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Bruxelas exige orçamento já, mas não castiga

A Comissão Europeia receia que Portugal abra um precedente e reclama o envio de um documento que apresente as linhas gerais do Orçamento do Estado para 2016. Para isso, enviará uma nova carta ao Governo, mas descarta sanções no imediato.

Bloomberg
21 de Outubro de 2015 às 22:17
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Bruxelas compreende, mas não aceita; exige, mas não castiga. De forma muito resumida, é esta a postura da Comissão Europeia em relação à recusa do Governo português em enviar um documento que defina as grandes linhas do Orçamento do Estado para 2016.

"Percebemos as dificuldades políticas existentes. Estamos em período pós-eleitoral... Mas é prática que os Estados-membros possam protelar a aprovação do orçamento, embora tenham de apresentar o ante-projecto, num cenário de não alteração de políticas", afirmou Valdis Dombrovskis. "O prazo esgotou-se a 15 de Outubro e Portugal não cumpriu [o prazo]", acrescentou. "Estamos a enviar uma carta às autoridades portuguesas".

Questionado sobre o que poderá acontecer caso Portugal não acate as instruções de Bruxelas, o vice-presidente recusou-se a especificar. que tipo de medidas poderá tomar contra Portugal. "Não vou especular [sobre o futuro]… Há passos que podem ser tomados", adiantou. Que passos? Não explicou.

Assim, ao que apurou o Negócios, o plano é enviar cartas ao Governo português, aumentando a pressão para o envio do documento, sem que estejam planeadas sanções contra o país.

 

Bruxelas receia abrir precedentes

A Comissão Europeia faz questão de lembrar que até hoje nenhum país falhou o envio desta informação até à data limite imposta, que só existe desde 2013. Portugal é o primeiro e a Comissão receia que outros países comecem a encontrar pretextos para não enviar este documento no futuro, sabe o Negócios. "Portugal não é caso único [a ter eleições em altura do orçamento]. E os outros países entregaram", disse o vice-presidente da Comissão ao Negócios.

Porém, Passos Coelho insiste que não faz sentido apresentar qualquer projecto orçamental no ambiente político que se vive em Portugal. Ainda na semana passada, o primeiro-ministro afirmou, após a Cimeira Europeia, que tinha comunicado "à Comissão Europeia que, dadas as circunstâncias particulares em que estamos [...] não faria sentido que o Governo que está de saída apresentasse o projecto de um orçamento que não vai fazer".

A Comissão Europeia não fez esperar pela reacção e instou o Governo a apresentar "sem mais demoras" um plano provisório do Orçamento do Estado para 2016.

"O código de conduta do 'two pack' [acto legislativo da governação económica], acordado entre a Comissão e o Conselho, também estabelece procedimentos bem definidos que se aplicam a um Estado-membro com um Governo que não está no uso pleno dos seus poderes orçamentais. Em tais casos, o Governo cessante deve submeter um plano orçamental baseado num cenário de políticas inalteradas, enquanto o novo governo deve submeter um plano orçamental completo e actualizado assim que entre em funções", indicou no dia 16 de Outubro, uma porta-voz da Comissão à Lusa.

"Uma vez que a data limite acabou de expirar, esperamos receber sem mais demoras o plano orçamental de Portugal num cenário de políticas inalteradas e, a devido tempo, o projecto completo de Orçamento do Estado do novo Governo", acrescentou então Bruxelas.

O cenário de incerteza política tem-se adensado nos últimos dias. Entre terça e quarta-feira, o Presidente da República recebeu os partidos que elegeram deputados nas eleições de 4 de Outubro, tendo tido garantias do PS de que está em posição de formar um Governo de maioria com o apoio da esquerda. Falta saber quem Cavaco Silva irá de facto mandatar para constituir o próximo Executivo.

*o jornalista viajou a convite da Comissão Europeia

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