Notícia
Défice externo quase duplica no primeiro semestre
O bom desempenho do turismo está a ser insuficiente para compensar o forte aumento das importações de mercadorias. Na balança de bens o défice equivale a quase 6% do PIB.
As contas externas portuguesas continuam a dar sinais negativos, com o défice conjunto das balanças corrente e de capital a manter em Junho o ritmo de agravamento do mês anterior.
De acordo com os dados da Balança de Pagamentos publicados esta segunda-feira, 21 de Agosto, pelo Banco de Portugal, o défice externo situou-se no primeiro semestre nos 685 milhões de euros. Até Abril o saldo era positivo (823 milhões de euros) e nos primeiros cinco meses do ano passou para sinal negativo (-337 milhões de euros).
O agravamento em Junho atirou o défice conjunto das balanças corrente e de capital para 685 milhões de euros (-0,7% do PIB) no primeiro semestre deste ano, um valor que quase duplica o saldo também negativo registado no mesmo período de 2016 (-356 milhões de euros, ou 0,4% do PIB).
Segundo o Banco de Portugal, este desempenho negativo é explicado pela evolução nas balanças de bens e de rendimento primário.
Balanças corrente e de capital com défice de €685 milhões até junho #estatísticas https://t.co/fv2k0fSG2b pic.twitter.com/PQLwzg54kJ
— Banco de Portugal (@bancodeportugal) 21 de agosto de 2017
Aumento das importações penaliza. Turismo compensa
A balança de bens e serviços continua a apresentar um saldo positivo (713 milhões de euros), mas o aumento mais forte nas importações de mercadorias levou a que o excedente comercial recuasse em 412 milhões de euros. Um valor que explica a diferença entre o défice externo da primeira metade deste ano e de 2016.
O "aumento do excedente da balança de serviços em 825 milhões de euros foi insuficiente para compensar o aumento do défice da balança de bens", refere o Banco de Portugal.
A melhoria na balança de serviços (o excedente supera os 6 mil milhões de euros, ou 6,5% do PIB) continua a verificar-se sobretudo à custa do turismo. Na rubrica "Viagens e Turismo" o excedente aumentou 808 milhões de euros, fixando-se em 3.953 milhões de euros.
Quanto à balança de bens, o défice agravou-se mais de mil milhões de euros, para 5,3 mil milhões de euros, o que equivale a 5,7% do PIB (mais 1,2 pontos percentuais do que no período homólogo).
Esta deterioração é explicada pelo facto de as importações de mercadorias terem crescido 14,7% no primeiro semestre, o que corresponde a um ritmo mais forte do que o verificado nas exportações (+12,1%).
O forte crescimento das importações deve-se também ao bom desempenho da economia nacional, que no primeiro semestre deste ano cresceu (+2,8%) ao ritmo mais forte da última década. A aceleração do crescimento económico tende a reflectir-se no aumento mais forte das importações, pois impulsiona a compra de mais bens produzidos no exterior, como por exemplo automóveis no caso das famílias e maquinaria no caso das empresas.
No que diz respeito às restantes balanças que permitem apurar o valor do défice externo, desequilíbrio da balança de rendimento primário aumentou 211 milhões de euros, devido "à redução de subsídios recebidos da União Europeia e ao aumento do défice da balança de rendimentos de investimento".
Já o saldo da balança financeira registou uma redução dos activos líquidos de Portugal sobre o exterior no valor de 193 milhões de euros, que é "explicada essencialmente pelo aumento de passivos do sector das sociedades não financeiras, associado sobretudo a operações de investimento directo.
Balança de pagamentos
A balança de pagamentos regista as transacções que ocorrem num determinado período de tempo entre residentes e não residentes numa determinada economia. Essas transacções são de natureza muito diversa encontrando-se classificadas em três categorias principais:
- balança corrente, que regista a exportação e importação de bens e serviços e os pagamentos e recebimentos associados a rendimento primário (ex: juros e dividendos) e a rendimento secundário (ex: transferências correntes);
- balança de capital, que regista as transferências de capital (ex: perdão de dívida e fundos comunitários) e as transacções sobre activos não financeiros não produzidos (ex. licenças de CO2 e passes de jogadores);
- balança financeira, que engloba as transacções relacionadas com o investimento, nomeadamente investimento directo, investimento de carteira, derivados financeiros, outro investimento e activos de reserva.