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Depois de Portugal e de Espanha, investidores atentos às eleições na Irlanda

A Irlanda vota o novo Governo este ano, e tendo por referência o que aconteceu em Portugal e Espanha, outros dois países onde o eleitorado foi confrontado com anos de austeridade, os investidores devem estar atentos, escreve a Bloomberg.

Inês F. Alves inesalves@negocios.pt 25 de Janeiro de 2016 às 16:20

Apesar de os juros da dívida a 10 anos na Irlanda se manterem baixos, os investidores começam a recear os resultados da eleições na Irlanda, numa altura em que o actual Executivo desce nas sondagens e cada vez mais longe de assegurar uma maioria governativa.

As eleições legislativas em Portugal, de 4 de Outubro de 2015, deram a vitória minoritária à coligação PSD-CDS, cujo Governo foi derrubado por uma moção de rejeição aprovada pelos partidos da esquerda parlamentar, apenas uma semana e meia depois de tomar posse. Com o objectivo de cumprir as suas promessas, Costa colocou travões em algumas medidas de austeridade, procurando compensar parte do alívio com o aumento de impostos sobre o tabaco, os combustíveis e de selo.

Em Espanha, Rajoy, líder do Partido Popular espanhol, vencedor das últimas eleições gerais, recusou o convite do rei Filipe VI para formar Governo, por considerar que não estavam ainda reunidas as condições para tal. Todavia, manteve a sua candidatura a presidente do Governo. Assim sendo, continua tudo em aberto relativamente à formação de um novo Executivo no país.


Tanto em Portugal como em Espanha, Passos e Rajoy perderam a maioria depois de anos a aplicar medidas de austeridade. A Irlanda é outro país onde o eleitorado está abalado pela austeridade imposta. As sondagens mostram que a coligação liderada pelo primeiro-ministro Enda Kenny terá de lutar por uma maioria, ainda que não exista uma alternativa clara, escreve a Bloomberg. O país, que serve para Mario Draghi e para o Banco Central Europeu de modelo de recuperação económica, viu os juros da dívida a 10 anos afundar para menos de 1% este mês, mas os bancos e corretoras estão já a soar o alarme.

"Os investidores foram surpreendidos pelos resultados [eleitorais] inconclusivos em Espanha, e agora estão mais focados na Irlanda", explica Dermot O’Leary, economista da Goodbody Stockbrokers em Dublin, citado pela Bloomberg.

Por outro lado, com os investidores assustados com a decisão de Portugal impor perdas a alguns investidores - obrigando os titulares de dívida sénior a enfrentarem custos na capitalização do Novo Banco -, os títulos soberanos do país tiveram o pior desempenho da Zona Euro este ano a seguir à dívida grega, escreve a agência.

Os juros da dívida portuguesa a 10 anos estavam acima dos 3% no final da semana passada. A Espanha, por sua vez, viu os juros pouco alterados comparativamente ao período anterior às eleições, que tiveram lugar a 20 de Dezembro, situando-se nos 1,68%. A Irlanda é o país entre os periféricos da Zona Euro que paga menos por pedir emprestado. As suas taxas de juro a 10 anos estavam nos 1,08% no final da semana passada, assemelhando-se mais à França e à Bélgica do que a um país de maior risco, escreve a Bloomberg.

No mesmo sentido, os juros da dívida a 10 anos em Portugal registam esta segunda-feira uma subida de 1,4 pontos base para os 3,048%, enquanto os títulos espanhóis com a mesma maturidade recuam 1,5 pontos base para os 1,716%. Já os juros da dívida irlandesa a 10 anos caem 0,3 pontos base para os 1,065%.

Enda Kenny, de 64 anos, ainda não marcou a data das eleições, mas estas deverão ter lugar no início de Abril deste ano, estima a Bloomberg, acrescentando há alguma expectativa de que este venha a anunciar a data na próxima semana.

Os principais partidos estão a prometer diminuir a austeridade que ajudou a Irlanda a recuperar a sua soberania económica, uma promessa que ressoou tanto em Portugal e em Espanha e que dividiu o eleitorado, escreve a agência.

"A estratégia da Irlanda nos anos recentes foi de prometer pouco e alcançar mais do que o prometido na frente orçamental", disse Alan McQuais, economista do Marrion capital, à Bloomberg. "A última coisa que o país precisa agora é de uma má gestão política que coloque em risco o trabalho árduo realizado", acrescentou.

Desde que Kenny assumiu as rédeas do país em 2011, depois de este ter sido forçado a pedir um regate meses antes, a recuperação da economia irlandesa assentou no corte dos gastos e no aumento de impostos, equivalentes a cerca de um quinto da economia enquanto a revitalização do mercado das obrigações foi sustentada pelas medidas de estímulo económico do Banco Central Europeu.

O apoio à coligação liderada por Kenny caiu dois pontos percentuais em Janeiro, para os 39%, informou o Sunday Business Post, com base numa sondagem conduzida pelo Red C.

O problema para a oposição, e talvez para os investidores, é a ausência de uma alternativa clara a Kenny, escreve a Bloomberg.

"As eleições de 2015 no sul da Europa produziram surpresas significativas e uma situação política confusa", diz Jens Peter Sorensen, analista do Danske Bank. "As eleições na Irlanda podem produzir um resultado semelhante", contribuindo para uma volatilidade "de curto prazo" nas obrigações do tesouro do país.

 

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