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Bloomberg: Portugal, modelo de estabilidade da Europa, esconde fragilidade

Hotéis de luxo em palácios de mármore, lojas sofisticadas e cafés movimentados dão aos visitantes do centro de Lisboa uma noção de quão longe Portugal chegou desde que esteve à beira de um ‘default’ há apenas oito anos.

Mário Cruz/Lusa
03 de Outubro de 2019 às 17:58
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Os eleitores vão às urnas para as eleições legislativas no domingo, depois de cinco anos consecutivos de crescimento, um período em que a taxa de desemprego caiu quase para metade e em que o défice orçamental foi praticamente eliminado. Comparado ao populismo e facciosismo que assolam vizinhos como Espanha e Itália, Portugal parece uma ilha de estabilidade.

Mas há também uma fragilidade no sucesso do país, e uma sensação incómoda de que o primeiro-ministro socialista António Costa pode não ter feito tudo o que podia durante os quatro anos de generosidade do banco central e, assim, preparar o país para a próxima crise.

O crescimento está a desacelerar, e a carga fiscal em Portugal subiu para o nível recorde de 35% do PIB. Costa quer continuar a reverter os aumentos do imposto sobre os rendimentos implementados durante o resgate. Isso deixa pouca margem de manobra para a dívida pública, que quase duplicou na última década em termos nominais e era equivalente a 122% do PIB no ano passado.

"Numa crise, são sempre os países pequenos e vulneráveis que são atingidos", disse Arne Rasmussen, diretor de research de produtos de renda fixa do Danske Bank, em Copenhaga. "Não parece ser o caso agora, mas, se por algum motivo houver algum cenário político incerto ou crescimento mais lento do que o esperado, as pessoas poderão ficar nervosas".

Ainda assim, as sondagens indicam que os eleitores estão dispostos a apoiar mais um mandato para Costa, de 58 anos. O Partido Socialista de Costa lidera a corrida eleitoral com 8,9 pontos percentuais de vantagem e receberia 35% de apoio no parlamento, segundo uma sondagem publicada pelo Jornal de Negócios esta quinta-feira.

Mas as opiniões são conflitantes nas ruas de Lisboa.

"Metade do país diz que está melhor, metade do país diz que está pior", afirma João Marcos Marchante, de 34 anos, sócio e produtor do Nebula, um estúdio de animação. "A sensação que eu tenho é que veio um fluxo muito grande de dinheiro e de pessoas para Portugal que, por sua vez, tornaram tudo mais caro".

Muitos moradores da capital tiveram de deixar os seus bairros porque os salários não conseguiram acompanhar os preços das rendas, disse António Machado, diretor da Associação dos Inquilinos Lisbonenses, que dá aconselhamento jurídico aos associados.

Os preços dos imóveis em Portugal subiram 9,2% só no primeiro trimestre deste ano. Por outro lado, o salário médio é o quarto mais baixo da OCDE, e muitos dos novos empregos pagam o salário mínimo de 600 euros por mês.

"Os setores do turismo e imobiliário estão a ir muito bem, e muitas pessoas estão a beneficiar com isso", disse Ricardo Silva, de 43 anos, enquanto servia cachorros-quentes num quiosque do lado de fora do edifício Cartier, na Avenida da Liberdade, a principal de Lisboa. "Só precisamos que a maioria dos outros setores da economia melhore para que o país se torne mais sustentável".

Costa tem as suas próprias ambições para o seu segundo mandato - combater a desigualdade e aumentar ainda mais o salário mínimo, ao mesmo tempo que mantém a disciplina orçamental. Onde é menos ambicioso: nas reformas políticas necessárias para tornar a expansão de Portugal mais resiliente.

Mesmo se superar as projeções das sondagens e ganhar a maioria absoluta, o primeiro-ministro evitará iniciativas mais agressivas para impulsionar a economia, disse António Barroso, vice-diretor de pesquisa da consultora de risco político Teneo, em Londres.

"Ele continuará a seguir um rumo centrista", disse Barroso. "Grandes reformas parecem estar fora da agenda".

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