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Centeno defende investimento público quase só financiado por fundos europeus

"A carteira da Anita raramente tem sido de Bruxelas", disse esta quarta-feira o governador do Banco de Portugal, numa alusão à baixa utilização dos fundos europeus para dinamizar o investimento público nos últimos anos.

Cofina Media
09 de Fevereiro de 2022 às 12:40
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"O investimento público deve ser exclusivamente, ou perto disso, financiado por fundos europeus", defendeu esta quarta-feira o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno. Numa intervenção na "Grande Conferência Vamos lá, Portugal", organizada pelo Negócios e Millennium BCP, o ex-ministro das Finanças recomendou que nos anos de implementação do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) a principal fonte de financiamento do investimento público deixe de ser os impostos.

"O investimento público em Portugal nos últimos anos tem sido financiado essencialmente pelo Orçamento do Estado", assinalou o governador, ou seja, "pelos impostos". "Nos anos do PRR esta situação deve mudar dramaticamente", recomendou, frisando que "só assim" será possível implementar estes fundos.

E aludiu a uma metáfora que já anteriormente tinha utilizado para se referir ao investimento público. "Se o investimento público não é o 'Anita vai às compras', nos últimos anos a carteira da Anita raramente tem sido de Bruxelas", lamentou.

Para Centeno, "a curta janela de implementação do PRR é por si só um desafio", perante a qual não podem haver "hesitações" nem "complacências", sob pena de se comprometer uma "metamorfose" do país para o sucesso. A ideia, explicou, deverá ser usar o PRR para aumentar o investimento mas, ao mesmo tempo, acentuar a redução do endividamento da economia.

Vem aí um novo ciclo na política monetária
Até porque "vamos entrar num novo ciclo para a política monetária", assumiu o governador. "Ao período de taxas de juro generalizadamente baixas, algumas mesmo negativas, deverá seguir-se uma normalização, um processo desejado", acrescentou.

Esta normalização deverá trazer taxas de juro mais elevadas, o que acentua a importância de o país reduzir o endividamento excessivo – uma realidade no setor público e privado. Centeno notou que pela primeira vez desde 2007 o conjunto da dívida pública e privada poderá ficar este ano abaixo dos 300% do PIB, uma marca ainda muito alta.

Sobre a inflação na zona euro, o governador defendeu que "pela primeira vez em muitos anos 
está ancorada" e que as subidas registadas nos últimos meses deverão começar a ceder. Aliás, a inflação subjacente já diminuiu em janeiro, para 2,3%, assinalou.

"Os efeitos de segunda ordem nos salários ainda não se fazem sentir, pelo menos por agora, não obstante a limitação da oferta de trabalho consubstanciar um risco ascendente para a inflação", reconheceu.

Ainda assim, a normalização da política monetária não deve implicar que o BCE corra a reagir às pressões inflacionistas, quando estas se manifestam pelo lado da oferta. "Seria um erro, comparável aos do passado recente, atribuir à política monetária a função de ir no encalce do Sr. Putin. A credibilidade de uma política monetária que responde a choques da oferta e a tensões políticas não sobrevive o primeiro embate", atirou.
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