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Uma prancha de Skate contra Trump

Um projecto de dois artistas de topo no mercado global mostra que a arte continua envolvida na luta política e que a prancha de skate é cada vez mais um bem a ter em conta pelos investidores.

27 de Maio de 2017 às 13:00
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Donald Trump pode ser combatido com uma prancha de skate. Ou, sendo mais pormenorizado, Trump pode ser combatido pela arte fixada numa prancha de skate. Pelo menos é esta a crença de dois dos mais mediáticos artistas contemporâneos, Ai Weiwei e Shepard Fairey, e de duas plataformas virtuais de venda de arte, a Artspace, www.artspace.com, e a The Skateroom, www.theskateroom.com.

Os artistas e os galeristas referidos criaram duas séries limitadas a partir de trabalhos seus, Ai Weiwei com fotografia, Shepard Fairey com pintura, que fixaram em pranchas de skate. Cada uma das peças ronda os mil euros, e está agora disponível para venda nas duas plataformas. Há várias dimensões interessantes a anotar neste projecto. A primeira é obviamente a da renovação da arte como instrumento de luta e activismo político.

Declaradamente anti- Trump, Ai e Fairey, como a esmagadora maioria dos seus pares no mundo inteiro, acreditam terem a missão de impedir o mundo de esquecer quem é Trump e como é perigoso tê-lo como líder americano. Assim, os trabalhos dos dois artistas são particularmente fortes na mensagem anti-Trump, especialmente o do criador chinês, aliás desde sempre envolvido na luta política, que é um dos sustentáculos do seu trabalho.

Uma segunda dimensão é a do preço reduzido das peças, mesmo estando em causa uma série, se tivermos em conta que são dois artistas com cotação alta, e o momento actual do mercado global de arte. Ou seja, há uma intenção dos criadores e das galerias de tornar as peças acessíveis, em nome, exactamente, do objectivo político da iniciativa. Mas talvez a dimensão mais curiosa seja a da validação da prancha de skate como superfície de arte.

É claro que na origem está a própria estrutura do objecto, a prancha permite a fixação e exibição de arte, mas o mais importante é que o skate conseguiu nunca ser apenas classificado como desporto ou actividade, mantendo um estatuto cultural de prática subversiva, de prática de combate a valores, normas e culturas dominantes.

É este estatuto que tem levado a que haja vários movimentos que fixam a prancha não só como a ferramenta da prática, mas como um objecto onde pode ser impressa uma manifestação. Temos assim os pintores de pranchas que pintam objectos únicos ou séries muito limitadas, "writers" de "street-art" que apostam no meio, e artistas visuais que procuram a prancha como uma superfície alternativa para alguns dos seus projectos.

Como demonstram os vários exemplos que têm surgido nos últimos anos, se assim é, então a prancha de skate é a superfície ideal para criar arte e expressar e partilhar uma ideia. O que este movimento provocou, nos últimos anos, é que, no mercado global, a prancha passou de objecto totalmente periférico a bem a ser tido muito em conta pelo mercado. É uma evolução notável, claro.


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.

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