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FMI contraria Centeno e diz que Itália pode contagiar economias mais frágeis
A instituição liderada por Christine Lagarde considera que o desafio de Itália às regras europeias poderá reagravar a incerteza sobre a integridade da Zona Euro, o que, por seu lado, pode gerar um contágio às economias mais frágeis do bloco da moeda única. Centeno e Moscovici têm vindo a afastar a existência de qualquer risco de contágio.
A incerteza provocada pelo braço-de-ferro entre Itália e Bruxelas quanto às metas orçamentais do executivo transalpino pode repercutir-se negativamente na Zona Euro com o contágio às economias menos robustos da moeda única, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No Regional Economic Outlook sobre a Europa publicado esta quinta-feira, 8 de Novembro, o Fundo começa por recordar que, em Outubro, os juros da dívida soberana transalpina a 10 anos escalaram para máximos de quatro anos devido à incerteza em torno do projecto orçamental do governo de coligação entre o 5 Estrelas e a Liga.
A instituição liderada por Christine Lagarde alerta depois que é real o risco de contágio da situação italiana a outros países da Zona Euro, designadamente às económicas mais frágeis.
"Até agora, o contágio a outros mercados foi relativamente contido, mas existe uma incerteza considerável e a propagação de futuras tensões poderá ser notório, especialmente para economias com fundamentais macroeconómicos mais frágeis e políticas de amortecimento mais limitadas."
Ou seja, países com elevadas dívidas públicas como é o caso de Portugal e da Grécia poderão ser os primeiros a ser atingidos caso se agrave a desconfiança dos investidores sobre a capacidade de Itália para fazer face aos seus compromissos financeiros.
O Fundo defende que os países europeus devem dar prioridade à adopção de medidas com vista à redução dos défices orçamentais em linha com os respectivos objectivos de médio-prazo e à diminuição das dívidas públicas em termos nominais. E deixa novo aviso a Itália: "a urgência é maior em países com vulnerabilidades significativas, como Itália e a Turquia".
Estes avisos do FMI contrariam as mensagens de tranquilidade que vêm sendo transmitidas por dirigentes europeus como Mário Centeno, líder do Eurogrupo, ou Pierre Moscovici, comissário para os Assuntos Económicos.
Em 16 de Outubro, quando o governo transalpino já havia aprovado uma proposta orçamental que agrava o défice e aumenta a despesa, o também ministro português das Finanças garantia que a situação em Itália "não apresenta riscos porque é nosso parceiro".
"O euro é muito resiliente e muito forte para poder ser perturbado pelo Orçamento do Estado de um dos seus Estados-membros", disse então Centeno. Na mesma linha, dias depois Moscovici afirmava que "não tememos risco de contágio do spread [da dívida] da Itália".
Já esta quinta-feira, o político francês insistiu na tecla de que as regras europeias são para cumprir e Itália respondeu, pela voz do ministro das Finanças, Gioavanni Tria, lamentando que Bruxelas persista em fazer uma análise "não atenta e parcial" do esboço orçamental transalpino "apesar das informações e dos esclarecimentos dados" por Roma.
A Comissão Europeia já tinha sinalizado que as novas projecções económicas do governo italiano eram demasiado optimistas e hoje confirmou essa perspectiva. Nas previsões de Outono hoje reveladas, o órgão executivo da União Europeia antecipa um crescimento do PIB transalpino de 1,1% em 2019, bem abaixo dos 1,5% previstos por Roma. Esta sexta-feira, Centeno, na qualidade de presidente do Eurogrupo, viaja até Roma para tentar conciliar as posições de Bruxelas e das autoridades transalpinas.
Relativamente ao conjunto da UE, o Fundo antevê agora um crescimento menos robusto e identifica maiores riscos.