Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Argentina promove moeda fraca para atrair ‘nómadas digitais’

Em Buenos Aires, as autoridades municipais estão a coordenar com o governo nacional a implementação de um visto de 12 meses para trabalhadores remotos com rendimento estrangeiro que desejem viver na Argentina além dos 90 dias permitidos com um visto de turista padrão.

5 – Buenos Aires
Deensel
05 de Dezembro de 2021 às 11:00
  • ...

Buenos Aires tem um argumento peculiar para potenciais trabalhadores remotos: traga a sua moeda estrangeira e obtenha mais do que seu dinheiro compraria em qualquer outro lugar – muito mais.

 

Uma campanha de Buenos Aires para atrair pessoas que são pagas em dólares, libras e outras moedas para estadias prolongadas destaca que a Argentina tem "a taxa de câmbio mais competitiva da região" e que os preços na cidade são "muito acessíveis". É parte de uma mensagem de marketing que inclui um possível visto de 12 meses para trabalhadores remotos, além dos benefícios de Buenos Aires: clima quente, avenidas bucólicas, boa comida e relativa segurança em comparação com outras cidades da América Latina.

 

Com base nas taxas de câmbio não oficiais atuais, 1 dólar norte-americano equivale a mais de 200 pesos em relação a 20 pesos há apenas três anos, como resultado da recessão, inflação de 50% e esforços fracassados para estabilizar a moeda argentina. Isso significa que um "bife do lombo" no Don Julio, classificado como o 13.º melhor restaurante do mundo, custa apenas 3.950 pesos, ou cerca de 18 dólares (pela taxa de câmbio paralela). Um café latte sofisticado sai por cerca de 220 pesos, ou 1 dólar.

 

Os trabalhadores remotos podem ser mais baratos de atrair individualmente do que empresas inteiras, e as suas estadias são mais longas do que as de turistas. Buenos Aires é uma das muitas cidades globais que tentam incentivar os chamados nómadas digitais a mudarem-se para lá, pelo menos temporariamente, e a gastar dinheiro.

 

Nos Estados Unidos, cidades como Tulsa, Oklahoma, e Topeka, no Kansas, usaram uma combinação de incentivos em dinheiro e a promessa de custo de vida mais baixo para prolongar a permanência de não residentes; pequenas cidades de Itália responderam a uma migração orgânica de jovens cansados da pandemia com a modernização da infraestrutura e financiamento de projetos de inovação tecnológica para os reter.

 

Nómadas digitais

 

Para trabalhadores remotos como Matthew Bowles, que participou na conferência da câmara municipal de Buenos Aires sobre nómadas digitais, na semana passada, a instabilidade do peso oferece vantagens claras. Oficialmente, 1 dólar equivale a cerca de 100 pesos. Mas Bowles foi a uma filial da Western Union, ao chegar a Buenos Aires para a conferência, e recebeu 212 pesos por dólar, de acordo com uma das taxas de câmbio não oficiais, geralmente chamadas de "dólar blue" pelos visitantes.

 

"O custo de vida para um americano, por exemplo, que ganha em dólares e recebe o ‘dolar blue’, é incrivelmente vantajoso", comentou Bowles, sócio da corretora imobiliária Maverick Investor Group. Com mais poder de compra, "vamos comprar a garrafa mais cara de Malbec porque custa metade do preço, certo?"

 

Mesmo a nível nacional, o governo tem incentivado os visitantes a aproveitarem a desvalorização do peso argentino. O banco central tem permitido que os viajantes estrangeiros criem contas bancárias temporárias e vendam dólares por pesos à taxa de câmbio paralela mais vantajosa.

 

Em Buenos Aires, as autoridades municipais estão a coordenar com o governo nacional a implementação de um visto de 12 meses para trabalhadores remotos com rendimento estrangeiro que desejem viver na Argentina além dos 90 dias permitidos com um visto de turista padrão. Esperam que o visto – que será o primeiro do tipo na América Latina – esteja pronto no próximo ano, e a meta do governo é atrair 22 mil nómadas até 2023.

 

Os trabalhadores com esse visto não têm de pagar o imposto local sobre o rendimento, nem precisam estar na folha de pagamento da empresa. Na verdade, a cidade espera que muitos candidatos sejam jovens freelancers, de acordo com Francisco Resnicoff, subsecretário de Relações Internacionais do governo municipal.

 

Buenos Aires precisa de trabalhadores remotos para ajudarem a revitalizar o setor de turismo, que é responsável por 10% do PIB da cidade, diz Resnicoff. Em 2019, os turistas estrangeiros gastaram 1,8 mil milhões de dólares em Buenos Aires.

 

"Estamos num jogo diferente de outrora, e a competição entre destinos urbanos para atrair turistas vai ser muito difícil", considera Resnicoff. "A cidade que melhor entender os novos hábitos, exigências e interesses dos viajantes terá o melhor desempenho".

Ver comentários
Saber mais Argentina Buenos Aires América Latina Matthew Bowles Francisco Resnicoff turismo política
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio