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OCDE: Motor da economia europeia perde velocidade com desaceleração global
O PIB alemão deve crescer 1,3% este ano, uma décima abaixo do registado em 2015 e bem aquém do previsto por Berlim. Mais investimento em infraestruturas e em programas de acolhimento dos refugiados é recomendado.
A Alemanha, o motor da economia europeia, deverá ser negativamente afectada pela fragilidade da retoma que se observa na Zona Euro e pela desaceleração em curso nos mercados emergentes, designadamente na China, um dos principais destinos das exportações alemãs.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que divulgou nesta terça-feira, 5 de Abril, o relatório anual sobre o país, o PIB alemão deve crescer 1,3% neste ano, uma décima abaixo do registado em 2015 e quatro décimas aquém da previsão de Berlim, devendo voltar a acelerar para 1,7% em 2017. O crescimento das exportações deverá abrandar significativamente, de 4,8% no ano passado para 1,6% neste ano, antes de subir para 3,6% no próximo.
O excedente corrente da Alemanha "continua a ser amplo", na casa dos 6% do PIB, e o país tem resistido à pressão global sobre o comércio com o aumento da procura interna. Mas "uma desaceleração mais acentuada da actividade em mercados emergentes e uma renovada fragilidade da actividade na área do euro poderia enfraquecer as exportações mais fortemente do que o previsto, afundar o investimento e afectar negativamente a confiança dos consumidores", alerta a organização com sede em Paris.
Neste contexto, a organização presidida por Angel Gurría insta os decisores políticos alemães a facilitar o acesso ao mercado de trabalho, nomeadamente para os migrantes, o que poderia ajudar a compensar os impactos decorrentes do envelhecimento da população, avisando que a plena integração dos refugiados no mercado de trabalho exigirá "esforços adicionais e gastos que podem exceder o espaço orçamental actualmente disponível actualmente".
A maior economia europeia terá fechado as contas de 2015 com um excedente orçamental de 12,1 mil milhões de euros, aproximadamente o dobro do previsto no Orçamento federal. Dado o enorme afluxo de migrantes, em vez de o excedente ser integralmente canalisado para abater à dívida pública, metade será aplicado no reforço do financiamento dos programas de acolhimento de refugiados. Não obstante a pressão financeira decorrente da recepção de mais de um milhão de refugiados ao longo do último ano, Berlim acredita que as contas públicas possam, pelo terceiro ano consecutivo, voltar a ser fechadas em 2016 em equilíbrio ou com um ligeiro excedente orçamental. O instituto económico DIW espera, no entanto, que os gastos do Estado com os refugiados subam para 15 mil milhões de euros em 2016 e para 17 mil milhões no ano seguinte.
A OCDE renova ainda as críticas às barreiras regulamentares de acesso a várias profissões, em especial no sector dos serviços, argumentando que estas constituem um travão à produtividade. Embora o governo da chanceler Angela Merkel esteja a intensificar os gastos com infra-estrutura de transporte, o investimento público permanece fraco, especialmente nos municípios mais pobres, acrescenta a OCDE.