Notícia
Mais uma aula do Professor Anselmo
Anselmo Mendes deveria ser um professor ambulante do Minho aos Açores. Um país decente não pode desperdiçar o conhecimento deste enólogo a comemorar os 30 anos de carreira. E se não quiserem ir por aí, que ao menos um editor livreiro acorde. É o mínimo, caramba.
22 de Julho de 2017 às 13:00
No branco da Beira Interior (15€) sentimos uma combinação das notas minerais com lado cítrico.
O Dão Anselmo Mendes (9,5€) é o regresso aos tintos elegantes e acetinados.
E o Pardusco Private (20€) é uma provocação que encanta.
Se eu decidisse qualquer coisa em matéria de agricultura ou da educação do país (Deus nos livre e guarde), mandava erguer um centro de investigação vitícola assente na vida e obra do agrónomo Anselmo Mendes. Centro, escola, academia, o que fosse, que o nome é coisa que nada interessa a este minhoto terra-a-terra. Mas algo terá de ser, porque não é possível um país decente desaproveitar o conhecimento de quem há trinta anos estuda, por sua conta, castas, solos, climas, clones, altitudes, fermentações e tudo o mais que tem que ver com o universo vitivinícola. Não será o único a fazer tal coisa, mas, de forma permanente, com tal intensidade, tanta abrangência geográfica e, acima de tudo, resultados tão saborosos, não conheço outro.
Anselmo Mendes é conhecido como o "Sr. Alvarinho", mas isso é tão justo quanto curto, visto que as criações dele estendem-se do Minho à Bairrada, passando pelo Douro, pelo Dão, por Lisboa e pela ilha Terceira.
Quando Anselmo liga, já sei que vem aí a aula anual de viticultura e enologia. Aula séria, festiva, mas trabalhosa, porque absorver tudo o que ele vai dizer com vinhos à frente é obra! Um tipo pergunta: "Anselmo, quantos vinhos serão desta vez?" E ele: "Oh pá, não serão muitos. Serão os meus clássicos e umas brincadeiras que ando a fazer." Certo... Chego com camaradas de ofício ao restaurante Ode (Ribeira, Porto) e a mesa está totalmente forrada com copos. De novo a pergunta, mas com ligeira angústia: "Anselmo, vá lá, quantos vinhos?" "Ah, pois, quer dizer... uns quantos..." Se o leitor quer mesmo saber, eu, olhando hoje para os meus apontamentos, não consigo assegurar se foram 25 ou 30 vinhos. É que, a dada altura, aparecem sempre mais vinhos do que aqueles que estavam programados.
Ainda assim, os vinhos estavam integrados em nove marcas. Do clássico Muros de Melgaço provaram-se colheitas entre 2011 e 2016 que, mais uma vez, revelam que é um crime beber Alvarinhos novos. Com tempo, os vinhos de-senvolvem umas notas químicas fantásticas. E, como já tinha notado com Loureiros velhos de Anselmo Mendes (ainda que num perfil diferente), fico às vezes a pensar se estas castas não serão parentes afastadas da casta Riesling.
Feito desde 1998, o Muros de Melgaço é, por todas as experiências ao longo do tempo, e nas próprias palavras do enólogo, "o meu vinho mais afinado".
Seguiu-se aquele que é, neste momento, o vinho mais estudado pelo Prof. Anselmo, visto que, desde 2015, anda a avaliar 25 parcelas de vinhas entre Melgaço e Valença porque, lá está, acredita que cada tipo de solo introduz virtudes no vinho. Naquela noite, no Porto, provaram-se vinhos experimentais Alvarinho, de lotes de 40 garrafas cada (não disponíveis no mercado), provenientes de: 1) solos arenosos de granulometria grossa; 2) solos arenosos de granulometria fina; 3) aluvião com teor médio de argila, granítico com granulometria fina, granítico porfiróide e terraços de aluvião com pedra rolada. Apesar de tudo isto, em matéria de resultados, ainda estar longe de qualquer conclusão, a verdade é que foram perceptíveis "nuances" diferenciadas em termos de prova, que seguramente chegarão ao mercado dentro de alguns anos. Está o leitor agora a perceber o título da crónica? Conhece o leitor algum enólogo que se dedique a tais matérias com este grau de detalhe? Eu cá não.
Poderíamos ainda dissertar sobre vinhos curtimenta - o fabuloso Tempo - e um tinto que se faz no Douro com castas velhas aos molhos, mas, hoje, queremos recomendar um tinto Dão Anselmo Mendes 2015 (puro, elegante e genuíno como só noutros tempos se fazia), o Pardusco Private 2012 (nada existe de semelhante com a casta Sousão) e um fantástico branco Beira Interior Anselmo Mendes 2014, feito com Síria.
Certo dia, Anselmo foi convidado por um agricultor dos arredores de Belmonte para lhe dar uns conselhos sobre poda de pessegueiros velhos. Foi ao pomar dizer de sua justiça e, de caminho, assegurou a compra de uvas de uma vinha do agricultor, a preços bem acima do mercado. E assim, por causa dos pêssegos, nasceu um grande branco (sobre o pomar nada sabemos).
