Notícia
Consumo privado e investimento dinamizam PIB trimestral
A procura interna, nomeadamente o consumo e o investimento, explicam o aumento do PIB no segundo trimestre face aos primeiros três meses do ano. O contributo das exportações foi mais baixo. É no investimento que está a principal explicação para esta evolução.
A actividade económica em Portugal aumentou 1,1% no segundo trimestre deste ano face a igual período do ano anterior fundamentalmente determinada pela procura interna, uma vez que o contributo das exportações líquidas diminuíram, revela o INE esta sexta-feira, confirmando a estimativa rápida anterior. Comparativamente a igual período do ano anterior o PIB caiu 2,1%, uma valor marginalmente mais elevado do que o apresentado na estimativa rápida.
O crescimento de 1,1% do PIB é determinado pela procura interna em 0,8 pontos percentuais e pela externa em apenas 0,3 pontos percentuais. O consumo privado e o investimento aumentaram no segundo trimestre quando se compara com os primeiros três meses do ano 0,4% e 3,3%, tendo sido o investimento o agregado que mais contribuiu para esta evolução positiva do PIB no segundo trimestre e, consequentemente, para uma quebra menos acentuada quando se compara com o igual período do ano anterior.
A redução menos acentuada do consumo e sobretudo do investimento, acompanhado pelo aumento das importações explicam a alteração nos contributos para a evolução do PIB no segundo trimestre. As exportações de bens e serviços apresentaram uma “variação em cadeia elevada” e “aceleraram significativamente” em termos homólogos , nas afirmações do INE, mas o seu contributo para a evolução do PIB diminuiu por causa das importações.
O contributo negativo da procura interna para a evolução do PIB passou de menos 6,1 pontos percentuais nos primeiros três meses do ano para menos 2,1 pontos percentuais no segundo trimestre deste ano. Em contrapartida, a procura externa líquida (exportações menos importações de bens e serviços ponderados pelo seu peso relativo no PIB) passou de mais 1,9 pontos percentuais para mais 0,4 pontos percentuais. Dinâmica que foi determinada pelo aumento das importações.
Investimento com evolução inconclusiva devido ao mau tempo
O comportamento do investimento (formação bruta de capital fixo) foi o que mais participou na evolução do PIB no segundo trimestre deste ano. Quando se compara com igual período do ano anterior, reduziu-se 2,3%, quando no primeiro trimestre essa diminuição tinha sido de 15,9%. No comportamento em cadeia, o aumento é de 3,3%, sendo importante sublinhar que já existiram outros trimestres com essa evolução positiva trimestre a trimestre.
O comportamento do investimento recomenda contudo alguma prudência que se consegue perceber pela descrição que o INE faz do comportamento das suas componentes. Factores como o mau tempo no primeiro trimestre, tal como referido pelo ex-ministro das Finança, acontecimento únicos como importação de aeronaves, os níveis muito baixos de compra de automóveis em 2012 e ainda a acumulação de existências não permitem concluir que se esteja perante uma recuperação do investimento que venha a ter continuidade.
O INE, quando se debruça sobre a evolução do investimento (FBCF), começa por referir “que o contributo da variação de existências para a variação homóloga di PIB foi positivo no segundo trimestre, após ter sido nulo no trimestre anterior, reflectindo alguma acumulação de existências ao nível de bens importados”.
Quando à análise da evolução do investimento por componentes, verifica-se que foi a construção aquela que mais contribuiu para um comportamento menos negativo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) na construção passou de uma redução homóloga de 26,1% no primeiro trimestre para 13% no segundo.
O equipamento de transporte regista uma subida de 31,5% (mais 8,8% no primeiro trimestre) num comportamento que o INE ao “efeito de base resultante da expressiva diminuição verificada em igual período de 2012 (menos 35,3%) e ao impacto da importação de aeronaves, mais acentuado no segundo trimestre”.
Os acontecimentos únicos que parecem explicar esta evolução menos negativa do investimento não permitem, por isso, retirar uma conclusão definitiva sobre a solidez desta tendência no futuro.
Consumo privado em recuperação nos bens alimentares
O consumo privado, que deu também um contributo positivo para a evolução do PIB em cadeia), tem a sua evolução fundamentalmente sustentada no comportamento das despesas com bens alimentares e correntes em linha com o que foi esta semana divulgado pelos inquéritos das associações ao consumo.
Quando se analisa a evolução do consumo do primeiro para o segundo trimestre verifica-se que se está perante o primeiro crescimento desde o quarto trimestre de 2010. As despesas das famílias subiram 0,3% no segundo trimestre deste ano face aos três meses anteriores, quando estiveram a cair em cadeia durante nove trimestres consecutivos.
Em termos homólogos, o consumo privado diminuiu 2,6%, depois de uma redução de 4% no primeiro trimestre e de 5,6% no segundo trimestre de 2012. De acordo com o INE, esta “redução menos acentuada esteve associada sobretudo” ao comportamento dos bens não duradouros como alimentares e correntes que passaram de uma redução de 3,6% para 2,4% no segundo trimestre. Nos bens não duradouros a redução foi de 4,5%, quando tinha sido de 7,9% no primeiro trimestre
Contributo das exportações “comido” pelas importações
As exportações registaram um acentuado aumento no segundo trimestre deste ano, após um desempenho negativo nos primeiros meses do ano, mas o seu contributo para a evolução do PIB diminuiu devido à subida das importações.
Parte do desempenho das exportações, que cresceram 7,3% quando comprado com o segundo trimestre do ano passado, é contudo atribuído pelo INE ao “efeito Páscoa” que em 2012 foi em Abril e este ano em Março – ou seja em 2012 exportou-se menos no segundo trimestre pelo efeito dos feriados e este ano mais.
O impacto deste efeito Páscoa nas exportações está estimado pelo INE entre 1,5 a 2,5 pontos percentuais. Significa isto que retirado esse efeito, as exportações poderão ter crescido entre 4,8% e 5,8% em vez dos 7,3%. Mesmo expurgando esse impacto, as exportações mantêm-se com o aumento mais elevado desde quarto trimestre de 2012 (quando cresceram 8%).
O contributo das exportações para a evolução do PIB foi contudo mais baixo do que em anos anteriores devido ao aumento das importações. As compras ao exterior registaram um crescimento de 6,3% no segundo trimestre, oque não acontecia desde o primeiro trimestre de 2011 (altura em que Portugal pediu ajuda externa), sendo o mais elevado desde o quarto trimestre de 2010 (quando o aumento homólogo foi de 6,6%).
A conjugação destas duas evoluções fez com que o contributo da procura externa líquida se limitasse a 0,4%, o valor mais baixo do último ano.
Tal como as exportações podem estar afectadas por efeitos de calendário, o mesmo pode acontecer com as importações, verificando ainda acontecimentos únicos com a compra de aeronaves, referida pelo INE.
O contributo menos negativo da procura interna, nomeadamente do consumo privado e do investimento, é um dos aspectos a salientar na evolução do PIB no segundo trimestre e aquele que carece e maior confirmação nos semestres subsequentes. A reanimação do consumo privado nas suas componentes não duradouras e especialmente alimentar foi já esta semana referido pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).