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Inquilinos: proposta do Governo para as rendas “é uma lei para criar devedores”

Os inquilinos estão contra a proposta de lei do Governo para proteger o arrendamento na sequência do estado de emergência. Dizem que não protege inquilinos nem senhorios e que obriga as pessoas a endividarem-se, não lhes dando tempo para recuperar das previsíveis quebras de rendimento.

Despejos que coloquem habitação em risco devem ser suspensos, defendem representantes dos inquilinos.
Sérgio Lemos
31 de Março de 2020 às 19:33
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Não protege devidamente os inquilinos, deixa os senhorios com dívidas em mãos e protege rendas especulativas. Em suma, é "uma lei que não serve a ninguém e que apenas vai criar devedores". Depois de a Associação Lisbonense de Proprietários ter esta terça-feira tecido fortes críticas à proposta de lei do Governo para a proteção do arrendamento em tempos de pandemia, também a Associação de Inquilinos Lisbonenses (AIL) faz uma apreciação negativa do documento preparado pelo Executivo.

Para a AIL, a questão devia ser resolvida através de um financiamento ao senhorio. "O que defendemos é que, se há quebra de rendimento, os proprietários devem ter direito a um apoio a fundo perdido", afirma António Machado, secretário-geral. E, mais, tais apoios deveriam "deixar de fora os fundos de investimento, bancos, companhias de seguro e especuladores em geral, que esses tem forma de encaixar as perdas", sublinha.

A proposta, entregue esta segunda-feira no Parlamento, cria um regime excecional para as situações de mora no pagamento da renda devida nos contratos de arrendamento urbano habitacional e não habitacional. Basicamente, prevê que os inquilinos que tenham fortes quebras de rendimento possam deixar de pagar a renda durante os meses em que vigore o estado de emergência e no primeiro mês subsequente. Além disso, terão depois um ano para pagar os valores em dívida, "em prestações mensais não inferiores a um duodécimo do montante total, pagas juntamente com a renda de cada mês". Só no fim desse ano, caso a divida não esteja saldada, é que os senhorios poderão pôr um fim ao contrato de arrendamento.

Por outro lado, o Governo cria também a possibilidade de as pessoas se financiarem através de empréstimos junto do Instituto da habitação e Reabilitação Urbana. E essa possibilidade serve para os inquilinos, mas também para os senhorios, caso os arrendatários não o façam e não paguem a renda atempadamente. Para poderem beneficiar de empréstimo, os senhorios terão também de provar que tiveram uma quebra de rendimentos superior a 20% por terem deixado de receber as rendas.

Ora, critica António Machado, secretário-geral da AIL, "esta proposta de lei vem determinar que os senhorios , todos, vão receber de uma forma ou de outra as rendas por inteiro sem contribuir de nenhuma forma para a perda de rendimentos".

Por outro lado, a proposta do Governo parte do princípio que um mês após ser decretado o fim do estado de emergência "tudo estará estabilizado e se voltam a poder pagar as rendas normais", alerta o representante da AIL. Lembrando que vai haver muitas pessoas com perdas de rendimentos e que os não recuperarão tão cedo, António Machado defende que "devia haver um período de adaptação superior".

A AIL "não defende que os inquilinos não paguem as rendas", mas lembra que estamos "perante um problema social" e que "havendo quebras de rendimento, com este mecanismo as pessoas só vão acabar por se endividar". Ou seja, "deve ser financiado o senhorio", sendo que "o senhorio particular que vive das rendas é que nos preocupa, não são os fundos de investimento ou os bancos. Esses têm poder de encaixe. Os pequenos senhorios que têm uma ou duas casas arrendadas, esses é que têm de ser protegidos", defende António Machado.

De acordo com a proposta do Governo, os senhorios "podem pedir um financiamento, mas depois, ou aguardam que o inquilino possa pagar tudo por inteiro ou então terão de ser eles próprios a pagar do seu bolso".

O facto de ainda não se saber como será o procedimento – haverá ainda uma portaria e um regulamento emitido pelo IHRU – também traz preocupações, já que o mercado "tem muitas diversidades".  Além de não ter um projeto "que considere as diversidades do mercado", o Governo opta por "proteger toda a gente, ou seja, os especuladores também". Esta proposta, remata"não serve".

A proposta de lei do Governo será debatida no Parlamento na próxima quinta-feira.

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