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António Costa defende relação com a China que já leva "mais de 500 anos"

Para o primeiro-ministro, Portugal é "um país europeu aberto ao mundo que defenda a abertura da Europa ao mundo". E essa abertura passa pelas relações com a China, que são do interesse de Portugal, mas da própria Europa que não pode abrir 'frentes de guerra' com todas as regiões ao mesmo tempo.

Reuters
24 de Março de 2019 às 12:59
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A Europa não se pode fechar em torno de si mesma e Portugal tem de ser um país "aberto ao mundo" pois essa é "uma matriz fundamental da sua própria identidade". Estas são as duas principais mensagens de António Costa na sua entrevista concedida ao jornal Público dedicada ao tema da Europa.

"No dia em que estivermos numa Europa fechada sobre si própria, Portugal abdica daquilo que é uma matriz fundamental da sua própria identidade", que, na opinião de António Costa, "lhe permite afirmar-se na própria União Europeia". É por isso, que o país tem de se opor à "lógica de uma Europa fechada face ao mundo". Portugal deve ser "um país europeu aberto ao mundo e que defenda a abertura da Europa ao mundo".


A relação de Portugal com a China insere-se nessa lógica de abertura ao mundo. "Nós temos uma relação com a China de mais de 500 anos. E isso deu-nos uma experiência de relacionamento e de confiança que nunca foi quebrada, apesar das muitas mudanças de regime, quer na China, quer em Portugal", começa por recordar António Costa. E mais recentemente, "quando a troika forçou Portugal à privatização de um conjunto de empresas […] quem veio investir foram empresas chinesas e não outras empresas europeias. E vieram dentro das regras de mercado".

Para o primeiro-ministro, não há nenhum problema com o investimento chinês em Portugal ou em empresas-chave do país. "O que temos de exigir aos investidores chineses é que cumpram as regras europeias e temos de ganhar na Organização Mundial do Comércio (OMC) através da nossa política comercial comum as outras regiões do mundo para os standards ambientais e sociais de segurança alimentar que são praticados na Europa".

Confrontado na entrevista com a ambição de expansão mundial da China, António Costa relativizou lembrando que "todas as potências têm a vocação global de projeção dos seus interesses e da sua influência". E questionado sobre o facto da China não ser democrática, Costa disse que "o mundo está hoje bastante diferente" e lembrou o que se passou há três anos em Davos: "fiquei bastante surpreendido por ver o presidente chinês a fazer o discurso que se pressupunha que o presidente americano fizesse; e o presidente americano fazer um discurso que era suposto o presidente chinês fazer".

Reconhecendo que esta comparação "é uma caricatura", António Costa centra-se depois no Porto de Sines. "Quando vejo críticas à utilização de Sines como uma peça de interface da iniciativa chinesa, o que vejo também é que não houve oposição a que os portos da Grécia fossem comprados pela China, sendo uma base estratégica fundamental para todo o Mediterrâneo".

Além disso, António Costa pressente na oposição ao investimento dos chineses em Sines a intenção de "países que têm portos no Mediterrâneo ou no Norte da Europa a quererem limitar a capacidade competitiva do Porto de Sines".

O primeiro-ministro lembra ainda a importância que "o desenvolvimento de uma infraestrutura na fachada atlântica" pode ter na diversificação da segurança energética, que atualmente está muito dependente da Argélia e da Rússia, abrindo a porta a exportações dos Estados Unidos.

Por tudo isto, António Costa considera que Portugal terá de impedir que "a Europa se feche ao mundo". Não pode estar "sozinha" nem achar que é possível estar, em simultâneo, em várias frentes de guerra: "numa guerra comercial com os Estados Unidos e com a China, numa tensão militar com a Rússia, fechar as fronteiras da Turquia, como se estivéssemos no final do século XIX.

Temos de impedir "a esterilização das economias periféricas"

Se, por um lado, António Costa defende, na entrevista ao Público, que os países europeus não podem entrar numa lógica de competição entre si sem compreender que a competição hoje se faz à escala europeia, isso "não pode significar a concentração da economia europeia num pequeno núcleo central com a desertificação económica das periferias. Temos de ser capazes de construir em rede", defende o primeiro-ministro.

Ou seja, o caminho não deve ser o de promoção dos chamados campeões europeus defendido por França e pela Alemanha, mas antes o de criar uma rede que integre todas as economias europeias. "Em vez de promovermos a criação de grandes ‘potentados’ económicos nos países mais desenvolvidos, devemos ter cada vez mais a capacidade de integrar um conjunto a economia em cadeias de valores em que todos participem e sobretudo que abram oportunidades para as PME desses países poderem integrar-se nessas redes globais".

Assim, o primeiro-ministro insiste que é fundamental "evitar a concentração que conduz ao abuso de posições dominantes e à esterilização do conjunto das economias periféricas".



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