Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Como vai funcionar a geringonça em 2018?

O ambiente de pré-campanha eleitoral que se vive ameaça marcar 2018, um ano em que nem sequer há eleições. Com o programa praticamente cumprido e as contas públicas arrumadas, parecem sobrar as diferenças.

Miguel Baltazar
Marta Moitinho Oliveira martaoliveira@negocios.pt 28 de Dezembro de 2017 às 23:30
So far so good. Até agora, a geringonça funcionou bem. Conseguiram entender-se quando necessário e o plano traçado em Novembro de 2015 está praticamente concluído. E agora, que se chega a meio da legislatura, como vai funcionar a geringonça em 2018?

A pergunta não tem resposta óbvia e em política uma semana pode mudar tudo. Mas é certo que existe um conjunto de factores que influenciam a forma como Governo, PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes se relacionam.

Uma delas é o ambiente que ficou depois das eleições autárquicas. Com um 2017 com boas notícias na frente orçamental e a tragédia dos incêndios nos braços, os partidos entraram em pré-campanha a dois anos das legislativas. "Apesar de 2018 não ser ano de eleições", sublinha o investigador do ISCTE, Pedro Adão e Silva, "a sensação de trabalho cumprido precipitou a campanha eleitoral".

O ex-dirigente socialista explica que "o facto de se ter deixado de discutir a política orçamental faz com que se discutam mais os aspectos que separa" os partidos que apoiam o Governo de António Costa no Parlamento".

Tem sido assim nos últimos meses. O Bloco tentou forçar a taxa sobre as energias renováveis, o PCP dá gás aos protestos na Autoeuropa. Ambos começam a suportar a necessidade de o Governo aceitar reflectir nos salários a contagem do tempo de serviço em vários sectores da Função Pública.

Ao mesmo tempo que os partidos à esquerda do PS entram numa espécie de peditório, o Governo tenta acentuar a mensagem de que o PS quer contas em ordem. A saída do Procedimento por Défices Excessivos abriu caminho à eleição de Mário Centeno para a presidência do Eurogrupo e Costa não pára de dar boas notícias nesta frente. Ao Presidente - que tinha defendido que agora Portugal ainda tinha de dar mais o exemplo – o chefe do Governo "ofereceu" um défice ainda mais baixo do que o esperado em Outubro para 2017.
Fora da geringonça – mas não menos importante para perceber as movimentações do xadrez político – PSD e CDS também vão viver um ano que pode ter impacto na vida da maioria parlamentar. Os sociais-democratas vão eleger um novo líder já a 13 de Janeiro. A escolha é entre Rui Rio e Santana Lopes - duas personalidades com quem Costa nunca se deu mal e que não estão no Parlamento, evitando assim o desgaste dos confrontos com o primeiro-ministro nos debates quinzenais. Isto numa altura em que o PS quer um consenso de médio longo prazo nas obras públicas. "Desaparece o cimento da geringonça que era Passos Coelho. Vamos ver o que acontece", afirma Adão e Silva.

No CDS, 2018 também será ano de pré-campanha para as legislativas marcadas para o ano seguinte. Cristas ganhou balanço com as autárquicas e quer ter um bom resultado em 2019. No entanto, a capacidade de concorrer com a geringonça, num cenário de eventual entendimento com o PS a seguir às legislativas, parece improvável na sequência dos duros ataques de Costa à líder centrista.


ACORDOS E DIFICULDADES

Há motivos internos e externos que podem afectar as relações entre os partidos que formam a maioria parlamentar no ano que está prestes a começar.

Programa quase cumprido
A legislatura vai a meio mas o programa acordado entre PS, BE, PCP e Verdes está praticamente cumprido. Nas entrevistas que têm dado os líderes partidários já vão emitindo opiniões sobre se haverá condições para renovar a geringonça em 2019.

Contas públicas em ordem
O Governo tem conseguido apresentar défices abaixo do previsto, retirando as questões orçamentais do palco mediático. As atenções podem agora desviar-se para os pontos de divergências entre os vários partidos, evidenciando assim maiores fricções.

Novo líder do PSD
O cimento da geringonça, Passos Coelho, vai sair de cena já no início do ano, com a eleição de um novo presidente do PSD. Rio e Santana, que disputam a cadeira laranja, tiveram sempre boas relações com Costa, podendo aqui abrir uma nova perspectiva nas relações entre os partidos mais ao centro.

Ver comentários
Saber mais 2018 política Governo PS PCP Bloco PEV geringonça
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio