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Nomura: “Portugal a caminho de uma saída limpa”

O banco de investimento divulgou hoje um relatório onde assume a saída limpa como cenário central. Decisão é justificada com a melhoria do sentimento do mercado, a actuação do BCE e factores políticos.

Miguel Baltazar/Negócios
30 de Abril de 2014 às 13:50
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“Numa altura em que o Governo português se prepara para anunciar a decisão sobre a pós-troika, até dia 4 de Maio, antecipamos agora uma saída limpa, contra a nossa expectativa anterior de um programa cautelar”, afirma o relatório divulgado hoje pelo Nomura, com o título

“Portugal: A caminho de uma saída limpa”.

 

Num relatório divulgado a 27 de Fevereiro, o banco de investimento ainda atribuía maior probabilidade ao recurso a uma linha de crédito cautelar com condições reforçadas. O que fez o banco mudar de opinião? “Os progressos na economia e no sentimento do mercado nos últimos meses, a situação política interna e na Europa, bem como os crescentes sinais em relação à possibilidade de o BCE avançar com novas medidas de expansão monetária inclinaram o pêndulo da balança para uma saída limpa, que é agora o nosso cenário central”. Aos argumentos junta-se ainda o elevado montante de pré-financiamento conseguido pelo Tesouro.

 

O Nomura salienta que desde o início do ano as condições de mercado para as obrigações portuguesas registaram uma melhoria significativa e estão agora mais normalizadas. O que “permitiu que Portugal tivesse emitido mais de sete mil milhões de euros em 2014, com uma participação significativa de investidores estrangeiros, e ainda realizar várias operações de troca e recompra”.

 

Juros de Portugal ao nível da Irlanda

“É importante notar que as taxas de juro exigidas a Portugal, em termos absolutos, estão praticamente ao mesmo nível que as da Irlanda quando optou por uma saída limpa”, salientam os analistas Lefteris Farmakis e Dimitris Drakopoulos. A “yield” dos títulos da República portuguesa a dez anos negoceiam com uma taxa implícita de 3,54%, o que compara com 3,64% nos títulos irlandeses a 14 de Novembro.

 

O relatório realça ainda o facto de os custos de financiamento Fundo Europeu de Estabilidade

É importante notar que as taxas de juro exigidas a Portugal, em termos absolutos, estão praticamente ao mesmo nível que as da Irlanda quando optou por uma saída limpa
 
Nomura

Financeira no mercado serem marginalmente mais baixos do que em Novembro, quando Dublin anunciou a sua decisão. Pelo que o acesso à linha cautelar não teria vantagens face às condições que estavam disponíveis para a Irlanda na altura. O Nomura conclui: “As condições actuais de acesso ao mercado são favoráveis em praticamente todas as variáveis, oferecendo um forte argumento a favor de uma saída limpa”.

 

Razões políticas

O enquadramento politico também favorece a dispensa do cautelar. “O fim do programa de ajustamento coincide com as eleições europeias e uma saída limpa representa uma vitória política para a coligação governamental”, escrevem os analistas. A opção por um programa cautelar, renovado pelo menos uma vez (o que daria um prazo total de dois anos), significaria que esse programa apanharia as próximas eleições legislativas. “Vemos poucas razões para assumir que o governo português teria um incentivo para prolongar a condicionalidade da União Europeia (e potencialmente do FMI) na corrida pra as eleições legislativas, sobretudo tendo em conta que os partidas da coligação estão atrás nas sondagens”.

 

A nível europeu, “os governos têm um incentivo para oferecer aos eleitorados uma nova história de sucesso na periferia”, diz o Nomura. A saída limpa dará força à noção de que a estratégia dos líderes da Zona Euro está a dar frutos.

 

O banco de investimento considera que as elevadas necessidades de financiamento de Portugal continuam a ser motivo de preocupação, apesar de o Tesouro ter acumulado uma almofada de tesouraria que permite cobrir  as necessidades dos próximos 12 meses. Sobretudo no que toca ao financiamento a partir de 2016. Nesse ano o Tesouro tem de “levantar” 16,4 mil milhões de euros, montante que cresce para 17 mil milhões em 2017 e para 17,8 mil milhões em 2018.

 

Preocupação que não impede o Nomura de continuar a recomendar a compra de obrigações portuguesas. Os analistas consideram existir ainda espaço para subida dos preços e queda das taxas implícitas, embora a um ritmo mais lento.

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