Ah, faltou falar dos açorianos Magma e Muros de Magma, mas tais vinhos, por razões atendíveis, justificam uma página inteira em próxima crónica. No mínimo.
O Dão Anselmo Mendes (9,5€) é o regresso aos tintos elegantes e acetinados.
E o Pardusco Private (20€) é uma provocação que encanta.
Se eu decidisse qualquer coisa em matéria de agricultura ou da educação do país (Deus nos livre e guarde), mandava erguer um centro de investigação vitícola assente na vida e obra do agrónomo Anselmo Mendes. Centro, escola, academia, o que fosse, que o nome é coisa que nada interessa a este minhoto terra-a-terra. Mas algo terá de ser, porque não é possível um país decente desaproveitar o conhecimento de quem há trinta anos estuda, por sua conta, castas, solos, climas, clones, altitudes, fermentações e tudo o mais que tem que ver com o universo vitivinícola. Não será o único a fazer tal coisa, mas, de forma permanente, com tal intensidade, tanta abrangência geográfica e, acima de tudo, resultados tão saborosos, não conheço outro.
Quando Anselmo liga, já sei que vem aí a aula anual de viticultura e enologia. Aula séria, festiva, mas trabalhosa, porque absorver tudo o que ele vai dizer com vinhos à frente é obra! Um tipo pergunta: "Anselmo, quantos vinhos serão desta vez?" E ele: "Oh pá, não serão muitos. Serão os meus clássicos e umas brincadeiras que ando a fazer." Certo... Chego com camaradas de ofício ao restaurante Ode (Ribeira, Porto) e a mesa está totalmente forrada com copos. De novo a pergunta, mas com ligeira angústia: "Anselmo, vá lá, quantos vinhos?" "Ah, pois, quer dizer... uns quantos..." Se o leitor quer mesmo saber, eu, olhando hoje para os meus apontamentos, não consigo assegurar se foram 25 ou 30 vinhos. É que, a dada altura, aparecem sempre mais vinhos do que aqueles que estavam programados.
Ainda assim, os vinhos estavam integrados em nove marcas. Do clássico Muros de Melgaço provaram-se colheitas entre 2011 e 2016 que, mais uma vez, revelam que é um crime beber Alvarinhos novos. Com tempo, os vinhos de-senvolvem umas notas químicas fantásticas. E, como já tinha notado com Loureiros velhos de Anselmo Mendes (ainda que num perfil diferente), fico às vezes a pensar se estas castas não serão parentes afastadas da casta Riesling.
Feito desde 1998, o Muros de Melgaço é, por todas as experiências ao longo do tempo, e nas próprias palavras do enólogo, "o meu vinho mais afinado".
Seguiu-se aquele que é, neste momento, o vinho mais estudado pelo Prof. Anselmo, visto que, desde 2015, anda a avaliar 25 parcelas de vinhas entre Melgaço e Valença porque, lá está, acredita que cada tipo de solo introduz virtudes no vinho. Naquela noite, no Porto, provaram-se vinhos experimentais Alvarinho, de lotes de 40 garrafas cada (não disponíveis no mercado), provenientes de: 1) solos arenosos de granulometria grossa; 2) solos arenosos de granulometria fina; 3) aluvião com teor médio de argila, granítico com granulometria fina, granítico porfiróide e terraços de aluvião com pedra rolada. Apesar de tudo isto, em matéria de resultados, ainda estar longe de qualquer conclusão, a verdade é que foram perceptíveis "nuances" diferenciadas em termos de prova, que seguramente chegarão ao mercado dentro de alguns anos. Está o leitor agora a perceber o título da crónica? Conhece o leitor algum enólogo que se dedique a tais matérias com este grau de detalhe? Eu cá não.
Poderíamos ainda dissertar sobre vinhos curtimenta - o fabuloso Tempo - e um tinto que se faz no Douro com castas velhas aos molhos, mas, hoje, queremos recomendar um tinto Dão Anselmo Mendes 2015 (puro, elegante e genuíno como só noutros tempos se fazia), o Pardusco Private 2012 (nada existe de semelhante com a casta Sousão) e um fantástico branco Beira Interior Anselmo Mendes 2014, feito com Síria.
Certo dia, Anselmo foi convidado por um agricultor dos arredores de Belmonte para lhe dar uns conselhos sobre poda de pessegueiros velhos. Foi ao pomar dizer de sua justiça e, de caminho, assegurou a compra de uvas de uma vinha do agricultor, a preços bem acima do mercado. E assim, por causa dos pêssegos, nasceu um grande branco (sobre o pomar nada sabemos).
Ah, faltou falar dos açorianos Magma e Muros de Magma, mas tais vinhos, por razões atendíveis, justificam uma página inteira em próxima crónica. No mínimo.