Notícia
O mais perigoso investimento do mundo
Uma investigação agora publicada revela e confirma as piores hipóteses sobre o mercado da arte global. A tomada de controlo pelos fundos financeiros, a evasão fiscal e a especulação total são apenas algumas das dimensões analisadas num livro demolidor.
06 de Janeiro de 2018 às 09:00
O topo do mercado global da arte é determinado por valores financeiros e regras que há muito abandonaram qualquer racional. Esta é a análise mais objectiva e mais imediata que qualquer observador atento faz do circuito no século XIX. De facto, a observação ano após ano da escalada do preço das obras de arte mais valiosas transaccionadas em leiloeiras, feiras e galerias, mas especialmente no primeiro sector referido, mostra que não há nada que sustente as dezenas e centenas de milhares de euros pagos, a não ser, claro, o fundamento clássico de que a procura assim o deseja, e tem capacidade financeira para sustentar os níveis todas as semanas superados.
No entanto, os racionais de sustentação de um mercado em aceleração permanente existem, por mais tortuosos, imateriais e especulativos que sejam. O grande problema para os investidores e para os observadores atentos é que conhecer o processo de construção e aceitação pelos mercados dos racionais referidos exige o conhecimento e o poder de investigação de um verdadeiro "insider".
Felizmente para todos nós, Georgina Adam é esse "insider", o que faz com que o seu livro, agora publicado, esteja a ser alvo da mais estrondosa e global comunicação. "Dark Side of the Boom: The Excesses of the Art Market in the 21st Century" é, antes de tudo o mais, um trabalho de investigação de uma perita com grande conhecimento, ganho com décadas de trabalho como directora do Art Newspaper. A investigação, feita no terreno, e a partir de um acesso do mais alto nível, a investidores, leiloeiros, galeristas e artistas, mas também magistrados, fiscalistas, banqueiros, advogados e juízes, procura, exactamente, revelar as causas do estado alucinante do mercado.
As informações obtidas por Georgina Adam não são bonitas. Uma das mais importantes é a incorporação da arte, no segmento mais valioso, dos velhos mestres aos contemporâneos mais mediáticos, no mercado de investimento, ou, escrito de outro modo, a transformação de um bem com valor estético e patrimonial, num objecto de puro investimento especulativo. A partir daqui, revela Adam, são percorridos uma série de caminhos extremamente sinuosos, que começam na aquisição das obras por fundos de investimento e percorrem pontos como os da isenção fiscal, dos paraísos fiscais e da total ausência de controlo das transacções. Por sua vez, estes caminhos desembocam noutros ainda mais obscuros e obviamente inacessíveis aos investidores e amantes de arte comuns, como são os da lavagem de dinheiro, da propriedade secreta das obras, e da especulação intencional em torno de artistas e obras.
Todos estes caminhos, mostra a autora com grande autoridade, desencadeiam fenómenos extremamente complexos, como são a pressão sobre os artistas para produzirem em série, a fragilidade dos sistemas de autenticação de obras, especialmente das mais antigas, e, obviamente, a falsificação sofisticada. A investigação de Georgina Adam ao "dark side" da arte global é, assim, uma revelação sustentada e alargada de algumas hipóteses que têm vindo a ser levantadas por peritos e académicos nos últimos anos. A primeira é a do voo permanente dos agentes do capital global sobre os bens artísticos, gerando, também neste lugar do mundo, uma desigualdade gritante e cada vez mais acentuada. A segunda é a da total inacessibilidade do topo do mercado ao investidor vulgar. A terceira, a mais cruel, é a do desaparecimento do mercado da arte como um mercado assente numa razão estética e histórica.
Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.
No entanto, os racionais de sustentação de um mercado em aceleração permanente existem, por mais tortuosos, imateriais e especulativos que sejam. O grande problema para os investidores e para os observadores atentos é que conhecer o processo de construção e aceitação pelos mercados dos racionais referidos exige o conhecimento e o poder de investigação de um verdadeiro "insider".
As informações obtidas por Georgina Adam não são bonitas. Uma das mais importantes é a incorporação da arte, no segmento mais valioso, dos velhos mestres aos contemporâneos mais mediáticos, no mercado de investimento, ou, escrito de outro modo, a transformação de um bem com valor estético e patrimonial, num objecto de puro investimento especulativo. A partir daqui, revela Adam, são percorridos uma série de caminhos extremamente sinuosos, que começam na aquisição das obras por fundos de investimento e percorrem pontos como os da isenção fiscal, dos paraísos fiscais e da total ausência de controlo das transacções. Por sua vez, estes caminhos desembocam noutros ainda mais obscuros e obviamente inacessíveis aos investidores e amantes de arte comuns, como são os da lavagem de dinheiro, da propriedade secreta das obras, e da especulação intencional em torno de artistas e obras.
Todos estes caminhos, mostra a autora com grande autoridade, desencadeiam fenómenos extremamente complexos, como são a pressão sobre os artistas para produzirem em série, a fragilidade dos sistemas de autenticação de obras, especialmente das mais antigas, e, obviamente, a falsificação sofisticada. A investigação de Georgina Adam ao "dark side" da arte global é, assim, uma revelação sustentada e alargada de algumas hipóteses que têm vindo a ser levantadas por peritos e académicos nos últimos anos. A primeira é a do voo permanente dos agentes do capital global sobre os bens artísticos, gerando, também neste lugar do mundo, uma desigualdade gritante e cada vez mais acentuada. A segunda é a da total inacessibilidade do topo do mercado ao investidor vulgar. A terceira, a mais cruel, é a do desaparecimento do mercado da arte como um mercado assente numa razão estética e histórica.
Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.