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Fotogaleria: Silêncios alegristas, festas comunistas e multidões cavaquistas

A campanha eleitoral para a Presidência da República chega hoje ao fim. Foram duas semanas a percorrer o país. O Negócios acompanhou um dia na campanha de três deles. De Alegre fica o silêncio, de Lopes as festas e de Cavaco os banhos de multidão. Veja aqui a reportagem e as fotos.

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"Eu podia chamar-te pátria minha/Dar-te o mais belo lindo nome português/Poderia dar-te um nome de rainha/Que este amor é de Pedro por Inês (…)". O poema "Uma Flor de Verde Pinho" foi escrito por Manuel Alegre nos anos 70. Mais de trinta anos passados foi, inesperadamente, recitado nesta campanha presidencial pelo mandatário distrital de Cavaco Silva, principal opositor do poeta. "Passei-me?", questiona o cirurgião Manuel Antunes. "Talvez. Alegre é sem dúvida um bom poeta. Era uma pena que deixasse de o ser".

A campanha eleitoral que hoje termina dificilmente servirá de inspiração para um novo poema. Entre múltiplas trocas de acusações e insinuações, as últimas duas semanas ficaram, essencialmente, marcadas por casos que pouco têm a ver com o papel do Presidente da República. Fica para a "história" o caso BPN e a possibilidade de Portugal precisar de recorrer à ajuda externa.

Consciente do "medo" que a entrada do FMI causa na sociedade portuguesa, Cavaco Silva focou o seu discurso de Coimbra na necessidade de um Presidente da República "moderador", "promotor de consensos" e "garante da unidade".

Discursos à parte, a passagem de Cavaco Silva pela cidade dos doutores ficou marcada por uma arruada concorrida, confusa mas, ainda assim, muito animada. Uma imensa massa humana, a tentar constantemente e a todo o custo transpor o círculo de segurança de cinco guarda-costas que rodeava Aníbal e Maria Cavaco Silva. Poucos foram os que o conseguiram. Alguns ficaram contentes apenas por estarem próximos do candidato. "Estamos mesmo perto dele", comenta uma senhora para o marido que está a pouco mais de dois metros de Cavaco.

Das janelas voam pequenos papéis verdes, amarelos e vermelhos. Cá em baixo, na principal rua da baixa de Coimbra, agitam-se as bandeiras. E a multidão grita: "Coimbra inteira quer Cavaco à primeira". Ou "Presidente há só um. É o Cavaco e mais nenhum".

"Alegre num país triste"

Dois dias mais tarde, duzentos quilómetros a Sul, o protagonista é outro e "vai tudo mudo", queixa- -se um apoiante de Manuel Alegre na pequena arruada que o candidato fez em Moscavide. As poucas tentativas de incendiar o ânimo das escassas pessoas que acompanhavam o poeta fracassaram. Gritar "Alegre! Alegre!" não pegou.

Manuel Alegre caminha em passo largo e apressado, ladeado pela mulher, Mafalda Durão Ferreira, e pelo presidente da Câmara de Loures, Carlos Teixeira.

Cumprimenta alguns comerciantes. Rapidamente. Não se alonga nas conversas. Mantém o ritmo apressado. E o ar sério. Atravessa a rua e do outro lado alguém grita: "Alegre num país triste". Mais à frente alguém lhe garante: "Vai ganhar!" "Não sou eu que vou ganhar é o País", responde o candidato.

Pedro Paulo Mendes acompanha a arruada de Alegre. Olha para a esta candidatura como "um espaço de liberdade, onde podem surgir ideias inovadoras para reconstruir o país". Já não é a primeira vez que apoia o histórico socialista e desta vez acredita na vitória.

Maria Sebastião tem a mesma esperança: "Não acredito em sondagens. São apenas manipulações". O próprio candidato insurge-se contra os números divulgados durante a semana: "Ao tomar conhecimento de uma certa sondagem [quarta-feira] tive o mesmo sentimento da noite em que foi anunciada a pseudo derrota de Humberto Delgado". "Não gosto de batota na política, não gosto de batota na democracia. E estou neste combate para o travar até ao fim".

"Isto vai camaradas. Isto vai"

Já a campanha comunista foi bem mais alegre que a de Alegre. No último domingo antes das eleições, os comunistas invadiram o Campo Pequeno. Mais de seis mil, garante a organização. "O maior comício de toda a campanha".

As primeiras filas do comício foram reservadas para a ala mais jovem do Partido Comunista. Luís Ventura, 19 anos e Rita Fernandes, 18 anos, são estudantes universitários. Estão sentados no chão, mesmo perto do palco, onde dentro de poucos momentos irão discursar Jerónimo de Sousa, Fernando Lopes e o mandatário nacional de candidato, José Barata Moura. "Francisco Lopes é o candidato que marca a diferença. É o único que representa uma real oposição ao actual governo", afirma Luís. Rita concorda com o amigo e acrescenta: "É o candidato que se destaca pelo bem". Riem-se. "Isso foi profundo", comenta Luís. "Mas é verdade", responde Rita.

Do palco chegam agora as primeiras palavras do animador do comício. São lançados elogios ao candidato e apelos ao voto. "Mais do que nunca é imperioso votar. O voto é secreto, por isso, não digam a ninguém: eu voto Francisco Lopes". E volta a ouvir-se das bancadas: "Francisco avança, com toda a confiança".

Na plateia, Bárbara Petrolina mostra-se desiludida com actual Executivo. Apoia Francisco Lopes por ser "uma pessoa séria e maravilhosa". Ao seu lado, Francisco Silva, alentejano residente em Oeiras, afirma que "as propostas [do candidato comunista] são as únicas que visam desenvolver o País". "Os outros só se preocupam com o capital. Nós não temos nada a ver com isso. O 'camarada' Francisco Lopes preocupa-se com os trabalhadores e com o povo", remata.

De regresso a Coimbra com Nobre

Depois de Cavaco Silva, foi a vez de Fernando Nobre fazer campanha na cidade dos estudantes. Nobre acredita na vitória. Acredita que pode "surpreender". E apelou mesmo a Manuel Alegre para desistir a seu favor, caso exista uma segunda volta.

"Se o povo é quem mais ordena, é o povo português que vai ordenar quem será o próximo Presidente da República".
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