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Governo vai cumprir meta do défice, mas contas estão estruturalmente piores, avisa Centeno
O governador do Banco de Portugal disse estar a trabalhar num cenário em que o Governo cumpre este ano os seus objetivos orçamentais. Porém, assinalou que Portugal ficará estruturalmente com um "hiato de financiamento".
"Temos para 2021 um cenário de cumprimento dos objetivos orçamentais, definidos no Orçamento do Estado e reiterados depois no Programa de Estabilidade apresentado em abril", disse Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico de outubro.
Porém, este bom resultado não deve despreocupar as Finanças, mesmo que o crescimento este ano seja afinal superior ao que era esperado. Mário Centeno sublinhou que o país chegará ao final do ano com um "hiato de financiamento" de 1,8 pontos percentuais do PIB, em termos estruturais.
"Para o mesmo nível de atividade, temos um peso da despesa retirando todos os efeitos das medidas Covid, one-off e tudo o que é financiado por fundos europeus, um rácio da despesa primária corrente 1,8 pontos percentuais superior ao de 2019", explicou o ex-ministro das Finanças. Por outras palavras, continuou, isto quer dizer que há um acréscimo na "pressão da despesa corrente".
Centeno detalhou que a pressão adicional resulta de um aumento de 0,8 pontos percentuais da despesa com pessoal, e de um ponto percentual dos gastos com prestações sociais. O governador considerou ainda que este resultado é "natural, atendendo a todos os mecanismos de reação quase automática em momentos de crise", mas frisou que deve ser "absorvido se quisermos retomar a trajetória anterior à crise, no peso da despesa pública".
A recuperação prevista para o PIB em 2022 poderá ajudar a fechar este buraco no financiamento das administrações públicas, na medida em que as receitas fiscais deverão recuperar. Porém, em termos de estrutura isso "não é bom", assumiu o governador.
Trata-se assim de "olharmos para as diferentes componentes e retomarmos o processo", disse Centeno, fazendo uma "transição, não é para se fazer apenas num ano."
Os avisos do governador chegam na semana anterior à apresentação do Orçamento do Estado para 2022, e numa altura em que o Governo está a ouvir os contributos dos partidos para a construção desse documento.
Perante um cenário macroeconómico que se revela mais positivo do que o Governo esperava, Centeno reduz assim o entusiasmo para o Executivo avançar com novas medidas que impliquem aumentar a despesa em termos estruturais – uma condição que dificultará o entendimento com os partidos da oposição, na medida em que têm sido pedidos aumentos de pensões, salários e financiamento para os serviços públicos.