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Troika quer uma Maria Luís igual a Gaspar
Continuidade nas políticas é a única exigências da troika na substituição no Ministério das Finanças
Será que Maria Luís Albuquerque consegue ser igual a Gaspar? Esta é talvez a maior interrogação e a principal exigência dos credores internacionais que não vêem com bons olhos a saída de Vítor Gaspar, mas que encontram na escolha da secretária de Estado sinais de uma provável continuidade nas políticas, o que apreciam.
Olli Rehn, Comissário Europeu para o Assuntos Económicos e Financeiros deixou claro o quanto gostava do ministro das Finanças e o que espera de Maria Luís: “Ele mostrou um compromisso firme com os objectivos do programa de ajustamento económico desde que entrou em funções em Junho de 2011. E ajudou a garantir a implementação de várias medidas difíceis mas necessárias para recuperar a confiança na sustentabilidade das contas públicas, num ambiente externo muito desafiante”, afirmou numa declaração enviada às redacções, onde continua: “Estou confiante que Maria Luís Albuquerque irá mostrar compromisso e determinação semelhantes”. E, por isso mesmo, “estou ansioso por trabalhar com ela na sua nova função e não tenho dúvidas que será capaz de garantir uma transição sem qualquer sobressalto”.
A importância da continuidade nas políticas é também evidenciada pelo FMI: “O compromisso das autoridades com os objectivos e a sua implementação permanecem os mesmos, assim como o nosso compromisso em ajudar o País a avançar no seu caminho para a retoma económica”, afirmou um porta-voz da instituição, acrescentando: “Esperamos continuar a nossa colaboração próxima com o Governo”.
Fontes não oficiais nas várias instituições que compõem a troika fazem uma primeira apreciação positiva da Maria Luís Albuquerque, confiando que ela conseguirá manter a coerência com a lógica do programa de ajustamento. E essa é a condição imposta pela troika ao Governo, especialmente num momento em que as dificuldades de implementação do programa são evidentes.
Maria Luís pode ajudar em novas pontes?
“Mais que a pessoa, o importante será manter a implementação do programa de acordo com o estabelecido”, vinca uma fonte europeia que reconhece que é difícil encontrar alguém que seja tão bem visto como Gaspar na esfera internacional, mas também que Vítor Gaspar evidenciava já dificuldades em fazer pontes políticas necessárias nesta fase mais exigente do programa de ajustamento.
A importância de desenhar novas pontes foi também referida por Olli Renh: “Portugal está a aproximar-se da fase final do seu programa. Muito foi conseguido em termos de consolidação das contas públicas, de recuperação da sustentabilidade financeira, e na adopção de reformas estruturais pela competitividade e criação de emprego”, afirma na declaração enviada ao Negócios, para logo de seguida deixar um aviso e uma expectativa: “No entanto, ainda subsistem desafios importantes, e um dos mais importantes passa por reduzir os níveis muito elevados de desemprego. É por isso que é essencial manter o ritmo das reformas e trabalhar para alargar o apoio ao programa, o que aumentará a confiança internacional na obtenção dos seus objectivos”.
Maria Luís Albuquerque não é uma estranha para a troika e isso joga a seu favor. Enquanto secretária de Estado foi a responsável por alguns dos principais dossiês do programa de ajustamento, onde se destacam a reforma do sector empresarial e a estratégia de regresso aos mercados, tutelando o IGCP, o organismo que gere a dívida pública e que operacionaliza a estratégia. Além disso já acompanhava Vítor Gaspar nas reuniões internacionais e esteve no centro das negociações com os parceiros europeus sobre a extensão das maturidades concedida pela União Europeia. Este sinal de continuidade é sublinhando pelo presidente do Eurogrupo.
Jeroen Dijsselbloem afirmou à Lusa que Vítor Gaspar era "um colega muito apreciado no Eurogrupo", acrescentando de seguida que Maria Luís Albuquerque "é bem conhecida" no Eurogrupo e que aguarda “com expectativa o reforço da cooperação no sentido da recuperação económica de Portugal". Outra fonte das instituições da troika que não pode ser identificado também sublinhou que o facto das equipas já conhecerem bem a nova ministra facilita a continuidade, sublinha.