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Centeno: défice de 2021 pode já cumprir os 3%. Este ano há condições para menos de 1%
O governador do Banco de Portugal defende que o caminho de consolidação é necessário e que as receitas fiscais acima do esperado devem ser usadas para baixar o défice e a dívida pública.
"Em 2021 o défice orçamental ficará muito próximo dos 3%, possivelmente cumprindo já os tratados orçamentais, ou seja, abaixo de 3%", disse o governador, ex-ministro das Finanças, na sua intervenção.
As últimas previsões do ministro das Finanças, João Leão, admitiam apenas um resultado orçamental abaixo de 4,3% em 2021. Para 2022, o Governo tinha apontado para um défice de 3,2% do PIB, no âmbito da primeira proposta de Orçamento do Estado, que acabou por ser chumbada no Parlamento, mas que os socialistas prometem retomar assim que voltarem a tomar posse para a nova legislatura. Contactado pelo Negócios, o Ministério das Finanças não quis comentar as declarações do governador.
As regras orçamentais da União Europeia preveem um limite de 3% do PIB para o défice, mas foram suspensas por causa da pandemia, através da ativação da válvula de escape prevista no próprio enquadramento. Essa suspensão esteve em vigor em 2020, 2021 e estará ainda ativa em 2022. Só no próximo ano é que os países serão obrigados pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento a regressar ao cumprimento das regras.
Esta suspensão visou permitir aos Estados aumentar a despesa pública extraordinária para amparar as empresas e famílias na resposta à crise pandémica, e não tomar medidas para contrariar a quebra da receita pública. Mas Portugal poderá já ter cumprido os limites em 2021 e está completamente ao seu alcance fazê-lo em 2022, diz agora o governador.
Na sua intervenção, Mário Centeno sublinhou a importância do caminho de consolidação que o país já tinha percorrido antes da crise gerada pela pandemia de covid-19 e defendeu que deve retomar o mesmo percurso.
O governador elogiou a descida da dívida pública em 2021, para 127,5% do PIB, e a primeira redução em termos nominais "desde 1948". Disse ainda que os 116% de rácio de dívida sobre o PIB estão "perfeitamente ao alcance" em 2023.
É possível, assegurou, "recuperar entre 2022 e 2023 o equilíbrio orçamental anterior à crise pandémica" e isso "não representa outra coisa que não seja o efeito da atividade económica". Por outras palavras, Centeno alude à ideia de não serem necessárias medidas de austeridade, bastando eliminar a despesa extraordinária da crise e deixar o crescimento da atividade económica fazer o resto.
Centeno avançou números para demonstrar o bom andamento da execução orçamental já este ano: "Em janeiro, a receita de IVA cresceu 40%, a do imposto de selo aumentou 20% e a do imposto sobre os produtos petrolíferos subiu 18%." Só no final deste mês é que a Direção-geral do Orçamento vai revelar o apuramento de receitas e despesa para janeiro.
Depois, o governador recomendou: "O desagravamento fiscal deve ser seletivo", e o "crescimento da receita fiscal acima das previsões deve ser canalizado para a redução do défice e da dívida." Para Centeno, a prioridade deve manter-se a consolidação das contas, mas isso não impedirá as administrações públicas, defende, de responder aos seus desafios, em especial nas "áreas da justiça e da saúde."
(Notícia atualizada às 12:42 com mais informação)