Os parceiros europeus e os credores "desconfiam da capacidade dos partidos seguirem durante um tempo longo uma linha política para desenvolver o País", por isso, "o acesso ao [programa] cautelar tem a vantagem de não só disciplinar e comprometer as forças políticas responsáveis pela governação", como também "dá a garantia aos investidores de que se as coisas correrem mal, temos uma fonte alternativa de financiamento a um custo suportável", defende António Nogueira Leite.

Em entrevista à Antena 1 e ao "Diário Económico", o economista salienta a importância da emissão de dívida a dez anos realizada na semana passada, que, diz, "era um teste essencial". O preço a que se chegou reflecte "o apetite que neste momento existe pelos periféricos da Europa". No entanto, acrescenta, as condições de mercado favoráveis são imprevisíveis.

Ter um programa cautelar, prossegue Nogueira Leite, "é comprar um seguro relativamente barato", e é "extraordinariamente importante porque nos reduz o risco", sendo que "aquilo que teremos de fazer não será muito pior do que o que temos de fazer com o Tratado Orçamental". Admite, no entanto, que possa haver pouca margem para isso do lado de países como a Alemanha ou a Finlândia, cujos eleitores estão bastante irredutíveis e "são pouco racionais a analisar estas questões".

Sobre Pedro Passos Coelho, com quem, sublinha Nogueira Leite, nunca se zangou, "ao contrário do que a intrigalhada do PSD gosta de dizer", diz que é "extremamente resiliente". "Este Passos Coelho é parecido com aquilo que foi o outro dr. Soares", que foi "a cara daquilo que Portugal tinha de fazer na altura" e que acabaria por ser afastado do Governo por Cavaco Silva. Passos Coelho, conclui, "tem de ter uma capacidade única de determinação e depois estar predisposto para as consequências que isso vai ter".