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Lisbon revisited: Pelos olhos de Pessoa

A vida e a obra de Fernando Pessoa prendem-se com Lisboa. Há vários roteiros pessoanos na cidade. O da Lisboa Autêntica sai pela primeira vez para as ruas no próximo sábado. É em português, mas já estão planeados roteiros em italiano

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Fernando Pessoa vai sair para as ruas da Baixa-Chiado em português, no próximo sábado. E, no futuro, em italiano. Desde A Brasileira até ao Campo das Cebolas, passando pelo Largo do Carmo, as ruas e os lugares vão ser percorridos por quem quiser acompanhar o estar e o "ser" do poeta português.


"Não sou nada./ Nunca serei nada./Não posso querer ser nada./ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo", começa por dizer Álvaro de Campos na "Tabacaria".


É de todo o mundo que vêm os fãs de Pessoa - Itália, Brasil, Colômbia. A preparação da rota pessoana em italiano, organizada pela Lisboa Autêntica, está a ser feita ainda antes de se ter estreado a versão portuguesa do percurso, a ocorrer no próximo sábado, 30 de Março. Só não há ainda data para a experiência na língua de Roma.


Os italianos são "ávidos" por Pessoa, o que se alia ao facto de o responsável pelo percurso ser daquele país. Os passeios pelos locais da Baixa e do Chiado da vida de Pessoa vão ser guiados por Fabrizio Boscaglia, investigador do centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, debruçando-se sobre a vida e obra do poeta.


Trabalhando diariamente com os arquivos de inéditos pessoanos, Boscaglia afirma que estes "escondem surpresas para o futuro". São algumas dessas surpresas que quer revelar no percurso.


"Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la/E comer um fruto é saber-lhe o sentido", escrevia Alberto Caeiro no seu "Sou um guardador de rebanhos".


A Lisboa Autêntica, formada em Março de 2011, organiza passeios para que turistas, nacionais ou estrangeiros, vejam e cheirem os caminhos da capital. A empresa já menciona os locais da vida de escritores em algumas das suas rotas, mas só agora se aventura num caminho dedicado especialmente a um escritor. Sendo um percurso que não envolve, por exemplo, gastos com alimentação, o preço para a participação é de 10 euros. Com isso, fica a saber-se que, na Baixa Pombalina, o que não faltam são escritórios que Pessoa frequentou e trabalhou, ali tão perto do rio (de onde partiam os marinheiros para o mar "salgado" - "Quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal").


As histórias da vida e obra de Pessoa serão contadas no sábado, mas já há um outro passeio em português para Abril. As inscrições são de "académicos, jornalistas e de pessoas fora do circuito literário", diz Fabrizio.


"Será que Pessoa realmente era um poeta delirante e triste, como muitos dizem? Será que ele era realmente tão incoerente como parece, lendo a sua obra? Será que nunca conseguiu verdadeiramente amar e que realmente viveu quase desconhecido, sendo a sua fama apenas póstuma?" As perguntas são do investigador. As respostas serão dadas no roteiro. "Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio".

 

 

 

1 - A Brasileira
A estátua em bronze é a primeira paragem


De laço ao pescoço, chapéu na cabeça, perna cruzada e braço sobre a mesa. Tudo em bronze. Ao lado, uma cadeira vazia. É Fernando Pessoa à porta d' A Brasileira, no Chiado. No início do século, várias eram as tertúlias literárias que o português ali frequentou. Também foi o palco de conversas sobre política. Por ser a imagem mais visível de Pessoa na capital, é a escolha de Fabrizio Boscaglia para começar o percurso que lidera. "Este passeio pretende ir em busca dum Pessoa mais vivo, ainda e sempre capaz de surpreender".

 


2 - Largo de São Carlos
A casa que trouxe Pessoa à vida


"No 4.º andar desta casa, nasceu, em 13 de Junho de 1888, o poeta Fernando Pessoa". A placa encontra-se numa parede no Largo de São Carlos, ao lado de um candeeiro citadino tradicional, muito desenhado e com uma caravela no braço que o prende ao edifício. No prédio, agora ocupado por uma loja e uma sociedade de advogados, a luz também vem de um holofote, para iluminar aquele largo dos espectáculos. "La Traviata", "Rigoletto", "Il Trovatore" são as obras anunciadas no teatro em frente, que Pessoa frequentou.

 


3 - Largo do Carmo
Trabalho, vida e obra pela Baixa-Chiado


Perto da zona onde nasceu, encontra-se a Basílica dos Mártires, local do baptismo do homem que deu vida a Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Fernando Pessoa passou parte da infância de casa em casa, pela Estrela, Lapa ou São Bento, assentando, em 1908, no Largo do Carmo, onde alugou um quarto. Também é pela zona da Baixa que se encontram os escritórios por onde trabalhou. Alguns deles fazem parte do roteiro de Boscaglia, que, enquanto investigador, tem acesso a inéditos de Pessoa.

 


4 - Rua do Arsenal
Os passeios com Ophélia por Lisboa


"Todas as cartas de amor são/Ridículas./Não seriam cartas de amor se não fossem/ Ridículas". Os versos são de amor e a rua do Arsenal era uma das que Fernando Pessoa percorria com a amada Ophélia. Era aí, também, que se encontrava a livraria inglesa onde o poeta comprava muitos livros, segundo o estudioso italiano. Boscaglia conta, na sua luta para mostrar que Pessoa não era aquele "poeta delirante ou meio bêbedo" que muitos alegam, que o escritor era "muito alegre na vida com os que amava".

 


5 - Martinho da Arcada
O café que guarda a mesa pessoana


Absinto e vinho. Estas seriam, segundo contam os funcionários do café Martinho da Arcada, as bebidas mais pedidas por Fernando Pessoa. O poeta tem, hoje, uma mesa a si dedicada no estabelecimento. Dois livros, uma chávena e um açucareiro marcam o cenário. Nas paredes, quadros e fotografias. Incluindo a imagem de Pessoa com a chávena e o açucareiro. Numa parede exterior, versos. "Ah, todo o cais é uma saudade de pedra", escrevia, na "Ode Marítima", o heterónimo Álvaro de Campos.

 


6 - Campo das Cebolas
Pessoa às portas de Alfama


José Saramago escreveu "O Ano da Morte de Ricardo Reis". É em frente à sua fundação, no Campo das Cebolas, que termina o percurso pessoano da Lisboa Autêntica. Boscaglia indica que, com as recentes publicações de inéditos, tornou-se mais fácil perceber o que o poeta pensava de culturas como a romana e a arábico-islâmica - nas raízes da cultura e da história de Portugal. O Campo das Cebolas, às portas de Alfama, está próximo desse mundo. É uma faceta menos conhecida, razão para que seja o palco final da rota.

 

 

 

 

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