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Serralves nega censura e ataca "fuga à responsabilidade" do ex-director do museu

A presidente da Fundação de Serralves explica que a escolha das fotografias e a proposta da sala para maiores de 18 anos foram de João Ribas, que se demitiu por SMS. Pacheco Pereira fala na "inveja" do meio artístico e defende os resultados de Ana Pinho.

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26 de Setembro de 2018 às 14:35
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A presidente da administração da Fundação de Serralves, Ana Pinho, rejeitou esta quarta-feira, 26 de Setembro, as alegações de interferência no trabalho artístico e de censura na exposição de Robert Mapplethorpe, explicando que a escolha das fotografias e a proposta de criação de uma área reservada foram da inteira responsabilidade do curador e também director demissionário do museu, João Ribas.

 

"Em Serralves não há, nem nunca houve – nem nunca sob nossa responsabilidade haverá censura. Mas também não haverá complacência com falta de verdade e fuga às responsabilidades", sublinhou Ana Pinho durante uma conferência de imprensa convocada ao final de quase cinco dias de polémica, na qual informou que até ao momento não houve qualquer contacto com o Ministério da Cultura sobre o tema.

 

Face ao silêncio de João Ribas, que ainda não explicou por que afinal decidiu apresentar a demissão do cargo que ocupa há apenas meio ano, uma suspeita que envolvia a administração era a de ter obrigado à retirada de 20 fotografias, do total de 179 contratadas com a fundação americana. A líder da comissão executiva assegurou que "não mandou retirar quaisquer obras e até desconhecia quais tinham sido as seleccionadas". Insistiu que "todas as fotografias expostas foram escolhidas pelo curador" e mostrou "estranheza" por "um número tão grande" de obras ter ficado de fora da mostra, até porque a instituição teve de pagar o "fee", o seguro e o transporte até ao Porto.

 

Quanto à criação de um espaço interdito a menores de 18 anos para apresentar as imagens de conteúdo sexual explícito, Ana Pinho respondeu que foi "o próprio director do museu [que] propôs que a exposição Robert Mapplethorpe tivesse um núcleo mais reservado no final do percurso expositivo". A administração alega que se limitou a concordar com a proposta, justificada até pela "realidade de Serralves", visitada anualmente por quase um milhão de pessoas, "em especial por milhares de crianças e centenas de escolas" no âmbito do serviço educativo.

 

"O conselho de administração da Fundação de Serralves considera que não existe qualquer fundamento para que se possa associar à sua actuação qualquer acusação de interferência ilegítima no trabalho de programação e muito menos de censura, porque nenhuma obra foi retirada da exposição por sua iniciativa", acrescentou Ana Pinho, numa declaração inicial lida perante uma sala repleta de jornalistas.

 

Demissão por SMS e processos contra Serralves

 

Uma semana antes da abertura da exposição, João Ribas garantia ao Público que não haveria qualquer limitação etária no percurso da exposição, o que acabou por não acontecer e foi visível durante as pré-visitas e a inauguração da exposição. Isabel Pires de Lima, que integra a actual administração por nomeação do Estado, frisou que "só a partir dessa entrevista soube que ele era contra" a existência daquele espaço, que até tinha sido proposto pelo próprio, à imagem do que aconteceu noutros museus europeus que acolheram antes as obras de Mapplethorpe.

 

Não podemos correr o risco de pais ou professores processarem a Fundação de Serralves [pela exibição de] obras que eles consideram chocantes. JOSÉ PACHECO PEREIRA, ADMINISTRADOR DA FUNDAÇÃO DE sERRALVES

"Numa instituição que é visitada por milhares de crianças não podemos correr o risco de pais ou professores processarem a Fundação de Serralves [pela exibição de] obras que eles consideram chocantes. Somos responsáveis por não colocar a acesso público" essas obras, reforçou José Pacheco Pereira, o outro administrador indicado pelo Ministério da Cultura, que aproveitou para recordar que, ao longo dos últimos dias, nenhum jornal ou televisão optou por publicar ou exibir essas fotografias.

 

Mostrando-se "totalmente disponível" para prestar todas as informações ao Conselho de Fundadores, Ana Pinho, que no final de 2018 completa o primeiro mandato de três anos na presidência da Fundação de Serralves, confidenciou ainda que recebeu uma SMS de João Ribas na passada sexta-feira à noite – o director do museu informava dessa forma que se iria demitir e publicitar a decisão num jornal – e que de seguida chegou o e-mail a formalizar essa saída da principal instituição portuguesa dedicada à arte contemporânea.

Ana Pinho lamentou ainda "estas polémicas [que] têm sempre consequências", mas espera "conseguir regressar à normalidade dentro de pouco tempo", para que a Fundação de Serralves possa "continuar a ser uma referência a nível nacional e internacional".

 

Mal-estar? "Não vem do meio artístico"…

 

Confrontada com as notícias sobre problemas internos na instituição, alegadamente provocados por "autoritarismo" da parte da presidente, Ana Pinho preferiu não fazer comentários, por esse não ser o tema desta conferência de imprensa. No entanto, a ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, fez questão de afirmar que "não deixa de ser estranho que os resultados excepcionais face ao passado mais ou menos recente, obtidos nos dois anos e meio desta administração, tenham sido obtidos num clima interno tão conturbado, como querem fazer crer".

 

"Nunca vi ninguém num conselho de administração, que trabalha ‘pro bono’, defender melhor os interesses de Serralves do que a Ana [Pinho]", acrescentou Pacheco Pereira, lembrando que "os problemas de gestão de uma instituição destas são enormes". O historiador falou ainda da "inveja" despertada por um "trabalho [que] tem sido reconhecido nacional e internacionalmente", ironizando que toda esta polémica talvez esteja a acontecer porque a actual presidente "não vem do meio artístico", mas fez carreira na área financeira e empresarial.

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