas pelo anterior Governo, o ministro das Finanças projeta que a despesa pública tenha neste ano a maior subida de sempre no histórico disponível das administrações públicas. O Programa de Estabilidade aponta para mais 9,6 mil milhões de euros, muito acima do que é antecipado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de Vítor Gaspar ou o Conselho das Finanças Públicas (CFP) de Nazaré da Costa Cabral.

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento (na foto), enviou segunda-feira ao Parlamento projeções para as contas públicas que apontam para um excedente de 0,3% do PIB neste ano. O documento, como tinha sido pré-anunciado, foi concebido em políticas invariantes – isto é, sem acrescentar qualquer iniciativa do Programa do Governo –, com o saldo esperado a deixar uma margem muito limitada para novas medidas dentro do equilíbrio orçamental: 832 milhões de euros.

Em parte, o saldo previsto espelha uma previsão de abrandamento económico forte. O Governo espera 1,5% de subida do PIB apenas neste ano, abaixo do que esperam CFP (1,6%), Banco de Portugal (2%) ou FMI (1,7%). Mas o excedente baixo também resulta da expectativa de um forte aumento da despesa, muito acima da subida de receitas, com Miranda Sarmento a projetar que os gastos públicos cresçam de 42,3% para 44% do PIB, ou em 1,7 pontos percentuais. Face aos valores de PIB nominal do ano passado (265,5 mil milhões) e previstos no Terreiro do Paço para este ano (277,4), a subida corresponde a mais 9,6 mil milhões de despesa.




 

Não há no histórico de evolução das contas públicas, com dados a partir de 1995, qualquer aumento comparável. O mais próximo ocorreu em 2020, ano de embate da pandemia que obrigou a mobilizar apoios extraordinários e no qual a despesa pública total cresceu 7,7 mil milhões de euros.

Novas projeções do FMI divulgadas nesta quarta-feira contrastam fortemente com as do novo Governo. A atualização do Monitor Orçamental da instituição, publicação dirigida pelo ex-ministro português Vítor Gaspar, limita-se a ver um aumento de despesa de 0,8% do PIB neste ano, menos de metade do projetado pelo Governo. O excedente não vai ainda assim além de 0,2% do PIB, porque o FMI vê a receita estagnar na relação com o PIB.

Na publicação, o fundo indica que nas projeções para Portugal foram tidas em conta as medidas do OE 2024 em vigor. Foi também esse o pressuposto das projeções do Programa de Estabilidade.

As contas do Governo contrastam ainda com a recente previsão do CFP, igualmente num cenário em políticas invariantes. A entidade espera um aumento de 1 ponto percentual na despesa, para 43,3% do PIB. Tendo em conta a evolução do PIB, a subida rondará os oito mil milhões de euros.

Portugal em grupo restrito que só vê excedentes até 2029

De resto, e ao contrário das projeções que até aqui vinham sendo feitas pelo FMI, a atualização de previsões do Monitor Orçamental do Fundo deste ano já coloca Portugal numa rota consistente de equilíbrio das contas públicas.

 

São previstos excedentes orçamentais para todo o horizonte, algo que apenas sucede com sete das 37 economias avançadas consideradas pelo Fundo. Além de Portugal, estão na mesma situação Andorra, Chipre, Irlanda, Noruega, Singapura e Suíça.

 

Em 2023, o FMI assume ainda 1% do PIB de excedente, abaixo do verificado, seguindo-se depois uma previsão de contínuos pequenos excedentes de 0,2% do PIB até 2029.

 

O Governo assume os 0,3% do PIB deste ano, sucedendo-lhes 0,3% do PIB, novamente, em 2025, e depois 0,1%, 0,6% e 0,4% do PIB até 2028.


 

 

 

Os dados do FMI para o saldo primário são também um pouco piores no ponto de partida do que os apurados pelo INE. O FMI assume 2,9% do PIB em 2023 (foi de 3,4% do PIB), prevendo depois alguma deterioração no médio prazo, para os 2,4% do PIB em 2029.

 

No que toca à evolução da dívida pública, também, o Fundo com sede em Washington diverge ligeiramente nos resultados em 2023 ao assumir 99% do PIB no peso da dívida (foi de 99,1% do PIB), e assume uma trajetória de redução  próxima daquela que está agora a ser projetada pelo Governo, em políticas invariantes.

 

Até 2028, Portugal poderá reduzir o rácio da dívida em 18,9 pontos percentuais para 80,1% do PIB, segundo o FMI. Já o Ministério das Finanças projeta uma quebra de 19,3 pontos percentuais, para 79,8% do PIB, no mesmo horizonte.

 

 

9,6
subida
As contas do Governo implicam um aumento nominal de despesa de 9,6 mil milhões de euros, acima daquele que houve na pandemia.

 

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